60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

TROMBOEMBOLISMO VENOSO EM CIRURGIA PLASTICA: HOUVE AUMENTO DA INCIDENCIA APOS A PANDEMIA DE SARS-COV2?

Resumo

Introdução: O tromboembolismo venoso (TEV), que varia desde a trombose venosa profunda até a embolia pulmonar, é uma complicação temida no pós-operatório da cirurgia plástica. Dessa forma, estudos foram traçados com o objetivo de quantificar essa incidência. A pandemia da covid 19 foi associada ao aumento de eventos embólicos em vários estudos¹. Objetivo: Este estudo tem como objetivo, através de revisão integrativa da literatura, analisar a incidência atual de TEV no pós operatório de cirurgias plásticas e se houve aumento real de eventos após a pandemia da covid 19. Metodologia: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura. A busca foi realizada através das seguintes bases de dados: U. S. National Library of Medicine (PubMed), UpToDate e biblioteca Cochrane. Resultados: No total 7 estudos foram elegíveis para análise detalhada por se encaixarem nos critérios de inclusão. As diretrizes recentes do Colégio Americano de Cirurgiões Plásticos (ASPS) e o Uptodate também foram adicionados pelos autores para a coleta de dados atualizados a respeito da incidência de TEV em cirurgia plástica e análise comparativa. A maioria dos estudos utiliza dados de publicações antes da pandemia, relatando uma incidência média variando de 0,0122% a 2,6%. Estudos conduzidos durante a pandemia relataram incidência variável de TEV entre 1,3% a 11%, alguns estudos relataram aumento significativo de eventos (11%) após infecção recente (<30dias) por coronavírus. Apenas um estudo relatou dados de incidência após a pandemia e não foi encontrada associação significativa entre infecção prévia por SARS-CoV-2 e tromboembolismo no pós-operatório. Conclusão: A infecção por SARS-COV-2 recente (em menos de 30 dias) parece contribuir para aumento da incidência de eventos embólicos no pós operatório de cirurgia plástica, no entanto, faltam estudos randomizados recentes para estimar a real incidência de TEV no período pós-pandemia para uma adequada análise comparativa.

Introdução

O tromboembolismo venoso (TEV) continua sendo uma complicação assustadora que assola muitas especialidades cirúrgicas, incluindo a cirurgia plástica. Pascal et. al. (2020) investigou os efeitos da infecção Perioperatória pelo Sars-CoV-2 e mostrou que houve um aumento da incidência de tromboembolismo venoso, mortalidade pós-operatória, complicações pulmonares e eventos tromboembólicos 1.
Outros estudos foram discordantes e não encontraram associação entre Covid 19 e aumento de eventos de TEV em cirurgias plásticas 2. A real incidência atualizada desse permite otimizar a estratificação de risco no pré-operatório guiando melhores estratégias de prevenção no pós-operatório de cirurgias plásticas.
No entanto, atualizar a incidência destes eventos é um desafio, visto que, a maioria das principais fontes utilizam dados estatísticos de estudos antigos, tornando difícil avaliar com precisão o cenário atual e as consequências da pandemia da covid-19 como provável potencializador do risco TEV.
Este estudo tem como objetivo analisar a incidência atual de TEV em cirurgia plástica e comparar com os dados de estudos pré-pandemia de SARS-COV 2, através de uma revisão integrativa da literatura, a fim de elucidar os efeitos da infecção de Covid-19 na incidência de eventos embólicos e se há correlação real entre o aumento da incidência de TEV em cirurgia plástica.

Objetivo

Este estudo tem como objetivo analisar a incidência atual de TEV em cirurgia plástica e comparar com os dados de estudos pré-pandemia da SARS-COV 2, através de uma revisão integrativa da literatura, a fim de elucidar os efeitos da infecção de Covid-19 na incidência de eventos embólicos e se há correlação real entre o aumento da incidência de TEV em cirurgia plástica e infecção pelo coronavírus.

Método

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura. A busca foi realizada através das seguintes bases de dados: U. S. National Library of Medicine (PubMed), UpToDate e biblioteca Cochrane. Resultados: No total 7 estudos foram elegíveis para análise detalhada por se encaixarem nos critérios de inclusão. As diretrizes recentes do Colégio Americano de Cirurgiões Plásticos (ASPS) e o Uptodate também foram adicionados pelos autores para a coleta de dados atualizados a respeito da incidência de TEV em cirurgia plástica e análise comparativa. Foram extraídos dados relacionados à epidemiologia, incidência de tromboembolismo venoso no pós-operatório de cirurgias plásticas e a data de publicação. Outros trabalhos de importância foram inseridos após revisão bibliográfica das diretrizes mais recentes para prevenção de tromboembolismo venoso em cirurgia plástica, recomendada pela Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS 2022). A Organização Mundial de Saúde declarou início da pandemia de covid 19 e emergência de saúde pública em 30/01/2020 e o fim da emergência em 05/05/2023. A data de publicação dos estudos foi utilizada para organizar os trabalhos em três períodos de tempo : (1) estudos pré-pandemia , (2) estudos durante a pandemia e (3) estudos pós-pandemia. Uma análise comparativa foi executada para responder à pergunta condutora: qual é a taxa de incidência atual de TEV em cirurgia plástica e se houve aumento significativo de eventos após a pandemia de Covid 19 ? Os dados foram coletados e organizados em tabela comparativa a fim de distinguir as fontes utilizadas antes, durante e após a pandemia, permitindo assim analisar a incidência atual de TEV em cirurgia plástica e se houve aumento de eventos após o coronavírus.

Resultado

Inicialmente, a pesquisa nas bases de dados identificou 12 artigos no PUBMED. 5 estudos foram excluídos por não abordarem o tema proposto. Apenas sete estudos foram elegíveis para a revisão. A pesquisa no Uptodate evidenciou mais 03 estudos observacionais relevantes que foram incluídos. Através de levantamento bibliográfico atualizado no respectivo tema, as diretrizes mais recentes do Colégio Americano de Cirurgiões Plásticos (ASPS) também foram incluídas. Ao todo 12 trabalhos de importância para o tema foram revisados para uma análise detalhada e estudo comparativo. A maioria dos estudos utiliza dados de publicações antes da pandemia, relatando uma incidência média variando de 0,0122% a 2,6%. Estudos conduzidos durante a pandemia relataram incidência variável de TEV entre 1,3% a 11%, alguns estudos relataram aumento significativo de eventos (11%) após infecção recente (<30dias) por coronavírus. Apenas um estudo relatou dados de incidência após a pandemia e não foi encontrada associação significativa entre infecção prévia por SARS-CoV-2 e tromboembolismo no pós-operatório.

Discussão

Estudos que relatam incidência de TEV antes da pandemia
De acordo com o Uptodate a Cirurgia Plástica e reconstrutiva possui o risco basal estimado pelo American College of Chest Physicians (ACCP) entre 0,5 a 1,8 por cento com base em três estudos observacionais 3,4,5. No entanto, extrapolando a partir de populações cirúrgicas relacionadas (cirurgia da mama, cirurgia de bypass dos membros inferiores), o risco basal estimado de TEV varia de baixo (por exemplo, procedimentos cosméticos ambulatoriais) a elevado (por exemplo, cirurgias reconstrutivas).
Além disso, na base do PubMed, Rochlin et al evidenciou a ocorrência de tromboembolismo em 1,3% em 12.778 mulheres submetidas à cirurgia reconstrutora de mama entre 2007 e 2015. Destacou-se 67,1% dos tromboembolismos venosos após a alta hospitalar. Os preditores significativos de tromboembolismo venoso incluíram pontuação Elixhauser, histórico de tromboembolismo venoso e tempo de internação.
Gravante et al, em 2005, analisou 103 pacientes após abdominoplastia e constatou o desenvolvimento de tromboembolismo venoso em 2,9%. Michaels et. al. observou 546 pacientes em seguimento pós-operatório e o risco global de trombose venosa profunda e embolia pulmonar encontrada foi de 0,18%. Uma revisão sistemática de Raquel et. al. analisou 21 artigos sobre cirurgia de contorno corporal entre os anos de 2004 e 2015, foi observada uma incidência de TEV de 1,4%.
Estudos que relatam incidência de TEV durante a pandemia
O estudo prospectivo de Pascal et al. (2020) investigou os efeitos da infecção perioperatória pelo Sars-CoV-2 em 503 pacientes, dos quais 161 foram positivos e 342 negativos para COVID-19. Observou-se que a taxa de mortalidade em 30 dias foi significativamente maior entre os pacientes positivos em comparação com o grupo controle (16% vs. 4%, respectivamente; P = 0,007). Além disso, os pacientes infectados apresentaram uma incidência de eventos tromboembólicos de 11%, enquanto na amostra controle foi de apenas 1%, indicando um risco mais de 10 vezes maior associado ao Sars-CoV-2. Os resultados sugerem que o status positivo para COVID-19 Contudo, o estudo enfrentou limitações, como restrições na testagem pré-operatória e diagnóstico pós-operatório de alguns casos de Sars-Cov-2.
Em paralelo ao estudo de Pascal et al. (2020), a Colaborativa COVIDSurg e a GlobalSurg (2021) revelaram em sua pesquisa prospectiva que pacientes sem infecção por SARS-CoV-2 apresentaram uma taxa de tromboembolismo pós-operatório de 0,5% (666 em 123.591). Em contraste, aqueles com SARS-CoV-2 recente mostraram uma taxa de 1,6% (15 em 953), enquanto os com histórico prévio da infecção apresentaram 1,0% (11 em 1148). A mortalidade entre os pacientes sem tromboembolismo venoso foi de 7,4% (319 em 4342), aumentando para 40,8% (31 em 76) naqueles com tromboembolismo venoso. Esses resultados indicam que pacientes submetidos a cirurgia com SARS-CoV-2 no período perioperatório ou recentemente parecem ter um risco elevado de desenvolver tromboembolismo venoso após o procedimento, em comparação com aqueles sem histórico recente de infecção por SARS-CoV-2.
Contrariando os achados de Pascal et al. (2020) e das Colaborativas COVIDSurg e GlobalSurg (2021) a análise de Silvenstein et al. (2024) indica que não há associação entre a infecção por COVID-19 e a incidência de tromboembolismo venoso pós-operatório. O estudo realizado entre 2020 e 2021 com 24.228 pacientes submetidos a diversos procedimentos cirúrgicos, (como paniculectomia abdominal, redução e reconstrução mamária com implantes) aponta que entre esses pacientes, 6% foram diagnosticados com COVID-19 no perioperatório, e apenas 1,3% apresentaram episódios de tromboembolismo venoso. A análise de Silvenstein et al. (2024) indica que não há associação entre a infecção por COVID-19 e a incidência de tromboembolismo venoso pós-operatório (P=0,463). Ademais, uma limitação significativa do estudo é a subnotificação possível de casos assintomáticos ou com sintomas leves de COVID-19, devido à inconsistência na classificação diagnóstica conforme a CID-10, o que poderia ter impactado a precisão dos resultados.
Estudos realizados após a pandemia
O estudo de Oliveira et al. (2023) investigou as complicações pós-operatórias em pacientes que se recuperaram da SARS-CoV-2 e foram submetidos a abdominoplastia ou paniculectomia. Dos 181 pacientes incluídos no estudo, 14 (7,7%) tinham histórico prévio de infecção por SARS-CoV-2. Esses pacientes apresentaram uma prevalência aumentada de doença renal crônica, com uma razão de chances (OR) de 6,79 e um valor de p de 0,017. Além disso, houve uma significativa preferência por abdominoplastias em detrimento de paniculectomias entre esses indivíduos, com um OR de 4,43 e um valor de p de 0,039. Além disso, eles tinham uma probabilidade significativamente maior de enfrentar complicações pós-operatórias, como cicatrização retardada da ferida. No entanto, não foram encontradas outras associações significativas entre infecção prévia por SARS-CoV-2 e outros resultados perioperatórios. Conclui-se que infecções prévias por SARS-CoV-2 podem estar ligadas a complicações pós-operatórias específicas, apesar de um intervalo considerável entre a infecção e a cirurgia. Mais estudos são necessários para entender melhor essa relação e seus mecanismos subjacentes.

Conclusão

Conclusão: A infecção por SARS-COV-2 recente (em menos de 30 dias) parece contribuir para aumento da incidência de eventos embólicos no pós operatório de cirurgia plástica, no entanto, faltam estudos randomizados recentes para estimar a real incidência de TEV no período pós-pandemia para uma adequada análise comparativa.

Referências

1. Pascal K.C. et. al., Perioperative SARS-CoV-2 infections increase mortality, pulmonary, Surgery , Accepted 4 September 2020;
2. Silverstein et. al., Associations between Prior COVID-19 Infection and Risk of Venous Thromboembolism Following Microsurgical Breast Reconstruction: A Nationwide Matched Cohort Study. Plastic & Reconstructive Surgery-Global Open 12(1S1):p 52, January 2024;
3. Gould MK et. al., American College of Chest Physicians; 2012 ;
4. Liao EC et. al., Cirurgia de Reconstrução Plast. 2008;121(4):1101;
5. Hatef DA et. al., Cirurgia de Reconstrução Plast. 2008;122(1):269;
6. Patel H S et al. , From Risk Assessment to Intervention: A Systematic Review of Thrombosis in Plastic Surgery. Cureus 15(7); July 08, 2023;
7. Furnas et. al., A Prática Segura da Cirurgia Plástica Genital Feminina. Cirurgia Plástica e Reconstrutiva - Global Open 9(7):p e3660, julho de 2021;
8. Mrad MA et. al., Modelos de avaliação de risco de tromboembolismo venoso em cirurgia plástica: A Revisão Sistemática e Metanálise. Plast Reconstr Surg Glob aberto. 8 de dezembro de 2022;
9. Ferraro JJ et. al., Associações entre infecções por SARS-CoV-2 e complicações trombóticas que necessitam de intervenção cirúrgica: Uma revisão sistemática. Método J Mundial. 2022, 20 de novembro;
10. White AJ, et. al., Revisão sistemática dos modelos de avaliação de risco de tromboembolismo venoso utilizados em cirurgia plástica estética. JPRAS;
11. Yin C et. al., Contorno corporal em pacientes com perda maciça de peso que recebem quimioprofilaxia para tromboembolismo venoso: uma revisão sistemática. Plast Reconstr Surg Glob aberto. 13 de agosto de 2021;
12. Pannucci CJ et. al., Um modelo de risco validado para prever eventos de TEV em 90 dias em pacientes pós-cirúrgicos. Peito. 1º de março de 2014;

Palavras Chave

cirurgia plástica; Covid-19; Tromboembolismo Venoso

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - Pernambuco - Brasil

Autores

TERTULIANO LEITE ROLIM JUNIOR, RICARDO VICTOR RAMOS DE AMORIM, MARCOS TULIO ALVARES DE LIMA, VINÍCIUS VASCONCELOS DO AMARAL, TULIO FARIAS PIMENTEL, BEATRIZ LEAL FREITAS SOARES