Dados do Trabalho
Título
RECONSTRUÇAO DE TRAUMA NASAL COMPLEXO APOS MORDEDURA CANINA: RELATO DE CASO
Resumo
Traumas faciais são relativamente frequentes na prática clínica. A avaliação e manejo iniciais adequados são de fundamental importância para o desfecho funcional e estético final. Nesse escopo, o trauma nasal destaca-se por ser uma área relativamente exposta da face e, assim, suscetível a traumas pelos mais diversos mecanismos. Os defeitos resultantes exigem o emprego de técnicas de reconstrução nasal. O primeiro procedimento de reconstrução nasal foi descrito em 700 a.C na Índia. Ao longo dos anos, as técnicas de reconstrução sofreram diversas modificações, culminando na mais utilizada nos dias de hoje: Retalho frontal paramediano.
Neste relato de caso apresenta-se o resultado estético e funcional satisfatórios após reconstrução nasal de ferimento complexo nasal de etiologia traumática (mordedura de cão), utilizando-se dos conceitos de Menick e Burget, com utilização do retalho frontal associado a estruturação do arcabouço cartilaginoso nasal.
Introdução
M. M. O., masculino, 44 anos, histórico de epilepsia em tratamento medicamentoso e seguimento com Neurologista. Foi vítima de mordedura por cão em face em 29 de Setembro de 2022, sendo trazido por transporte terrestre avançado ao Pronto Socorro do HCFMUSP no mesmo dia. Atendimento inicial conforme protocolo do ATLS, antibioticoprofilaxia, vacinação antitetânica e soroterapia antirrábica. Identificada laceração nasal e labial superior complexa. Avaliado pela equipe de Cirurgia Plástica e programada reconstrução estagiada.
Objetivo
O presente estudo tem como objetivo relatar um caso de reconstrução facial após trauma nasal complexo por mordedura canina utilizando o retalho frontal paramediano.
Método
Revisão de prontuário, literatura médica e documentação fotográfica dos procedimentos cirúrgicos realizados.
Resultado
Paciente foi levado ao Centro Cirúrgico e submetido à desbridamento de tecidos desvitalizados, lavagem da ferida e fechamento primário de áreas no qual era viável no dia 30 de Setembro de 2022. Evoluiu de maneira satisfatória, recebendo alta hospitalar na semana seguinte. Após seguimento ambulatorial, foi submetido a um retalho frontal paramediano em 14 de março de 2023, com adequada cobertura nasal. Posteriormente, foi realizado procedimento para emagrecimento do retalho frontal e estruturação nasal com enxerto cartilaginoso costal em 09 de Maio de 2023. Em 30 de Maio de 2023, foi submetido a liberação do retalho frontal e, após seguimento ambulatorial, foi submetido a novo emagrecimento do retalho em 21 de Novembro de 2023, com resultado final funcional e estético satisfatório.
Discussão
Os traumas faciais complexos frequentemente demandam reconstrução estagiada, usualmente iniciada por procedimento de desbridamento cirúrgico com posterior programação de cirurgias subsequentes para reabilitação funcional e estética. O nariz corresponde à unidade central da face, apresentando não só importância funcional, mas também na definição e harmonia da face. É constituído por um arcabouço osteocartilaginoso com cobertura de pele fina e delicada. Nos casos de lesões traumáticas nasais, o dividimos em três zonas: Zona I (parte superior do dorso e lateral nasal); Zona II (ponta nasal, alares e 1,5cm acima da transição dorso-ponta); Zona III (metade inferior da ponta nasal, columela, soft triangule, 4mm das alares inferiormente). Em ferimentos lineares e superficiais, o fechamento primário através de sutura com pontos simples e fios finos inabsorvíveis após limpeza e desbridamento cirúrgico é a melhor conduta. Em casos de ferimentos com perda de substância, devemos avaliar sua extensão de acordo com acometimento de uma ou mais Zonas nasais. Apesar de várias técnicas serem descritas, o retalho frontal paramediano é de particular segurança e confiabilidade para reconstrução nasal, considerando sua vascularização pela artéria supratroclear, o fato da pele da região frontal ser a mais semelhante em cor e textura com a do nariz e a possibilidade de ser desenhado das mais diversas formas para cobrir diferentes tipos de defeitos nasais. De acordo com Menick (2010) a cirurgia pode ser realizada em três ou mais estágios: primeira fase compreendendo a confecção do retalho propriamente dita, fases de emagrecimento/“debulking" e última fase de secção do pedículo. Usualmente a área doadora é aproximada com sutura primária ou deixada para cicatriz por segunda intenção. Caso necessário, uma ou mais fases de confecção e aprimoramento do retalho frontal paramediano pode ser associada a enxertia cartilaginosa para melhor estruturação nasal.
Conclusão
Em caso de ferimentos nasais complexos, uma das formas de reconstrução com melhor resultado funcional e estético é o retalho frontal paramediano, associado ou não a enxerto cartilaginoso. Este tipo de reconstrução permite a transferência de tecido para a região nasal de forma eficiente e segura, com cobertura semelhante à nasal, boa viabilidade e pouca morbidade da área doadora.
Referências
1. Cintra HPL; et al. Uso do retalho médio-frontal na reconstrução do nariz. Rev Bras Cir Plást. 2013;28(2):212-7.
2. Costa MJM. Versatilidade do retalho médio-frontal nas reconstruções faciais. Rev Bras Cir Plást. 2016;31(4):474-80.
3. Gemperli R; et al. Fundamentos da Cirurgia Plástica. Rio de Janeiro. Thieme Publicações Ltda. 2015
4. Menick FJ; et al. Nasal reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2010 Abr;125(4):138e-50e.
5. Menick FJ; et al. Nasal reconstruction: forehead flap. Plast Reconstr Surg. 2004;113(6):100e-11e.
6. Menick FJ; et al. A 10-year experience in nasal reconstruction with the three-stage forehead flap. Plast Reconstr Surg. 2002 Mai;109(6):1839-55;discussion:1856-61.
7. Pereira CM; et al. Reconstrução nasal com retalho frontal paramediano após ressecção oncológica. Rev. Bras. Cir. Plást. 2020;35(3):373-377
Palavras Chave
RECONTRUÇÃO NASAL
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
USP-SP - São Paulo - Brasil
Autores
DANIEL MERINO NASCIMENTO, JOSE AUGUSTO KLOSER FUGANTI, DANIEL DE ALMEIDA ROCHA VALENTE, ENDRIGO BASTOS OLIVEIRA, NIVALDO ALONSO