60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

RETALHOS PROPELLER COMO ALTERNATIVA A RECONSTRUÇAO MICROCIRURGICA DOS MEMBROS INFERIORES

Resumo

Introdução: Os retalhos em hélice ou Propeller flap, são retalhos de vasos perfurantes, que vem ganhando cada vez mais espaço na cirurgia plástica reparadora pela sua fácil execução, menor morbidade da zona doadora e grande eixo de rotação. Métodos: Trata-se de um estudo retrospective de uma série de 3 casos de lesões em membros inferiors, tratados com retalhos em hélice. Resultados: Os retalhos em hécice ou Propeller flaps, foram aplicados nos 3 casos descritos, em um único tempo cirurgico, sem grandes complicações e com bons resultados funcionais e estéticos. Conclusão: Os retalhos em hélice são uma excelente alternativa aos retalhos microcirurgicos na reconstrução de membros inferiors, com menos morbidade, menor tempo de internação e sem necessidade de anastomoses microvasculares.

Introdução

O retalho em hélice, ou propeller flap, é definido pelo Consenso de Tokyo (2011) como “um retalho perfurante com uma ilha de pele composta por duas partes, uma maior e outra menor, separadas por um vaso perfurante nutridor que corresponde ao seu eixo de rotação”1.
O conceito de propeller flap foi primeiramente descrito por Katsaros, em 1982, que descreveu pela primeira vez um retalho ilhado do músculo tensor fáscia lata baseado em seu pedículo vascular que foi rotado 180° para cobrir um defeito na parede torácica2. Postriormente em 1991 por Hyakusoku et al.3, utilizaram um retalho em ilha vascularizado por vasos perfurantes, com rotação de 90°, para o tratamento de sequelas de queimaduras.
Desde então, os retalhos em hélice vêm se tornando cada vez mais utilizados, apresentando diversas vantagens como a possibilidade de ampla rotação (180°), a utilização de tecidos semelhantes ao do defeito original, ocasionam uma menor morbidade de área doadora, as vezes com fechamento primário da mesma. Outras vantagens importantes são seu menor custo, menor tempo cirúrgico e não necessitar de anastomoses microcirúrgicas, quando comparados aos retalhos livres nas reconstruções de membros inferiores4.
Porém, esses retalhos não estão isentos de complicações, como a necrose parcial ou total do retalho, epidermólise, congestão venosa, infecção, hematoma e deiscência5,6.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é apresentar uma série de três casos nos quais o retalho em hélice foi utilizado para tratamento de sequelas de trauma em membros inferiores como alternativa aos retalhos microcirúrgicos.

Método

Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo de pacientes submetidos a reconstrução de membros inferiores com uso do propeller flap nos meses de fevereiro e março de 2024.

Resultado

Caso 1
Paciente LCAV, masculino, 46 anos, sem comorbidades, com história de acidente motociclístico e trauma em membro inferior direito (maléolo lateral) com exposição óssea e tendinosa, assim como fratura exposta de tíbia. Submetido a retalho em hélice, baseado nos vasos perfurantes fibulares (Figura 1), com tamanho de 20x4cm, proporcionando uma adequada cobertura da lesão (Figura 2).

Figura 1: Retalho dissecado, baseado na perfurante

Figura 2: Pré e pós operatório (30°PO)

Caso 2
Paciente IVP, masculino, 77 anos, portador de Diabetes Mellitus tipo 2, com história de queda de moto com lesão extensa de partes moles e exposição de tíbia, sem fraturas. Submetido a retalho em hélice e enxerto de pele parcial, baseado nos vasos perfurantes fibulares, com dimensões aproximadas de 15x5cm, proporcionando uma adequada cobertura da exposição óssea (Figuras 3 e 4).

Figura 3: Pré operatório

Figura 4: Pós operatório (31°PO)

Caso 3
Paciente EMN, 52 anos, sem comorbidades, com história de acidente motociclístico e trauma em membro inferior direito com exposição óssea em terço inferior da perna (maléolo medial). Submetido a retalho em hélice de perfurantes dos vasos tibiais posteriores, com dimensões de aproximadamente 15x4cm, com adequada cobertura óssea (Figura 5).

Figura 5: Pré e Pós operatório (27° PO)

Discussão

Os retalhos em hélice ou propeller flap, têm por base o conceito dos “territórios de angiossomos”, que postula que uma artéria perfurante é capaz de nutrir um território anatômico delimitado bem como uma porção correspondente de até 50% do angiossoma adjacente7. Apesar de ser um conceito relativamente recente, vem se mostrando bastante promissor, principalmente em áreas críticas como as porções mais distais dos membros inferiores.
Em dois dos casos descritos, os retalhos propeller foram baseados nas perfurantes dos vasos fibulares (caso 1 e 2) e um baseado nas perfurantes da tibial posterior (caso 3), com graus de rotação variados, sendo 180° nos casos 1 e 3 e em torno de 130° de rotação no caso 2. Nos casos 1 e 3, apesar de uma maior rotação, não houve sofrimento cutâneo nem congestão venosa no pós-operatório, ocorrendo em pequeno grau no caso 2. Nenhuma outra complicação foi observada nos três casos descritos.
A área demarcada para cada retalho foi baseada na área de exposição óssea de cada defeito, com uma área aproximada de 80 cm2, 75 cm2 e 60cm2 nos casos 1, 2 e 3 respectivamente, com mínimo sofrimento cutâneo no caso 2, com resolução espontânea, o que corrobora com a literatura, na qual o tamanho do retalho >100 cm2 não foi fator de risco para complicações8.

Conclusão

Classicamente, os defeitos de áreas distais do membro inferior têm indicação de reconstrução com retalhos microcirúrgicos. Os retalhos em hélice podem ser uma alternativa aos retalhos livres, com confecção menos complexa, menor custo, menor tempo de internação hospitalar e sem a necessidade de microanastomoses vasculares.

Referências

1. Pignatti M, Ogawa R, Hallock GG, Mateev M, Georgescu AV, Balakrishnan G, et al. The “Tokyo” consensus on propeller flaps. Plast Reconstr Surg. 2011;127(2):716-22. PMID: 21285776 DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181fed6b2
2. JUNIOR, Paulo Eduardo Krauterbluth Solano et al. Estudo clínico preliminar da utilização do conceito dos Propeller flaps em cirurgia reparadora complexa.
3. Hyakusoku H, Yamamoto T, Fumiiri M. The propeller flap method. Br J Plast Surg. 1991;44(1):53-4. PMID: 1993239 DOI: https://doi.org/10.1016/0007-1226(91)90179-N
4. Rad AN, Singh NK, Rosson GD. Peroneal artery perforator-based propeller flap reconstruction of the lateral distal lower extremity after tumor extirpation: case report and literature review. Microsurgery. 2008;28(8):663-70. PMID: 18846577 DOI: https://doi.org/10.1002/micr.20557
5. Gir P, Cheng A, Oni G, Mojallal A, Saint-Cyr M. Pedicled-perforator (propeller) flaps in lower extremity defects: a systematic review. J Reconstr Microsurg. 2012;28:595-601. PMID: 22715046 DOI: https://doi.org/10.1055/s-0032-1315786
6. Nelson JA, Fischer JP, Brazio PS, Kovach SJ, Rosson GD, Rad AN. A review of propeller flaps for distal lower extremity soft tissue reconstruction: Is flap loss too high? Microsurgery. 2013;33:578-86. PMID: 23861186 DOI: https://doi.org/10.1002/micr.22134
7. Callegari PR, Taylor GI, Caddy CM, et al. “An anatomic review of the delay phenomenon: I. Experimental studies”. Plastic and Reconstructive Surgery, 1992;89(3): 397–407 [discussion: 417–8].
8. Bekara F, Herlin C, Mojallal A, Sinna R, Ayestaray B, Letois F, et al. A Systematic Review and Meta-Analysis of Perforator-Pedicled Propeller Flaps in Lower Extremity Defects: Identification of Risk Factors for Complications. Plast Reconstr Surg. 2016;137(1):314-31. PMID: 26371391 DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000001891

Palavras Chave

Retalho perfurante

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Instituto dr José Frota - Ceará - Brasil

Autores

OLGA LANUSA LEITE VELOSO, BRENO BG DE PINHO PESSOA, DOUGLAS RODRIGUES DE MACEDO, JORGE RICARDO RABINES TAMAYO, HELBERT PEREIRA MATIAS