60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

Torsoplastia para retirada de siliconoma

Resumo

O uso de silicone líquido industrial surgiu após a Segunda Guerra Mundial e de forma clandestina vem sendo aplicado em regiões corporais. As complicações do uso corporal indevido dessas susbtâncias provocam desde sinais locais como irregularidades, eritema, edema, até sinais infecções com secreção purulenta, ulcerações e em casos mais avançados podendo levar à septicemia e óbito. O tratamento clínico é realizado com corticoesteroides e, quando possível, retirada de material por técnicas cirúrgicas. Relata-se um caso de torsoplastia para retirada de silicone líquido industrial em regiões glúteas com resultados satisfatórios da sintomatologia clínica.

Introdução

O termo siliconoma foi criado por Winer et al em 1964, para descrever uma reação de corpo estranho1. No intuito de aumentar volume, corrigir irregularidades e melhorar o contorno corporal, o silicone líquido industrial tem sido utilizado há várias décadas de forma clandestina, tanto em mulheres como em homens ou transgêneros2. Inicialmente o silicone líquido industrial foi desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial para isolamento elétrico de aeronaves, no entanto, após o término da guerra seu uso se estendeu indevidamente para uso injetável no corpo. Sem o conhecimento prévio de suas repercussões, mais tarde foi evidenciado o impacto que este produto causava, como irregularidades, sinais flogísticos, ulcerações1 (Fig.1).

Objetivo

Este artigo visa mostrar proposta terapêutica de torsoplastia para complicações em região glútea em casos de aplicação clandestina de silicone líquido industrial, com melhora da sintomatologia.

Método

Relato de caso de paciente transgênero feminino, atendida no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal Barata Ribeiro, Rio de Janeiro. Foram levantados dados epidemiológicos, bem como história clínica, exames de imagem, procedimento cirúrgico e acompanhamento clínico pós-operatório.

Resultado

Paciente transgênero feminino, GLMA, 27 anos, sem comorbidades. Cirurgia prévia de implantes mamários. Histórico de injeção de silicone industrial em glúteos há cerca de 10 anos. Apresentava episódios repetidos de prurido, dor local, hiperemia, dificuldade para manter-se sentada por longos períodos, além de tratamentos com antibioticoterapia e corticoide pontuais (Fig.2).
Em exame de imagem por Ressonância Magnética evidenciava-se loja com material líquido em região glútea direita (Fig.3). Paciente foi submetida a torsoplastia para retirada parcial de siliconoma em julho/2023. Optou-se por incisão supra-glútea para acesso à cavidade glútea. Durante procedimento foi evidenciado grande quantidade de conteúdo líquido em região de subcutâneo, além de cápsula de moderado volume em região supero-medial de glúteo direito, adjacente à pele (Fig.4) Paciente fez uso de dreno à vácuo por 1 semana, sem intercorrências. Já nos primeiros 15 dias de pós-operatório, a paciente já demonstrava melhora significativa dos sintomas de prurido, hiperemia, endurecimento, fatos esses que perduram até os dias atuais conforme acompanhamento da paciente (Fig.5).

Discussão

O polidimetilsiloxano (silicone) é o nome químico dado ao composto para silicone líquido industrial, o qual apresenta impurezas em sua composição, além de liberar ácido acético quando transformado para aspecto mais sólido, causando os sinais flogísticos locais no tecido1.
Mais tarde, com o aparecimento destas complicações locais e sistêmicas esta prática foi suspensa em 1994 pelo FDA (Food and Drug Administration) e pela antiga DIMED (Divisão de Medicamentos) no Brasil3. Segundo Mello et al.3 também existem aplicações do silicone líquido associado a óleo de oliva, chamada de fórmula de Sakurai, para aumentar reação local e reduzir a migração da substância. As complicações do uso dessas substâncias variam desde sinais flogísticos como dor local, epidermólise, hiperemia, endurecimento do tecido subcutâneo, celulite, até abscessos, ulcerações, septicemia e óbito4. O silicone pode migrar para tecidos adjacentes e causar sintomatologia em áreas distante de onde foi aplicado o produto5. Mais ainda, há relato de casos que culminaram com edema pulomonar, pneumonite e aumento no risco de tumores malignos devido reação inflamatório6. O intervalo dessas manifestações varia muito, desde dias até vários anos, porém a média de tempo se dá entre 6 e 10 anos3. O tratamento clínico com corticoesteroides e antibioticoterapia reduz taxas de internação e sintomatologia, porém não leva a cura7. Embora já se tenha descrito técnicas de lipoaspiração guiada por ultrassom, que reduzem a quantidade de material líquido injetado, a proposta de ressecção cirúrgica em bloco ainda é uma alternativa considerada. Neste relato, há o quadro de uma paciente com histórico de aplicação de silicone líquido industrial em glúteos há 10 anos, evoluindo com quadros inflamatórios de repetição, além de prurido, dor local, incapacidade de ficar sentada por longos períodos. O exame de Ressonância Magnética evidenciava loja com produto em região glútea direita. A paciente foi submetida a uma torsoplastia para retirada de siliconoma tendo evoluído com melhora na qualidade e textura da pele, bem como quadros inflamatórios.

Conclusão

Nenhum tratamento é totalmente curativo quando se trata de infiltração difusa, porém o procedimento cirúrgico de excisão pode retirar quantidade vantajosa de produto de silicone industrial levando a melhora na qualidade de vida com menos sintomas e menos quadros de exacerbação.

Referências

1. Mendes M, Monteiro GGR, Bastos EFB, Milcheski DA, Monteiro AA, Gemperli R. Complicação grave do uso irregular de silicone industrial em paciente transexual: relato de caso. Rev. Bras. Cir. Plást. 2020; 35(3):358-362

2. Dornelas MT, Correa MPD, Barra FML, De Sá, CAC, Dornelas MC, Sant’Anna LL, Netto GM, Arruda FR. Siliconomas. Rev. Bras. Cir. Plást. 2011; 26(1): 16-21

3. Mello DF, Gonçalves KC, Fraga MF, Perin LF, Helene Júnior A. Complicações locais após a injeção de silicone líquido industrial – série de casos. Rev Col Bras Cir. 2013;40(1).

4. Bassetto F, Abatangelo S, Masetto L, Vindigni V. Ultrasoun-Assisted Liposuction as a Safe and Effective Method for the Removal of Siliconomas. Aesth Plast Surg. 2012;36:220-222.
Grippaudo FR, Spalvieri C, Rossi A, Onesti MG, Scuderi N. Ultrasound‐assisted liposuction for the removal of siliconomas, Scandinavian Journal of Plastic and Reconstructive Surgery and Hand Surgery. 2004; 38:1, 21-26

5. Harlim AGO, Kanoko MPU, Aisah SITI. Classification of Foreign Body Reactions due to Industria Silicone Injection. Dermatol Surg. 2018; 44:1174-1182

6. Bravo BSF, Balssiano LKA, Bastos JT, Rocha CRM, Costa MB, Cassia FF, Bravo L. Siliconoma: Report of Two Cases. Aesth Plast Surg (2016) 40:288–292

7. Salgado CJ, Sinha VR, Desai U. Liposuction and Lipofilling for Treatment of Symptomatic Silicone Toxicosis of the Gluteal Region. Aesthetic Surgery Journal. 2014; 34(4).

Palavras Chave

Siliconoma; complicações; Cirurgia Plástica reconstrutora

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Municipal Barata Ribeiro - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

GABRIELLE ALVES CALZA, LAURA SILVA DE OLIVEIRA, PEDRO PAULO MOREIRA MARQUES, LUCAS RIBAK MATTOS, STELLA SOUZA AMORIM