Dados do Trabalho
Título
LIPOENXERTIA MAMARIA EM MAMAS COM MULTIPLAS ABORDAGENS PREVIAS
Resumo
Apresentamos o caso de uma paciente com sete abordagens mamárias prévias, evoluindo com área cicatricial e de fibrose bilateralmente. Optado pela tentativa de lipoenxertia, considerando o histórico de complicações tardias com uso de próteses de silicone.
Introdução
Paciente S.S.A, 63 anos, com história de implante mamário em 1998, deu entrada no serviço em 2019 apresentando contratura capsular grau IV. Realizada então mastopexia com troca de próteses em junho/2019. Paciente evoluiu após 11 meses com hematoma tardio a direita, sendo necessária reabordagem e explante ipsilateral. Em agosto/2021 submeteu-se a nova mastopexia, com inclusão de prótese a direita e troca a esquerda, data em que a paciente já apresentava contratura grau III a esquerda. Em 2023 paciente retorna ao ambulatório apresentando contratura grau III bilateralmente novamente. Realizada então em agosto/2023 nova mastopexia com troca de próteses, sendo em todas ocasiões desde a entrada no serviço o uso de próteses texturizadas. Aos 20 dias de PO paciente deu entrada na intercorrência com hematoma bilateral, o qual foi drenado em centro cirúrgico. Aos 40 dias de PO apresentou novo hematoma, sendo então optado pelo explante bilateral. Investigada quanto a síndrome ASIA ( síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante), sem critérios presentes para fechar o diagnóstico. Após acompanhamento com hematologista diagnosticado deficiência de fator V de Leiden e deficiência de proteína C, predisposto a um estado pró trombótico,o que não justifica o quadro. Optado então pela lipoenxertia mamária bilateral, o qual foi realizada em 2024.
Os primeiros casos de lipoenxertia mamária foram descritos em 1985 por Vicent Czerny, sendo a técnica de Coleman proposta em 1995 a mais utilizada atualmente. Coleta-se gordura geralmente da região abdominal por lipoaspiração e após decantação, filtragem ou centrifugação é realizada a enxertia[1]. A gordura é um material autólogo, de baixa imunogenicidade e fácil obtenção, sendo considerado ideal para refinamento e preenchimento em cirurgias estéticas e reparadoras[1]. Deve –se considerar o grau de absorção do enxerto, o qual pode variar até 43,5% em alguns casos[2].
No presente relato, o volume a ser preenchido para reparo foi limitado pela extensa área cicatricial, prejudicando o resultado estético desejado inicialmente, apesar de planejamento de novas enxertias no futuro.
Objetivo
Descrever a técnica de lipoenxertia mamária em mamas abordadas previamente, porém alternativa para pacientes com quadro de intolerância a prótese mamária, na tentativa de uma melhor qualidade de vida e resultado estético aceitável ao paciente.
Método
Foi realizada incisão umbilical e em fossas ilíacas bilateralmente de 5mm com uso de lâmina 15 para passagem de cânulas. Infiltração de área (abdome) a ser lipoaspirada com cânula de pequeno calibre com solução salina 0,9% com diluição 1:500000 de adrenalina. Realizada lipoaspiração com vácuo de baixa pressão utilizando cânula de 4mm, sendo aspirados 600ml e separados em seringas de 60ml par decantação. Posteriormente aspirados 150ml com uso de cânulas de 2mm e deixado para decantação em frasco intermediário, separada da gordura inicial. Após decantação, transferidas separadamente as gorduras para seringas de 10ml, totalizando 500ml de gordura íntegra e 60ml de nano fat.
Devido a área de fibrose importante (figura 1), optado pela realização de subcisão em área de retração com uso de agulha 40x12, previamente a enxertia.
Prosseguiu-se com lipoenxertia em etapas, com uso de cânulas de 2mm e seringas de 10mm, pelo método de retroinjeção, avaliando a distensão da pele, dificultada pela área cicatricial. Ao final conseguiu-se 250ml de gordura e 30ml de nano fat em cada mama.
Resultado
: A paciente apresentou aumento discreto das mamas (figura 2,3,4), apesar de volume moderado enxertado, entretanto melhora substancial da retração, possibilitando resultados mais satisfatórios em enxertias subsequentes.
Apesar de única etapa ainda, paciente mostrou-se satisfeita com resultado, principalmente devido a melhora da cicatriz.
Discussão
A lipoenxertia é uma boa forma de tratar os efeitos ocasionados pelas por doenças crônicas e insatisfações cosméticas, podendo ser feito de maneira única ou combinada com outras abordagens[3]. Na paciente em questão, devido a complicações inúmeras com uso de próteses, a lipoenxertia mostrou-se como alternativa mais viável.
A reconstrução com gordura fornece uma mama macia, de aspecto natural, com baixa taxa de complicação. Entretanto, como todo procedimento cirúrgico, algumas complicações podem ocorrer, sendo elas: pseudocistos liponecróticos, infecção, granuloma, hematoma, necrose gordurosa e fibrose[4,5].
Embora a técnica proposta por Coleman forneça menores taxas de complicação e reabsorção [3], no referido caso foi empregada a técnica parecida com a relatada por Illouz et al [6]-decantação manual da gordura aspirada e enxertia de volumes fracionados, com múltiplas abordagens até o resultado final esperado. Diferentemente do último, a limitação deu-se pela área cicatricial e não distensão da pele, não apenas por tática cirúrgica.
Como vantagem de múltiplas abordagens, tem-se a menor taxa de reabsorção, sendo perdidos até 40% na primeira etapa e entre 20-30% em uma segunda sessão.
Após a realização da lipoenxertia, relatos descreveram achados radiológicos que sugerem a formação de calcificações e nódulos nas mamas, que em um primeiro momento poderiam ser confundidos com câncer de mama[7]. Porém, os métodos de imagem atuais permitem aos radiologistas a diferenciação entre doenças benignas e malignas nestes casos, tendo ainda o USG papel fundamental no acompanhamento de qualquer paciente pós lipoenxertia mamária [8].
Conclusão
A gordura é um material versátil com finalidades estéticas e reconstrutoras no cenário da cirurgia atual. De maneira combinada ou isoladamente, apresenta-se como fácil obtenção e baixos índices de complicação. A depender do caso, o volume a ser injetado e o resultado diferem. No caso em questão foi optada pela lipoenxertia mamária isolada devido a história pregressa da paciente, sendo necessárias sessões futuras para um melhor resultado.
Referências
1- de Hollanda, M. L., de Oliveira, D. F. V., & Castro, G. G. de A. (2024). Avaliação da lipoenxertia em reconstrução mamária. Cuadernos De Educación Y Desarrollo, 16(1), 1691–1700. https://doi.org/10.55905/cuadv16n1-087
2- Howes BHL, Fosh B, Watson DI, Yip JM, Eaton M, Smallman A, et al. Autologous fat grafting for whole breast reconstruction. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2014 Mar;2(3):e124.
3- Lara TM, Pereira VRP, Pascual LAL. Lipoenxertia na reconstrução mamária após tratamento do câncer de mama: revisão de literatura. Rev. Bras. Cir. Plást.2021;36(2):196-202
4- Hoppe DL, Ueberreiter K, Surlemont Y, Peltoniemi H, Stabile M, Kauhanen. Breast reconstruction de novo by water-jet assisted autologous fat grafting - a retrospective study. Ger Med Sci. 2013;11:Doc17.
5- Kim H, Yang EJ, Bang SI. Bilateral liponecrotic pseudocysts after breast augmentation by fat injection: a case report. Aesthetic Plast Surg. 2012 Abr;36(2):359-62
6- Illouz YG, Sterodimas A. Autologous fat transplantation to the breast: a personal technique with 25 years of experience. Aesthetic Plast Surg. 2009 Sep;33(5):706-15. doi: 10.1007/s00266-009-9377-1. Epub 2009 Jun 4. PMID: 19495856
7- Howes BHL, Fosh B, Watson DI, Yip JM, Eaton M, Smallman A, et al. Autologous fat grafting for whole breast reconstruction. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2014 Mar;2(3):e124.
8- Panettiere P, Accorsi D, Marchetti L, Sgrò F, Sbarbati A. Large-breast reconstruction using fat graft only after prosthetic reconstruction failure. Aesthetic Plast Surg. 2011 Out;35(5):703-8.
Palavras Chave
Mastopexia. Lipoenxertia. Mamas.
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
HGG - Goiás - Brasil
Autores
YURI KOSSA BARBOSA, BRUNO GRANIERI OLIVEIRA ARAUJO, JOAOZINEI FRANCISCO ROCHA, RENAN MIRANDA SANTANA, WHAINE MOREIRA ARANTES FILHO, CAROLINA GABRIELA FARIA