Dados do Trabalho
Título
O IMPACTO DO EXPLANTE DE SILICONE EM PACIENTES PORTADORAS DE SINTOMAS PROVAVELMENTE RELACIONADOS AOS IMPLANTES MAMARIOS
Resumo
A mamoplastia de aumento é uma das cirurgias mais realizadas no mundo e no Brasil ocupa o segundo lugar do ranking de procedimentos cirúrgicos mais comuns, ficando atrás somente da lipoaspiração. Mas nos últimos anos notou-se um aumento na demanda de cirurgias para explante de próteses de silicone. Segundo dados da International Survey on Aesthetic/Comestic Procedures (ISAPS) houve um aumento deste procedimento de 2018 a 2022, ocupando atualmente a posição de décima quarta cirurgia plástica estética mais realizada no mundo. Os motivos variam desde a necessidade, como em casos de contratura capsular, ruptura, rotação, seromas, até a precaução como em caso de pacientes com histórico de doenças autoimunes e desenvolvimento de quadro clínico sugestivo de doenças relacionadas a prótese de silicone.
Introdução
O explante mamário ganhou notoriedade acentuada nos últimos anos com a propagação de informações sobre o linfoma BIA-ALCL (Breast Implant Associated Anaplastic Large Cell Lymphoma) e doenças inflamatórias/autoimunes relacionadas aos implantes, como a síndrome de ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants). A indicação de inclusão de próteses de silicone em pacientes com hipomastia ou para outros tipos de mamoplastia estética, muitas vezes traz consigo uma reabordagem futura com desafios para devolver às mamas uma formato anatômico e esteticamente favorável associando o explante (2).
Queixas inespecíficas como artralgia, mialgia e fadiga em pacientes com implantes mamários de silicone receberam nomes diferentes: doença adjuvante humana ou doença mamária adjuvante, complexo de sintomas relacionados ao silicone, siliconose e, mais recentemente, síndrome ASIA devido à síndrome de incompatibilidade de implantes de silicone (SIIS) . Nestes pacientes, postula-se que o silicone atue como adjuvante do sistema imunológico, resultando em inflamações, doenças autoimunes, imunodeficiências e/ou alergia. Em busca de uma terapia eficaz para esses pacientes, é prática atual orientar os pacientes a serem submetidos ao explante de seus implantes (3).
Quando a paciente se encontra decidida pelo explante, é de suma importância um planejamento cirúrgico acordado de forma clara com a paciente, visando elucidar o impacto estético que isto pode gerar e alinhar as expectativas. Questionários podem ser aplicados no pós operatório visando estratificar o grau de satisfação com o resultado. Um exemplo é o BREAST-Q, um instrumento específico para avaliação do paciente dos resultados em cirurgia estética e reconstrutiva da mama. Existem atualmente quatro módulos (redução das mamas, mamoplastia de aumento, reconstrução e mastectomia sem reconstrução), cada um incluindo um núcleo de escalas independentes que avaliaram seis domínios: satisfação com os seios, a satisfação com o resultado geral, o bem-estar psicossocial, o bem-estar sexual, o bem-estar físico e a satisfação com o atendimento (4).
Objetivo
O objetivo deste estudo foi compreender o quanto o explante mamário interferiu nos sintomas desenvolvidos a partir da inclusão de próteses de silicone.
Método
Trata-se de uma revisão integrativa, um estudo retrospectivo, utilizando como base de dados a PUBMED (US National Library of Medicine/ National Institute of Health) atráves das ferramentas Mesh (Medical Subject Headings) com os descritores: “ Breast ilness“; “explant”. Com filtros, foram aplicados: “Free full text” e publicações no período de 2020 a 2024.
Resultado
Através dos MeSh terms utilizados associados aos filtros, foram obtidos vinte e sete resultados. Destes, dezenove artigos foram relevantes e lidos na íntegra.
Discussão
Desde a sua introdução no mercado em 1962, os implantes mamários de silicone foram objeto de debate internacional. De 1992 a 2006, a Food and Drug Administration (FDA) restringiu o uso de implantes mamários de silicone devido à controvérsia sobre sua segurança e às preocupações sobre sua associação com sintomas sistêmicos e supostas doenças autoimunes (5). Mas isso não interferiu no fato de que a mamoplastia de aumento se tornou a segunda cirurgia plástica estética mais feitas no mundo (1).
À medida que o número de pacientes que possuem implantes mamários continua a aumentar, também aumenta o número daqueles que solicitam a remoção sem substituição (6). Segundo dados da International Survey on Aesthetic/Comestic Procedures (ISAPS) houve um aumento do número de cirurgias de explante mamário de 54.6% entre 2018 e 2022 e de 26.5% do ano de 2021 para 2022 (1).
Uma explicação para este evento é a busca pelas próprias pacientes motivadas por queixas como receio de patologias associadas, descontentamento estético, desconforto nas mamas, sintomas sistêmicos, desejo de não ter mais implantes, contratura capsular, rotação ou rotura (7).
A pergunta mais importante a ser feita no explante é sobre a remoção da cápsula fibrosa do implante. A segunda questão importante é se os pacientes necessitam ou desejam procedimentos adicionais após o explante. Essas cirurgias incluem capsulotomia, capsulotomia parcial versus total versus em bloco e com procedimentos estéticos ou reconstrutivos adjuvantes, incluindo enxerto de gordura, mastopexia e reconstrução com retalhos (8).
A doença dos implantes mamários (BII) é um conjunto de mais de 56 sintomas (sistêmicos) atribuídos pelos pacientes. O BII continua a ser um diagnóstico médico não oficial, embora os seus sintomas incluam, entre outros, as manifestações clínicas da síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes (ASIA) (9).
Estudos realizados ao redor do mundo evidenciaram uma melhora significativa dos sinais e sintomas desenvolvidos durante o uso da prótese de silicone após o explante (Tabela 1).
Embora séries publicadas anteriormente tenham observado melhora sintomática geral após a remoção do implante mamário, faltam estudos que avaliem mudanças em sintomas específicos ao longo do tempo (6).
Conclusão
A cirurgia de explante mamário conquistou seu espaço na lista do ISAPS em 2014 e desde então se consolidou como uma cirurgia estética cada vez mais solicitada. A medida se tornou uma possibilidade de melhora do quadro clínico desenvolvido a partir da colocação de implantes de silicone e pode ser considerada como alternativa de tratamento.
Referências
1) PROCEDURES, A. ISAPS INTERNATIONAL SURVEY ON. Disponível em:
2) SANTOS, G. et al. Avaliação dos resultados estéticos e de qualidade de vida após tratamento cirúrgico do câncer de mama. Revista Brasileira de Mastologia, v. 23, n. 3, p. 60–68, 2013.
3) de Boer M, Colaris M, van der Hulst RRWJ, Cohen Tervaert JW. Is explantation of silicone breast implants useful in patients with complaints? Immunol Res. 2017 Feb;65(1):25-36. doi: 10.1007/s12026-016-8813-y. PMID: 27412295; PMCID: PMC5406477.
4) Cano SJ, Klassen AF, Scott AM, Cordeiro PG, Pusic AL. The BREAST-Q: further validation in independent clinical samples. Plast Reconstr Surg. 2012;129(2):293-302.
5) Administração. USFaD. FDA aprova implantes mamários preenchidos com gel de silicone após avaliação aprofundada. ]; Disponível em: http://www.
6) LAMPERT, JA et al. Moldar a mama com segurança após a remoção do implante e capsulectomia total intacta usando a técnica de elevação e fixação da imbricação mamária. Revista de cirurgia estética. Fórum aberto , v. 5, 2023.
7) AUGUSTINI, BB; CALAES, ILDE A demanda crescente pelo explante de silicone mamário: um novo cenário para cirurgia de mamas. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica , v. 1, 2022.
8) AKPOLAT, Y. et al. Características de imagem após cirurgia de explante de mama: um ensaio pictórico. Diagnostics (Basel, Suíça) , v. 13, pág. 2173, 2023.
9) Wee CE, Younis J, Isbester K, Smith A, Wangler B, Sarode AL, Patil N, Grunzweig K, Boas S, Harvey DJ, Kumar AR, Feng LJ. Understanding Breast Implant Illness, Before and After Explantation: A Patient-Reported Outcomes Study. Ann Plast Surg. 2020 Jul;85(S1 Suppl 1):S82-S86. doi: 10.1097/SAP.0000000000002446. PMID: 32530850; PMCID: PMC7294749.
10) MAIJERS, M. C. et al. Women with silicone breast implants and unexplained systemic symptoms: a descriptive cohort study. Disponível em:
11) Colaris MJL, de Boer M, van der Hulst RR, Cohen Tervaert JW. Two hundreds cases of ASIA syndrome following silicone implants: a comparative study of 30 years and a review of current literature. Immunol Res. 2017 Feb;65(1):120-128. doi: 10.1007/s12026-016-8821-y. PMID: 27406737; PMCID: PMC5406475.
12) Carvalho R, Lima AFS, Barreira J, Guedes V. Associação entre Implantes Mamários de Silicone e Doenças Autoimunes: Associação entre Implantes de Silicone Mamários e Doenças Autoimunes. Gaz Med [Internet]. 2017, 27 de setembro [citado em 20 de junho de 2024];3(4). Disponível em: https://www.gazetamedica.pt/index.php/gazeta/article/view/48
13) Marano AA, Cohen MH, Ascherman JA. Resolution of Systemic Rheumatologic Symptoms following Breast Implant Removal. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2020 May 26;8(5):e2828. doi: 10.1097/GOX.0000000000002828. PMID: 33154870; PMCID: PMC7605866.
14) Katsnelson JY, Spaniol JR, Buinewicz JC, Ramsey FV, Buinewicz BR. Outcomes of Implant Removal and Capsulectomy for Breast Implant Illness in 248 Patients. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2021 Sep 7;9(9):e3813. doi: 10.1097/GOX.0000000000003813. PMID: 34513545; PMCID: PMC8423394.
15) Miseré RML, van der Hulst RRWJ. Self-Reported Health Complaints in Women Undergoing Explantation of Breast Implants. Aesthet Surg J. 2022 Jan 12;42(2):171-180. doi: 10.1093/asj/sjaa337. PMID: 33252630; PMCID: PMC8756082.
16) Magno-Padron DA, Luo J, Jessop TC, Garlick JW, Manum JS, Carter GC, Agarwal JP, Kwok AC. A population-based study of breast implant illness. Arch Plast Surg. 2021 Jul;48(4):353-360. doi: 10.5999/aps.2020.02117. Epub 2021 Jul 15. PMID: 34352944; PMCID: PMC8342259.
17) VALENTE, D. S. et al. Explante de silicone mamário: um estudo longitudinal multicêntrico. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 37, n. 02, 2022.
18) Bird GR, Niessen FB. The effect of explantation on systemic disease symptoms and quality of life in patients with breast implant illness: a prospective cohort study. Sci Rep. 2022 Dec 6;12(1):21073. doi: 10.1038/s41598-022-25300-4. PMID: 36473891; PMCID: PMC9726875.
19) SERENA, TJ; HABIB, P.; DEROSA, A. Doença de implante mamário: um estudo de coorte. Cureus , v. 15, n. 4, 2023.
Palavras Chave
Implantes de silicone; Explante mamário; doença do silicone
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
SERVIÇO DE CIRURGIA PLÁSTICA DR. EWALDO BOLÍVAR DE SOUZA PINTO - São Paulo - Brasil
Autores
LARA DIAS CASTRO CAVALCANTE, HHERALDO CARLOS BORGES INFORZATO, PRISCILA CHIARELLO DE SOUZA PINTO ABDALLA, MARIANNA AUGUSTA SANSONI GOMES CARDOSO, AMANDA ALVES DE OLIVEIRA, JULIANA VICENTE TECHENTIN