60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

Síndrome de Mondor em paciente submetida a mastopexia com implantes de mamas: Relato de Caso

Resumo

Introdução: A síndrome de Mondor é uma condição rara, benigna e
autolimitada, caracterizada pela presença de tromboflebite superficial nas veias
subcutâneas da parede toracoabdominal. Essa condição se manifesta como um
cordão fibroso, espesso e palpável na região subcutânea da mama. Relato de
caso: Paciente C.G, feminina, de Campinas/SP, procurou serviço de cirurgia
plástica por apresentar ptose mamaria. Foi submetida a mastopexia com
implantes. Dezessete dias após a cirurgia, relatou inchaço e dor na cicatriz da
mama esquerda, com um cordão fibrótico e hiperemiado, diagnosticados através
do exame clínico e físico como Síndrome de Mondor. Discussão: A Síndrome de
Mondor, mais comum em mulheres numa proporção de 10:1 e com incidência
entre 0,07 e 0,96%, afeta principalmente o quadrante superior externo da mama.
O conhecimento detalhado da doença é crucial para o acompanhamento e
tratamento adequado, com a resolução dos sintomas geralmente ocorrendo
entre duas a seis semanas e o desaparecimento do vaso trombosado em seis a
sete meses. Conclusão: A Síndrome de Mondor é uma enfermidade rara e
benigna do sistema venoso superficial na região das mamas, frequentemente
associada a trauma local, procedimentos cirúrgicos e uso de implantes de
silicone. O tratamento recomendado é conservador, com medidas sintomáticas
como anti-inflamatórios e analgésicos, além de acompanhamento clínico para
tranquilizar a paciente e monitorar a condição.

Introdução

A síndrome de Mondor foi primeiramente descrita em 1939 pelo cirurgião
francês Henri Mondor, que identificou um processo que cursa com tromboflebite
superficial nas veias subcutâneas (epigástrica superior, toracoepigástrica,
torácica lateral) da parede toracoabdominal, denominado síndrome de Mondor.
[1,2]. Esta condição é rara, normalmente benigna e autolimitada. Caracteriza-se
por uma tromboflebite superficial que se manifesta como um cordão fibroso,
espesso e palpável, na região subcutânea da mama, quadro típico da síndrome[3]
.Diversos fatores na parede torácica predispõem os pacientes à tromboflebite
superficial, incluindo trauma e cirurgias mamárias, os quais serão abordados
neste artigo, contudo a patogênese ainda é incerta, uma vez que se trata de uma
doença rara [4].

Objetivo

O objetivo desse artigo é discutir um caso raro de uma paciente com
síndrome de Mondor a qual passou por um procedimento de mastopexia com
implantes de mamas

Método

Este trabalho é um relato de caso que objetiva apresentar um caso de
uma paciente com Síndrome de Mondor. A busca bibliográfica foi realizada nas
plataformas: PubMed, Web of Science, Google Scholar. Os descritores utilizados
na busca foram: " Síndrome de Mondor", " tromboflebite superficial", "mama",
"epidemiologia", "etiologia", "fisiopatologia", "quadro clínico", "diagnóstico" e
"tratamento". As palavras-chave foram combinadas usando os operadores
booleanos "E" e "OU". Os critérios de inclusão foram: artigos originais, revisões
e relatos de caso publicados nos últimos 20 anos, em inglês, espanhol ou
português, que abordassem aspectos fisiológicos, sociais e médicos em
pacientes com a rara Síndrome de Mondor. Os dados extraídos foram
sintetizados e apresentados de acordo com os tópicos de interesse. Cada artigo
foi avaliado com base em vários critérios, incluindo a clareza dos objetivos, a
adequação da amostra, a validade e confiabilidade das informações, a
consideração de possíveis vieses, e a apresentação dos resultados.

Resultado

Paciente C.G do sexo feminino, 34 anos de idade, originaria de
Campinas/SP, solteira, altura 1,60m, IMC de 25,7 kg/m2, procurou serviço de
cirurgia plástica com queixa de mamas caídas, conforme observado nas (Figura1 ). Paciente, sem histórico de fenômenos tromboembólicos e trombofilias na
família, faz uso de anticoncepcional oral regular, apresenta histórico de câncer
de mama por parte de avó paterna. Ao exame físico apresenta ptose mamaria
grau 1 mais evidente em mama esquerda, e lipodistrofia de pilar axilar anterior,
com CAP de 20,5 a direita e 21 a esquerda. Como antecedentes cirúrgicos
pessoais relata 1 cesariana há 8 anos e 1 septoplastia há 7 anos sem
intercorrências relatadas. Nega tabagismo, hipertensão arterial sistêmica e
diabetes mellitus. Foram solicitados exames de rotina como hemograma,
coagulograma, radiografia de tórax, e ultrassom de mamas, o qual foi
evidenciado cistos simples, linfonodos intramamários, fibroadenomas e outras
lesões tipicamente benignas ( BIRADS 2 ).
Foi submetida a mastopexia com implantes poliuretano 225 HI, associado
a Ninfoplastia, ambas cirurgias realizadas concomitantemente no dia 29 de
janeiro de 2024. Após 17 dias de pós-operatório queixou-se de inchaço e leve
dor com início súbito na superfície na região inferior da cicatriz horizontal da
mama esquerda, associada à dor na região que piora com a elevação do
membro ipsilateral. Ao realizar o exame físico foi evidenciado um cordão fibrótico
endurecido (Figuras 2 e 3), com áreas de moderada hiperemia, sensibilidade
alterada ao longo da área afetada com desconforto ao toque e pressão. Além
disso, no momento em que a paciente eleva o membro superior esquerdo a dor
e o cordão eram mais evidentes.
Após confirmar a suspeita de Síndrome de Mondor através da queixa da
paciente e do exame físico, foi instituído orientação de aplicar compressas
quentes sob o cordão fibrótico, com intuito de diminuir a inflamação. Além de
realizar massagem no local. Juntamente com terapia oral com uso de anti
inflamatório, para aliviar a dor e a inflamação. Com a terapia proposta a paciente
apresentou melhora do quadro com remissão completa, constatada no retorno
realizado de 3 meses pós-operatório. ( Figura 4 )

Discussão

A rara Síndrome de Mondor afeta mais mulheres do que homens, numa
relação próxima de 10:1, e sua incidência varia de 0,07 a 0,96%, sendo maior na
faixa etária média de 43 anos. O quadrante superior externo é a região da mama
mais frequentemente afetada, mas a doença também pode acometer outras
áreas da mama, das axilas e, no caso dos homens, do pênis, sendo comumente
lesões unilaterais. Os vasos mais frequentemente afetados são segmentos da
veia tóraco-epigástrica, veia torácica lateral e veia epigástrica superior. Entre
causas já citadas, todas elas em algum grau estão relacionadas à tríade de
Virchow, lesão do vaso, estase sanguínea ou estado de hipercoagulabilidade.
Na doença de Mondor embora haja comprometimento venoso, pode também
ocorrer comprometimento linfático. Alguns marcadores imunohistoquímicos,
como CD31 e D240, foram apresentados para diferenciação, contudo, sua
aplicação clínica é limitada, uma vez que o tratamento sintomático continua o
mesmo para ambos os casos[5,6]. A maior preocupação com relação a Síndrome
de Mondor é a sua relação com carcinoma mamário, que chega até 12% dos
casos[7].
Clinicamente, os principais sintomas são dor, aumento do volume
mamário e retração da pele ao nível do vaso trombosado. Ao exame físico, os
principais achados são um cordão fibroso ou massa palpável, que comumente
aparecem em poucos dias de pós operatório, assim como foi descrito no relato
de caso da paciente. Outros sintomas menos comuns são febre, equimose e
inflamação da pele, além de casos assintomáticos.A mamografia é, geralmente,
o primeiro exame a ser solicitado para pacientes com queixas sugestivas de
tromboflebite superficial da mama, pois descarta a possibilidade de câncer não-
palpável associado. A ultra-sonografia é um método complementar que também
pode ser útil no diagnóstico[8].
O diagnóstico é geralmente clínico e é de fundamental importância que
seja realizado no pós-operatório para possibilitar o acompanhamento e a
tranquilização dos pacientes, além do tratamento adequado. Dessa forma,
conhecer a epidemiologia, etiologia, manifestações clínicas e tratamentos é
crucial. Diante disso, na maioria dos casos, os sintomas se resolvem em duas a
seis semanas e o vaso trombosado palpável desaparece dentro de seis a sete
meses, como o caso apresentado neste trabalho, o qual houve remissão em 3
meses.

Conclusão

A Síndrome de Mondor constitui uma enfermidade rara e benigna do
sistema venoso superficial na região das mamas, frequentemente relacionada a
fatores como trauma local, procedimentos cirúrgicos e o uso de implantes de
silicone. A sua identificação é crucial para evitar diagnósticos errôneos e
intervenções desnecessárias, uma vez que a patologia possui um curso benigno
e autolimitado. O tratamento recomendado é conservador, focando em medidas
sintomáticas como o uso de anti-inflamatórios e analgésicos. Além disso, é
importante reforçar a necessidade de um acompanhamento clínico para
tranquilizar a paciente e monitorar a progressão da condição. Reconhecer e
documentar a relação entre a Síndrome de Mondor e o uso de implantes de
silicone pode contribuir para uma melhor compreensão e gestão dessa condição
em práticas clínicas futuras.

Referências

1. Santos J. Doença de mondor em cirurgia estética de mama. Revista Brasileira
de Cirurgia Plástica [Internet]. 2001 Jan 1 [cited 2024 Apr 25];29(2):187–9.
Available from: https://www.rbcp.org.br/details/1514/pt-BR/doenca-de-mondor-
em-cirurgia-estetica-de-mama
2. Faucz RA, Hidalgo RT, Faucz RS. Doença de Mondor: achados mamográficos
e ultra-sonográficos. Radiologia Brasileira [Internet]. 2005 Apr 1 [cited 2022 Apr
4];38:153–5. Available from:
https://www.scielo.br/j/rb/a/8rxm4fknG67ys3CrNPM36ng/?lang=pt#:~:text=A%2
0doen%C3%A7a%20de%20Mondor%20da
3. Amano, Masayuki, and Taro Shimizu. “Mondor's Disease: A Review of the
Literature.” Internal medicine (Tokyo, Japan) vol. 57,18 (2018): 2607-2612.
doi:10.2169/internalmedicine.0495-17
4. Silva AM, Martins R, Lima CA, Gomes AF. Síndrome de Mondor Pós
Reconstrução Mamária. INCA; [data desconhecida]. Disponível em:
https://ninho.inca.gov.br/jspui/bitstream/123456789/11424/1/S%C3%ADndrome
%20de%20Mondor%20P%C3%B3s%20Reconstru%C3%A7%C3%A3o%20Ma
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5. IChinose A, Fukunaga A, Terashi H, Tanemura A, Nakajima T,Fukasawa Y A,
et al. Objective recognition of vascular lesions in Mondor’s disease by
immunohistochemistry. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2008; 22(2):168-73.
6. Garrido HA, Muñoz CS, Fernandez L P, Ríos AA, Romero AM.
Immunochemical clues to the diagnosis of Mondor’s Disease of the penis. Clic
Exp Dermatol. 2009; 34(8):e663-5.
7. Catania S, Zurrida S, Veronesi P, Galimberti V, Bono A, Pluchinotta A.
Mondor's disease and breast cancer. Cancer 1992;69:2267-70.
8. Faucz RA, Hidalgo RT, Faucz RS. Doença de Mondor: achados mamográficos
e ultra-sonográficos. Radiologia Brasileira [Internet]. 2005 Apr 1 [cited 2022 Apr
4];38:153–5. Available from:
https://www.scielo.br/j/rb/a/8rxm4fknG67ys3CrNPM36ng/?lang=pt#:~:text=A%2
0doen%C3%A7a%20de%20Mondor%20da

Palavras Chave

Sindrome de Mondor; tromboflebite superficial; cordão fibrótico

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Santa Casa de Campinas - Serviço Prof. Dr.Ricardo Baroudi - São Paulo - Brasil

Autores

PATRICIA VIRGINIA LEON CRUS, RODRIGO PINTO GIMENEZ , THATIANA AMBROGINI JUSTINO, CAMILA CAMILOTI LISBOA, MAÍRA BIANQUIM TORREZAN, ANA HECKTHEUER CANZI