60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

AMAMENTAÇAO APOS MAMOPLASTIA REDUTORA COM OU SEM IMPLANTE

Resumo

O artigo discute a influência da mamoplastia redutora com ou sem implantes na capacidade de amamentação das mulheres. A amamentação é reconhecida pela OMS como crucial para a saúde infantil e materna, mas cirurgias mamárias podem afetar a lactogênese devido à redução de tecido mamário e possíveis danos aos ductos lactíferos durante a cirurgia e cicatrização.

O estudo envolveu 48 mulheres que passaram por mamoplastia entre 2007 e 2023. Das participantes que já eram mães antes da cirurgia, 93% conseguiram amamentar, com 37,5% necessitando de suplementação com fórmulas. Entre aquelas que se tornaram mães após a cirurgia, 80% conseguiram amamentar, com metade delas suplementando com fórmulas nos primeiros quatro meses.

Os resultados indicam que a maioria das mulheres submetidas à mamoplastia redutora conseguiu amamentar com sucesso, sugerindo que o procedimento não comprometeu significativamente a capacidade de lactação. No entanto, algumas participantes relataram dificuldades em esvaziar as mamas apesar da produção lactífera adequada.

Conclui-se que, embora procedimentos cirúrgicos mamários possam influenciar a amamentação, especialmente quando envolvem os mamilos, a mamoplastia redutora geralmente preserva a capacidade de amamentação. Cirurgiões devem considerar cuidadosamente os potenciais impactos na lactação ao discutir opções com pacientes jovens que planejam gestar após a cirurgia.

Introdução

Foi demonstrado que a amamentação oferece benefícios substanciais para a saúde infantil e materna 1,2. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo de bebês/recém-nascidos até os seis meses de idade, com aleitamento materno continuado junto com alimentos complementares adequados até os dois anos de idade ou mais3. A meta global é uma taxa de 50% de amamentação exclusiva aos seis meses até 2025; atualmente a taxa está em 38%4. Segundo dados do Ministério da Saúde em 2022 o percentual de crianças brasileiras com menos de 6 meses alimentadas exclusivamente com leite materno era de cerca de 46%5.

Os artigos disponíveis sobre o desempenho da lactação após a cirurgia de redução mamária são bastantes desiguais e sem grupos controles adequados. Aboudib et al.6 relataram amamentação normal em 91% de 11 pacientes submetidas à mamoplastia redutora de Pitanguy. Sandsmark et al.7 relataram 65% de sucesso na amamentação em 292 mulheres submetidas à redução de mama por seis técnicas diferentes. Marshall et al.8 indicou que 73% das 28 mulheres que realizaram diferentes técnicas de redução mamária antes da gestação conseguiram amamentar no momento da alta hospitalar após o parto. Harris et al.9 encontraram uma taxa de sucesso de 45% em um grupo de 20 pacientes após mamoplastia de pedículo inferior. Brzozowski et al.10, avaliou 37 pacientes após técnica de pedículo inferior, e encontrou uma taxa de sucesso de 62%. A revisão de literatura demonstra uma ampla variação, 45 a 91 por cento, na taxa de sucesso da amamentação após a cirurgia de redução mamária com transposição pedicular do complexo aréolo-mamilar.11


A mamoplastia redutora, segundo Censo de 2018 da SBCP12, é a quarta cirurgia mais realizada no Brasil. Juntamente com a grande procura desta cirurgia, vemos as dúvidas quanto ao procedimento, principalmente, para pacientes jovens que têm desejo de gestar. Sendo um dos principais questionamentos referente a amamentação, entre outras como cicatrizes, sensibilidade da mama, evolução da mama com o tempo ou após gravidez e amamentação. A experiência dos cirurgiões e estudos realizados não conseguem prever com exatidão a probabilidade das pacientes conseguirem amamentar no pós-operatório devido a estudos com N baixos ou com controles inadequados, assim como, aos múltiplos fatores que podem prejudicar ou beneficiar o ato de amamentar.

Fisiologicamente, três estágios da lactogênese foram descritos. Durante o estágio I, que ocorre no meio da gravidez, ocorre diferenciação secretora do epitélio alveolar lobular, mas a glândula permanece quiescente. Esse período de quiescência depende da presença de níveis elevados de progesterona circulante. O estágio II, início da secreção de leite, inicia-se 2 a 3 dias após o parto por uma queda da progesterona plasmática, enquanto o nível de prolactina permanece alto.13 Enquanto a secreção de prolactina continuar e o leite for removido da glândula, a função madura da mama é mantida. Finalmente, o estágio III é caracterizado pela manutenção da lactação estabelecida.

Para se ter uma amamentação bem-sucedida dois fatores são, sabidamente, necessários, sendo, inicialmente, a manutenção da conexão entre a glândula mamária e o mamilo através dos ductos mamários. A desconexão dos ductos impede que o leite produzido na glândula seja exteriorizado durante a amamentação. Segundo fator é a preservação da maior quantidade possível de glândula mamária, responsável pela produção do leite. Mesmo não tendo sido definido a quantidade de tecido necessário, uma maior preservação, possivelmente, aumentará a chance de sucesso na amamentação.

Objetivo

O objetivo do nosso estudo foi demonstrar a porcentagem de mulheres que tiveram sucesso na amamentação após terem sido submetidas a mamoplastia redutora com ou sem implantes e comparar com o sucesso de mulheres com perfis semelhantes sem cirurgia mamária. Além disso, discutiremos possíveis fatores prejudiciais, baseados na literatura e nas respostas das entrevistadas. Ao final, poderemos transmitir para as nossas futuras pacientes dados confiáveis e detalhados sobre os possíveis impactos da cirurgia na amamentação, permitindo que as pacientes tomem decisões informadas sobre seu tratamento.

Método

Trata-se de uma pesquisa descritiva qualitativa e quantitativa, desenvolvida na cidade de Brasília- DF, com mulheres que foram submetidas a mamoplastia redutora com e sem implante de silicone. Participaram mulheres que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: realizaram cirurgia de mamoplastia redutora primária com a autora e tiveram gestação após a cirurgia no período de junho de 2007 a julho de 2023. Como critérios de exclusão, consideraram-se aquelas mulheres que não tiveram filhos após a cirurgia, que não responderam ao questionário ou não assinaram o temos de consentimento livre e esclarecido. O grupo controle dessa pesquisa foram as mulheres também submetidas a mamoplastia redutora primária com a autora mas que já haviam tido filhos antes da cirurgia.
Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário feito na plataforma “Formulários Google” que foi enviado para as pacientes selecionadas. Nele, continham perguntas sobre qual foi a cirurgia realizada, se mamoplastia redutora com ou sem implante; data da cirurgia; se já tinha feito cirurgia das mamas anteriormente e qual o tipo de cirurgia; se havia tido filhos antes da cirurgia, quantidade e se havia conseguido amamentar, por quanto tempo e se houve necessidade de suplementação com fórmulas; e no caso de uma impossibilidade de amamentar algum filho qual teria sido o motivo; quantidade de filhos após a cirurgia; capacidade e tempo de amamentação; possível necessidade de complementação com fórmulas; possível motivo de um insucesso.
Ao todo, participaram do estudo 49 mulheres e os dados obtidos foram analisados de forma objetiva e apresentados através de análise estatística e gráfica.

Resultado

O presente estudo contou com a participação de 48 mulheres que haviam sido submetidas a mamoplastia com pedículo areolado. Destas, 28 não implantaram próteses de silicone e 20 implantaram. Elas foram submetidas a cirurgia entre os anos de 2007 e 2023.
Do total das participantes, 32 delas haviam sido mães antes do tratamento das mamas e 30 responderam que tiveram sucesso no processo de amamentação. Desta forma, podemos concluir uma taxa de sucesso natural na amamentação de 93% das mães. Destas entrevistadas, 12 delas, ou seja, 37,5%, afirmaram suplementação com fórmulas na alimentação dos seus filhos.
De todas as participantes, 10 mulheres, tiveram filhos após terem sido submetidas a mamoplastia e 8 afirmaram sucesso no aleitamento. Assim, podemos concluir uma taxa de lactação de 80% entre essas mulheres. Destas, 50% necessitaram suplementar a alimentação dos seus filhos com fórmulas.
As mulheres que tiveram filhos após a manipulação das mamas e que o processo de aleitamento foi frustrado, apontaram como principal motivo do insucesso o fato de não conseguirem esvaziar as mamas apesar de lactação normal.

Discussão

É fato que amamentar é um processo que envolve diversos mecanismos e também são diversos os possíveis fatores prejudiciais. Um deles, a mamoplastia.
A cirurgia plástica das mamas pode afetar a lactogênese devido à redução do tecido mamário, ao possivelmente cortar os ductos lactíferos quando são feitas as incisões ao redor da aréola ou na região inframamária e ao próprio processo de cicatrização. Desta forma, tanto o processo de produção quanto o de retirada do leite estariam prejudicados14.
As técnicas de mamoplastia a que as pacientes do presente estudo foram submetidas foi a mamoplastia com pedículo areolado supermedial com ou sem implante. Via de regra, essas cirurgias incluem a retirada de um triângulo do tecido da junção dos quadrantes inferiores da mama, e o reposicionamento do complexo areolopapilar e da glândula mamária remanescente. Vale lembrar que o polo inferior da mama é uma região pobre em unidades produtoras de leite, tornando a hipogalactia pouco frequente.
Em se tratando do processo de cicatrização as consequências são imprevisíveis sobretudo quando evoluem com alguma complicação como hematoma, seroma e infecção. Portanto, cada caso deve ser avaliado individualmente.
De acordo com as pacientes do estudo, que tiveram filhos antes da cirurgia, 93,8% afirmaram que conseguiram amamentar, 55,2% foi por mais de seis meses e 37,5% dos casos houve a necessidade de suplementação com fórmulas nos 4 primeiros meses de vida.
Dez mulheres afirmaram que tiveram filhos após a cirurgia das mamas feita pela autora. Nove delas tiveram um filho e apenas uma gestou mais de um. Ao responderem o questionário, 80% afirmou ter tido sucesso no processo de aleitamento, sendo 62,5% por mais de seis meses e 50% com necessidade de suplementação com fórmulas nos primeiros 4 meses.
Duas mães afirmaram que gestaram após a mamoplastia e não conseguiram amamentar a sua prole e acreditam que o principal motivo da dificuldade tenha sido não conseguir esvaziar a mama apesar da produção lactífera satisfatória.
Em 2019, foi desenvolvido um estudo encomendado pelo ministério da saúde o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil que teve como objetivo produzir dados estatísticos que subsidiam a avaliação, formulação e reorientação das políticas brasileiras na área de alimentação e nutrição infantil. Concluíram que cerca de 96,2% das crianças brasileiras foram amamentadas alguma vez e 45,8% das crianças receberam aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses15.
Vale ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam manter o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais, oferecendo apenas leite materno até o sexto mês de vida.

Conclusão

Quando os dados obtidos através desta pesquisa são comparados com os estudos do Ministério da Saúde se vê que o número de mulheres que obtém sucesso na aleitação é muito próximo. O que nos leva a acreditar que a mamoplastia redutora mantém a capacidade de amamentação. Portanto, todas as mulheres submetidas à mamoplastia redutora devem ser encorajadas a amamentar.
E cabe a nós, cirurgiões plásticos, conseguir um bom resultado estético final, incluindo boa forma e simetria, volume final e cicatriz. Sempre se preocupando com os resultados a longo prazo e minimizando os riscos de complicações a longo prazo e as consequências das cirurgias plásticas mal executadas.
Portanto, a princípio, qualquer procedimento cirúrgico sobre as mamas pode influenciar no sucesso deste processo mas, felizmente, os procedimentos menores, que não envolvem os mamilos, geralmente não influenciam na lactação

Referências

1. Eldelman AI, Schandler RJ. Pediatrics. 2012;129:e827–841.
2. U.S. Department of Health and Human Services. 2011.
3. World Health Organization. http://www.who.int/topics/breastfeeding/en/. Accessed 22 Dec 2015.
4. World Health Organization. http://www.who.int/nutrition/global-target-2025/en/. Accessed 22 Dec 2015.
5. Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/agosto/assistencia-as-mulheres-em-fase-de-aleitamento-conheca-os-dez-passos-para-o-sucesso-da-amamentacao.
6. Aboudib JH et al. Ann Plast Surg. 1991;26:111.
7. Sandsmark M et al. Scand J Plast Reconstr Hand Surg. 1992;26:203.
8. Marshall DR et al. Br J Plast Surg. 1994;47:167.
9. Harris L et al. Plast Reconstr Surg. 1992;89:836.
10. Brzozowski D et al. Plast Reconstr Surg. 2000;105:530.
11. Cruz NI, Korchin L. Plast Reconstr Surg. 2007;120(1):35-40. PMID: 17572542.
12. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2019/08/Apresentac%CC%A7a%CC%83o-Censo-2018_V3.pdf
13. Neville MC, Morton J. J Nutr. 2001;131:3005S.
14. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). São Paulo: FEBRASGO; 2015.
15. Kac G et al. Cad Saúde Pública 2023;39(Supl 2):e00108923. DOI: 10.1590/0102-311XPT108923

Palavras Chave

amamentação; mamoplastia redutora; Implantes de silicone

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Daher Lago Sul - Distrito Federal - Brasil

Autores

BEATRIZ ZAMBON VILLAS BOAS, MARCELA CAETANO CAMMAROTA, JOSE CARLOS DAHER, IGOR MOURA SOARES, SAULO FRANCISCO DE ASSIS, LUCAS VARGAS DALBOSCO