Dados do Trabalho
Título
QUEIMADURA TERMICA POR ENDOLASER - RELATO DE CASO COM ENXERTIA DE PELE APOS LESAO GRAVE EM MEMBRO INFERIOR
Resumo
Este trabalho apresenta 01 relato de caso de uma paciente ICOB feminina, 40 anos, atendida pelo Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica que sofreu uma queimadura de pele em membro inferior após tratamento estético com endolaser em serviço externo por um profissional sem formação médica em uma clínica de estética. A paciente apresentou eritema no local previamente tratado, dor e formação de bolhas. Gradualmente, a lesão evoluiu com uma úlcera profunda de 3º grau. A discussão aborda as funções do endolaser, as potências utilizadas e os possíveis mecanismos que levaram à queimadura. A conclusão enfatiza a importância da técnica adequada e do monitoramento cuidadoso durante o procedimento para prevenir complicações, além de questões como a importância de se buscar um profissional médico habilitado para execução de procedimentos validados e respaldados pelo conhecimento científico, a fim de minimizar riscos e danos à saúde.
Introdução
O endolaser com fins estéticos conhecido como endolifting é a utilização da fibra ótica no tecido celular subcutâneo é muito controverso e foi descrito inicialmente usando lasers de diodo e Er:Yag com comprimentos de onda variando de 920nm a 1440 nm. Atualmente, esta técnica se popularizou e o mercado adotou o laser diodo com comprimento de onda de 1470 nm como seguro e eficaz para a técnica endolifting, sendo utilizado na tentativa como procedimento de lipólise, devido sua capacidade descrita de melhor função sob gordura em relação à fluidos como água. Assim, teoricamente o laser teria melhor absorção pela gordura do que pela água, o que proporciona uma lipólise sem necessidade de alta energia. Os defensores da técnica propõem uma alternativa não cirúrgica visando a redução do tecido de gordura e minimizando também a flacidez da pele como uma resposta secundária. Alguns estudos anteriores mostraram que o laser endolift é um método eficaz para tratar a flacidez da pele do terço inferior da face e melhorar as rugas da testa e linhas de expressão (1-3).
A técnica do endolaser previamente usada no tratamento de varizes, também conhecido como ablação endovenosa a laser (EVLA), é uma técnica minimamente invasiva amplamente utilizada para tratar insuficiência venosa crônica. O procedimento envolve a inserção de uma fibra laser na veia afetada, onde a energia laser é aplicada para causar a oclusão da veia. Embora seja considerado seguro e eficaz, complicações podem ocorrer, incluindo queimaduras de pele. Este relato de caso descreve uma queimadura de pele em membro inferior em uma paciente feminina jovem submetida a tratamento com endolifting para fins estéticos feito por um profissional não médico (4-6).
Objetivo
Relatar um caso de queimadura de pele em membro inferior após tratamento com endolaser no tecido celular subcutâneo para fins estéticos, discutir as funções e potências do endolaser, e analisar os possíveis mecanismos que levaram à complicação, com o objetivo de fornecer insights para a prevenção de tais eventos adversos.
Método
Relato de caso atendido pela equipe do Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica (IBCP). Utilizou-se de referência para citação e busca bibliográfica artigos indexados no Pubmed e Scielo localizados através dos descritores citados em associações booleanas and e or.
Resultado
Imagem 1. Lesão ulcerada com capa necrótica causada por queimadura térmica pós-endolift. Imagens com evolução pós enxertia de pele parcial em membro inferior.
Discussão
O endolaser foi utilizado inicialmente para tratar varizes através da ablação térmica da veia afetada. A energia do laser é entregue diretamente na parede da veia, causando aquecimento e subsequente colapso e fibrose dessa estrutura. As principais funções do endolaser incluem: oclusão venosa da veia patológica, redirecionando o fluxo sanguíneo para veias saudáveis; redução de sintomas de estase venosa em membros inferiores, associado à uma melhora estética pela redução da aparência das varizes (7).
A potência do endolaser pode variar dependendo do tipo de laser e do protocolo utilizado. As potências típicas utilizadas variam de 5 a 15 watts, com comprimentos de onda comuns entre 810 nm e 1470 nm. A escolha da potência e do comprimento de onda depende de fatores como o diâmetro da veia e a profundidade da veia tratada (8-9).
O endolaser para uso no tecido celular subcutâneo (endolifting) propõe tratar gordura ao liberar energia térmica diretamente no tecido adiposo e flacidez ao estimular a síntese de colágeno, com algumas pesquisas mostrando alguns resultados a favor dessa técnica não cirúrgica (10-11).
O caso em questão, paciente feminina ICOB 40 anos, sem comorbidades, foi submetida a endolaser para fins estéticos com potência desconhecida por um profissional não médico. Uma semana após o procedimento, a paciente apresentou eritema, dor intensa e formação de bolhas na área tratada, indicando uma queimadura de pele. Gradualmente, a lesão foi adquirindo aspecto de necrose profunda e ao ser desbridada observou-se tratar-se de uma úlcera de 3º grau. Uma queimadura de terceiro grau é uma lesão que envolve todas as camadas da pele, incluindo a epiderme, derme e tecidos subcutâneos. Quando uma queimadura causada por endolaser atinge essa profundidade, a área afetada pode evoluir para uma úlcera de terceiro grau. As características dessa úlcera incluem a necrose tecidual; morte dos tecidos devido à destruição térmica; perda de sensação devido à destruição das terminações nervosas; risco de infecção.
A aplicação de energia laser excessiva pode causar aquecimento em maior grau dos tecidos adjacentes, resultando em queimaduras, cuja causa pode decorrer do posicionamento inadequado da fibra. Além disso, um insuficiente resfriamento durante o procedimento pode contribuir para o aquecimento da pele e lesões por contiguidade.
A paciente foi tratada com cuidados locais, incluindo aplicação de pomadas antibióticas e curativos estéreis e uma enxertia de pele parcial cuja área doadora foi a coxa ipsilateral e terapia com curativo à vácuo. Como forma de prevenção de complicações, salienta-se a importância da utilização de técnicas e procedimentos devidamente validados pela literatura científica e realizada por médicos devidamente qualificados tanto na técnica de aplicação quanto no manejo de suas potenciais complicações.
Conclusão
O endolaser é um tratamento eficaz para varizes, quando usado no tecido celular subcutâneo é conhecido como endolifting, mas complicações como queimaduras de pele podem ocorrer. Este relato de caso destaca a importância da técnica adequada, do monitoramento cuidadoso e da realização do procedimento por médicos devidamente qualificados tanto na aplicação do procedimento quanto no manejo das complicações. A compreensão dos mecanismos que levam a queimaduras pode ajudar a melhorar a segurança e a eficácia do procedimento.
Referências
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10. Nilforoushzadeh MA, Heidari-Kharaji M, Fakhim T, Hanifnia A, Nouri M, Roohaninasab M. Endolift laser for jowl fat reduction: clinical evaluation and biometric measurement. Lasers Med Sci. 2022 Jul;37(5):2397-2401. doi: 10.1007/s10103-021-03494-9. Epub 2022 Jan 27. PMID: 35083532.
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Palavras Chave
endolaser; endolift; queimadura
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
INSITUTO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA - São Paulo - Brasil
Autores
ADDLER STEVE QUEZADA PALACIOS, JAVÉ OLIVEIRA VALDEVIÑO, NATHALIA CRISTINA SANTOS STUCCHI FERREIRA, ISABELLA MARTINS MORO, LUCAS RODRIGUES OLIVEIRA, JOSÉ ARIMATÉIA MENDES