Dados do Trabalho
Título
RELATO DE CASO: COMEDOES ABERTOS EM ENXERTO DE PELE PARCIAL
Resumo
Este artigo relata um caso de uma paciente de 29 anos vítima de queimadura por chama direta, tratada com enxertos parciais de pele devido à progressão das lesões para terceiro grau. Após a alta hospitalar, a paciente desenvolveu comedões abertos nas áreas enxertadas, uma complicação rara e pouco documentada na literatura médica. O estudo descreve detalhadamente os aspectos clínicos, fisiopatológicos em busca da melhor estratégia terapêutica para a condição, enfatizando a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes com histórico de queimaduras graves.
Introdução
As queimaduras consistem em um importante problema de saúde pública caracterizando-se por lesões traumáticas causadas por agentes térmicos, químicos, biológicos e físicos e são classificadas de acordo com a profundidade da lesão. Entre as principais causas estão a chama direta, contato térmico, queimadura de vias aéreas por inalação, corrente elétrica e escaldadura, sendo a última a mais comum no Brasil. Dependendo da profundidade das lesões, o tratamento adequado frequentemente requer procedimento cirúrgico, sendo na maioria das vezes resolvidas com a aplicação de enxertos de pele para promover a cicatrização e restaurar a integridade da barreira cutânea. Técnicas cirúrgicas de enxertia juntamente com cuidados pós-operatórios meticulosos, têm melhorado significativamente os resultados para os pacientes. No entanto, complicações podem ocorrer, afetando tempo de recuperação, desenvolvimento de sequelas e a qualidade de vida dos pacientes.
As complicações de enxerto de pele podem envolver infecção, rejeição, má cicatrização, alteração de pigmentação e textura de pele e entre essas complicações, existe um fenômeno raro e pouco documentado na literatura que é a ocorrência de comedões abertos no local do enxerto. O desenvolvimento de comedões abertos agrega uma doença multifatorial caracterizada pela obstrução dos folículos pilosos, podendo manifestar-se clinicamente como lesões inflamatórias, não inflamatórias e cicatrizes eventuais. A presença desses comedões em um enxerto de pele pode ocorrer como resposta ao trauma e ao processo de cicatrização. Este artigo apresenta um relato de caso de comedões abertos em enxerto parcial de pele após trauma com queimadura por escaldadura, destacando os desafios diagnósticos e terapêuticos associados a essa condição incomum.
A relevância deste relato de caso reside na sua baixa frequência e na limitada documentação na literatura médica. Através deste estudo, buscamos contribuir para a compreensão clínica e o manejo adequado dessa complicação, visando melhores resultados para pacientes com histórico de queimaduras graves.
Objetivo
Relatar um caso de presença de comedões abertos em enxerto de pele parcial, descrevendo diagnostico, fatores fisiopatológicos associados, achados clínicos e possibilidades terapêutica. Visa assim contribuir para a literatura médica com uma análise detalhada do desenvolvimento desta condição rara.
Método
Este estudo é baseado em um Relato de Caso que envolveu a revisão detalhada do prontuário médico da paciente. Foram coletados dados clínicos relevantes, abrangendo desde sua admissão na Unidade de Terapia de Queimados de Catanduva até o acompanhamento pós-alta hospitalar. As informações incluíram diagnósticos, detalhes dos procedimentos cirúrgicos realizados, como desbridamento cirúrgico e enxertia de pele parcial utilizando dermátomo elétrico, além da evolução do estado clínico durante o período de internação.
Antes da divulgação do caso, foi obtido o consentimento informado da paciente por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), garantindo a confidencialidade de seus dados pessoais e clínicos.
Este método assegura a integridade ética do estudo, além de fornecer uma base robusta para a análise e discussão das manifestações clínicas observadas, como os comedões abertos no local do enxerto de pele parcial
Resultado
Ao relatar esse caso, o artigo busca contribuir para a compreensão clínica dessa complicação rara, oferecendo insights que podem melhorar o manejo e os resultados para pacientes com histórico de queimaduras graves e enxertos.
Discussão
Durante o processo de cicatrização, as glândulas sebáceas, de uma maneira geral podem responder de maneira variável. Incialmente pode ocorrer uma diminuição temporária da atividade dessas glândulas devido ao trauma cirúrgico e à medida que a pele se adapta ao leito receptor, com o processo de cicatrização pode haver inativação das mesmas, diminuição de suas atividades ou mesmo aumento.
Independente dessa alteração glandular, decorrentes da hiperqueratinização folicular, a comedogênese é caracterizada pela hiperproliferação dos queratinócitos e ou separação inadequada dos corneócitos ductais. Após a formação dos comedões há uma predisposição para penetração de microrganismo e ácidos graxos inflamatórios identificados no sebo do folículo, fazendo com que eles se aproximem da derme e facilitem a inflamação e infecção. Assim a comedogênese em enxertos de pele parcial após queimaduras são complicações raras e pouco descritas na literatura médica atual, mas são significativas e podem, dessa forma, serem traduzidas como desordens durante o processo cicatricial e a resposta ao trauma da pele enxertada.
Dessa forma, a vigilância clínica pós-operatória é essencial para a identificação precoce e o manejo adequado do caso, minimizando possíveis complicações, por meio de uma abordagem multidisciplinar e tratamentos individualizados. Por fim, é válido realizar o acompanhamento regular dos pacientes, com o fito de ajustar a terapia conforme necessário. Além disso, estudos adicionais nessa área são necessários para melhor compreender os mecanismos subjacentes e otimizar as estratégias terapêuticas.
Conclusão
A hipersecreção sebácea e o desenvolvimento de comedões abertos trata-se de situações pouco relatada na literatura médica quando em associação com enxertia de pele. Porém sendo desordens possíveis diante do processo de resposta ao trauma e cicatrização, seu relato em casos pós enxertia de pele se tornam necessários na área de cirurgia plástica, sendo uma complicação possível e com estudos limitados ainda quanto a sua abordagem terapêutica e resultados
Referências
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Palavras Chave
queimaduras enxerto
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Centro Universitário Padre Albino - São Paulo - Brasil
Autores
LUIZ FERNANDO CRISCUOLO FILHO, ANA PAULA MARTH, CAMILA GONDO GALACE, GABRIEL ANDREY RICCI, VICTOR DA SILVA DURAN, EMIL TANNOUS ELIAS