60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

SERIE DE CASOS DE BIA - ALCL NO DISTRITO FEDERAL

Resumo


Introdução:
O Linfoma Anaplásico de Grandes Células Associado a Implante Mamário (BIA-ALCL) é um tipo raro de linfoma não-Hodgkin que se manifesta em mulheres com implantes mamários. O objetivo do estudo é analisar casos de BIA-ALCL tratados por cirurgiões plásticos no Distrito Federal. Metodologia: Estudo observacional retrospectivo com pacientes diagnosticadas com BIA-ALCL. Análise de dados demográficos, características dos implantes, tratamento realizado e prognóstico das pacientes. Resultados: A idade média ao diagnóstico foi de 45 anos e o tempo médio de implante foi de 8,6 anos. Todos os casos analisados envolveram implantes de poliuretano texturizados. Seroma foi o sintoma inicial mais frequente e a punção do líquido periprotésico com análise citopatológica foi crucial para o diagnóstico em todos os casos. O tratamento consistiu na retirada dos implantes e capsulectomia em todos os casos. Nenhuma paciente necessitou de quimioterapia ou radioterapia adjuvante. O prognóstico geral foi favorável, com todas as pacientes em boa evolução após o tratamento. Discussão: Os achados corroboram com características epidemiológicas e clínicas do BIA-ALCL descritas na literatura. É de extrema importância o reconhecimento precoce dos sintomas e o diagnóstico oportuno, sendo a punção diagnóstica do líquido peri-implantar uma ferramenta essencial para o diagnóstico definitivo. O tratamento com retirada imediata dos implantes e capsulectomia total foi eficaz, com a decisão individualizada sobre o reimplante de próteses mamárias. Ressaltar a importância da vigilância médica regular para mulheres com implantes mamários. Conclusão: O BIA-ALCL é uma doença rara, mas com potencial grave. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para um bom prognóstico. É fundamental conscientizar a comunidade médica e as pacientes sobre o BIA-ALCL. Mais estudos com maior número de pacientes são necessários para confirmar os achados e aprofundar o conhecimento sobre o BIA-ALCL.

Descritores:
Linfoma Anaplásico de Grandes Células; BIA-ALCL; Implante mamário; Linfoma não-Hodgkin; Poliuretano; Texturizado; Seroma; Distrito Federal

Introdução


Atualmente, o número de mulheres no mundo com implantes mamários gira em torno de 35 milhões. Estima-se que mais de dois milhões de mulheres brasileiras tenham implantes mamários, sendo o Brasil o segundo maior mercado de implantes mamários do mundo.
Implantes mamários com o uso de próteses de silicone tiveram início em 1962 e desde a sua implementação diversos estudos são realizados com o intuito de descobrir e analisar os impactos destas substâncias no organismo1.
Em 2011, a Food and Drug Administration (FDA) identificou uma possível relação entre implantes mamários com uma forma incomum de Linfoma Não-Hodgkin, o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (ALCL) e, em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ratificou em suas diretrizes a doença como Linfoma Anaplásico de Células Grandes Associado a Implante Mamário (Breast Implant Associated Anaplastic Large Cell Lymphoma - BIA-ALCL).
O BIA-ALCL é um raro tipo de linfoma que ganhou destaque nas últimas duas décadas devido ao aumento do número reportado de casos. A exata incidência do BIA-ALCL não é conhecida, porém é estimada em torno de 1 caso a cada 30.000 mulheres com implantes por ano, com uma média de desenvolvimento da doença após a implantação de 10 anos.
Segundo os órgãos reguladores, o risco para o desenvolvimento da doença está associado ao implante mamário de superfície texturizada. O BIA-ALCL pode estar localizado na cavidade do seroma ou pode envolver o tecido fibroso pericapsular. A maioria dos pacientes apresenta derrame peri-implantar e com menos frequência apresentam massa. O diagnóstico é realizado por meio da aspiração do derrame peri-implante e confirmando a positividade para CD30 das células na amostra. No entanto, confirmar o diagnóstico pode ser difícil. A associação da presença de células características com os resultados da citometria de fluxo e imuno-histoquímica pode auxiliar na obtenção de um diagnóstico preciso. A maioria dos pacientes tem um excelente prognóstico com a remoção completa da cápsula e o implante cirúrgico de uma prótese com margens negativas.

Objetivo


Analisar os casos de Linfoma Anaplásico de Grandes Células Associado a Implantes Mamários (BIA - ALCL) tratados por cirurgiões plásticos no Distrito Federal.

Método


Realizado estudo observacional retrospectivo com levantamento de dados através da análise de prontuários após realização de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de cirurgiões plásticos e pacientes. Com os dados demográficos, foram analisados: características dos implantes (tipo, textura, ano de colocação), tratamento realizado após o diagnóstico e prognóstico das pacientes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Daher Lago Sul

Resultado

Características Demográficas e dos Implantes
A idade média ao diagnóstico de BIA-ALCL foi de 45 anos, sugerindo que a doença pode se manifestar anos após a colocação dos implantes. A idade média de tempo do implante foi de 8 anos e meio.
Todos os casos envolveram implantes de poliuretano, indicando uma possível associação entre esse tipo de prótese e o desenvolvimento do BIA-ALCL. Das pacientes analisadas, 3 possuíam comorbidades associadas (uma com artrite reumatóide, outra com resistência insulínica e outra com neoplasia de mama).
Imagem I (Tabela 1- Dados demográficos)

Sintomatologia e Diagnóstico
Seroma foi o sintoma inicial mais frequente, seguido por mastalgia intensa e contratura capsular em um caso. A punção do líquido periprotésico com análise citopatológica foi crucial para o diagnóstico do BIA-ALCL em todos os casos.
Imagem II (Tabela 2- Diagnóstico)

Tratamento e Prognóstico
A retirada dos implantes mamários e a capsulectomia foram realizados em todos os casos, representando o tratamento principal do BIA-ALCL no estudo realizado. Nenhuma das pacientes necessitou de quimioterapia ou radioterapia adjuvante, devido à ausência de doença à distância. Uma paciente optou por colocação de novos implantes mamários microtexturizados 8 meses após a retirada dos implantes afetados.
O prognóstico geral das pacientes foi favorável, com todas as pacientes analisadas apresentando boa evolução após o tratamento realizado.
Imagem III (Tabela 3- Tratamento e Prognóstico)

Discussão


Os dados deste estudo corroboram com as características epidemiológicas e clínicas já descritas na literatura sobre o BIA-ALCL. A idade média no diagnóstico, o tempo de latência após a colocação do implante e a predominância de implantes de poliuretano estão de acordo com outros estudos.
O estudo também destaca a importância do reconhecimento precoce dos sintomas, principalmente do seroma, para o diagnóstico oportuno do BIA-ALCL. A punção diagnóstica do líquido peri-implantar se confirma como ferramenta essencial para o diagnóstico definitivo.

Orientações para coleta e acondicionamento de efusões mamárias periprótese tardias.
- Punção percutânea - Colher 10 a 50 ml da efusão (guiado por ultrassom em caso de pequenas coleções);
- Evitar drenagens prévias - reduz carga tumoral;
- Se for levar IMEDIATAMENTE ao laboratório, não precisa adicionar meio de preservação.
- Se for levar mais de 1h para chegar ao laboratório, adicionar álcool absoluto na proporção 50/50 com o líquido; ou álcool 70% na proporção 2/3 de álcool e 1/3 de líquido; ou formol (10% tamponado) na proporção 50/50.
- Relatar no pedido médico qual fixador usou, tempo de prótese, tempo de efusão, estado tipo e textura da prótese, quantos mls foram puncionados, características do líquido a fresco, se massa palpável associada ou linfonodo axilar palpável, dados de imagem (se houver), outros achados clínicos convenientes.
- Solicitar citopatológico, confecção de cell-block e estudo imunocitoquimico com pesquisa de células CD30 (diferencial para BIA-ALCL).
- 3,0 a 4,0 ml do líquido podem ser acondicionados em tubo seco de líquor (solicitar previamente em laboratório clínico) para citometria de fluxo para neoplasias hematológicas (CD30) - pedido separado.
Observação: a punção e diagnóstico citológico devem preceder a capsulectomia /explante em bloco, sempre que possível. Isso permite, após o diagnóstico, otimização do estadiamento (PET-CT) e planejamento cirúrgico.
- No ato cirúrgico, após explante em bloco, puncionar a efusão para preservar o líquido adequadamente. Isso permite a confirmação do diagnóstico e correto estadiamento.
O tratamento com retirada imediata dos implantes e capsulectomia total se mostra eficaz no controle da doença, com a maioria das pacientes não necessitando de quimioterapia ou radioterapia adjuvante.
O reimplante de próteses mamárias após o tratamento do BIA-ALCL é uma decisão individualizada que deve ser tomada com cautela e acompanhamento médico rigoroso. Em nenhum dos casos foi realizada lipoenxertia para melhora do resultado estético.
O prognóstico geral das pacientes foi favorável, com todas as pacientes analisadas apresentando boa evolução após o tratamento realizado, ressaltando a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Considerações Adicionais
A análise destaca a importância da vigilância médica regular para mulheres com implantes mamários, especialmente após 10 anos da colocação.
Mais estudos com maior número de casos são necessários para confirmar a associação entre implantes de poliuretano e o BIA-ALCL e para refinar as estratégias de tratamento e acompanhamento.

Recomendações
• Maior conscientização sobre o BIA-ALCL entre a comunidade médica e as pacientes.
• Implementação de protocolos padronizados para o diagnóstico e tratamento do BIA-ALCL.
• Registro prospectivo de dados em estudos multicêntricos para ampliar o conhecimento sobre a doença e identificar potenciais fatores de risco.

Conclusão


É importante ressaltar que este estudo apresenta um número limitado de casos, o que limita a generalização das conclusões. Mais estudos com maior número de pacientes são necessários para confirmar os achados e aprofundar o conhecimento sobre o BIA-ALCL.
Apesar das limitações, este estudo oferece informações valiosas sobre o BIA-ALCL, contribuindo para o aprimoramento do diagnóstico, tratamento e acompanhamento dessa doença rara. A disseminação do conhecimento sobre o BIA-ALCL é fundamental para o cuidado adequado das pacientes e para a prevenção de novos casos.

Referências

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Sociedade Brasileira de Patologia. Lâmina - Linfoma Anaplásico. Diagnosticos do Brasil. São Paulo: DBR, 2021. Disponível em: https://www.diagnosticosdobrasil.com.br/uploads/materiais/2021/05/db-patol-lamina-linfoma-anaplasico-com-logo.pdf.

2. Ministério da Integração Nacional. BIA-ALCL: por que alguns implantes mamários de superfície texturizada estão sendo retirados do mercado. Portal Brasil. Brasília, DF: 2023. Disponível em: https://www.gov.br/int/pt-br/assuntos/revista-inovativa/edicoes/edicao-30/bia-alcl-por-que-alguns-implantes-mamarios-de-superficie-texturizada-estao-sendo-retirados-do-mercado.

3. Costa, R. A. et al. Linfoma anaplásico de grandes células associado a prótese mamária: relato de caso e revisão da literatura. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, v. 48, n. 6, p. 875-880, dez. 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/GV9bBQrZyBxMLpKhnnpWR7t/?lang=pt. Acesso em: 29 de maio de 2024.

4. Silva, M. C. et al. BIA-ALCL: a experiência de um centro brasileiro. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, v. 48, n. 5, p. 721-726, out. 2023. doi: 10.1590/0100-662X202300050004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/YcqbvVMQk65ttwBrz9pGGFc/?format=pdf&lang=pt.

5. LONG, Benedetto et al. Clinical recommendations for diagnosis and treatment according to current updated knowledge on BIA-ALCL. The Breast, v. 66, n. 2, p. 332-341, 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.breast.2022.11.009

6. Clemens, M. W. et al. Aesthetic Surgery Journal 39(S1), 2019

7. Jaffe, Elaine S., et al. Journal of Clinical Oncology 38.10 (2020): 1102-111

Palavras Chave

Linfoma anaplásico de grandes células; BIA-ALCL; Implante mamário;

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Daher Lago Sul - Distrito Federal - Brasil

Autores

LANA GABRIELA DE SOUSA SILVA, BRUNO PEIXOTO ESTEVES, BEATRIZ ZAMBON VILLAS BOAS, LUANNA PAULA AFONSO ITACARAMBY, VITOR VARJAO CHIANG, SAULO FRANCISCO DE ASSIS GOMES