Dados do Trabalho
Título
GANHO DE PESO PONDERAL E ALTERAÇOES NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM MULHERES SUBMETIDAS A ABDOMINOPLASTIA
Resumo
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Introdução
Introdução
A abdominoplastia é uma das cirurgias plásticas mais realizadas na atualidade. Esta cirurgia ocupava a segunda posição no ranking mundial de procedimento cirúrgicos realizados, e o Brasil foi considerado o 1º no ranking mundial Alterações no comportamento alimentar podem estar presentes antes e após esse processo cirúrgico. Nota-se que o ganho ponderal pode estar intimamente relacionado ao comportamento alimentar e seus determinantes, como influências internas e externas, as quais incluem aspectos nutricionais, demográficos, econômicos, sócio-culturais, ambientais e psicológicos de um indivíduo ou de uma coletividade (VITAGLIANO, 2023) (DE-AGUILAR-NASCIMENTO; 2017) (WEIMANN; 2017)
Na busca pelos padrões estéticos de beleza ideal, por vezes o indivíduo se submete episódios de restrição à compulsão alimentar, transtornos de ansiedade e alterações da imagem corporal (ADAN; 2019). Observa-se que a restrição alimentar está relacionada à menor ingestão alimentar e maior Índice de Massa Corporal (IMC), ou seja, as flutuações ou reganho de peso estão associados às fracassadas tentativas de diminuir ou manter o peso por meio de dietas restritivas ou atitudes alimentares compensatórias com impacto no padrão alimentar, insatisfação da imagem corporal, estilo alimentar emocional e controle da ingestão alimentar, resultando em alterações metabólicas, fisiológicas e de imagem corporal, transtornos alimentares (TA), transtornos de compulsão alimentar (TCA) e episódios de compulsão alimentar (ADAN; 2019) (TREASURE, CLAUDINO, ZUCKER, 2010; CARANO et al. 2012).
Estudos demonstraram um ganho de peso ponderal em mulheres após a abdominoplastia (NAHAS et al., 2005; NAHAS et al., 2011). No entanto, não foram encontrados estudos que relacionassem o comportamento alimentar com o ganho ponderal de peso em mulheres submetidas à abdominoplastia. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento alimentar e o ganho ponderal em mulheres antes e depois de serem submetidas à abdominoplastia.
Objetivo
O objetivo do presente estudo é avaliar o ganho de peso ponderal e as alterações comportamentais alimentares em pacientes femininas submetidas a abdominoplastia
Método
A presente pesquisa é um estudo primário, clínico, longitudinal, intervencional, analítico, realizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Na condução deste projeto foram observadas e seguidas as determinações da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) sob número 777.180/13.
Foram avaliadas 51 pacientes com idade entre 25 e 50 anos, que estavam em acompanhamento no Ambulatório de Cirurgia Plástica do Setor do Abdome do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo.
Foram incluídas pacientes em programação para a cirurgia de abdominoplastia, com deformidades de:
Pele: Tipo III de Nahas, com grande excesso de pele, que permite ressecção do umbigo até o púbis (NAHAS, 2001a);
Plano músculo aponeurótico: Tipo A de Nahas, com diástase de retos secundaria à gestação (NAHAS, 2001b);
Não foram incluídas mulheres com doenças sistêmicas crônicas, hipertensas, tabagistas e pacientes com perdas ponderais acima de 20 kg ou submetidas à cirurgia bariátrica. Foram excluídas as pacientes que foram submetidas a procedimentos cirúrgicos reparadores ou estéticos posteriores à abdominoplastia.
As mulheres que preencheram os critérios de elegibilidade assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Em seguida foi preenchido um protocolo para coleta de dados sóciodemográficos e clínicos. Na sequência, os instrumentos Questionário Holandês de Comportamento Alimentar (QHCA) e Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP) foram auto-aplicados.
Questionário Holandês de Comportamento Alimentar (QHCA)
O instrumento auto-aplicável QHCA foi validado por WARDLE (1987) e adaptado e traduzido para o português por ALMEIDA, LOUREIRO E SANTOS (2001). Consiste em um instrumento composto por três subescalas, as quais avaliam os seguintes estilos alimentares:
Alimentação restrita: estilo alimentar relativo ao conhecimento de hábitos nutricionais adequados e refere-se ao esforço que o indivíduo exerce, regularmente, para controlar o seu apetite e ingestão de alimentos.
Alimentação emocional: estilo alimentar relativo ao estado emocional do indivíduo e representa a perda de controle da ingestão por exposição a fatores de estresse emocional, implicando na desinibição alimentar.
Alimentação externa: estilo alimentar relativo aos atrativos de aroma e sabor dos alimentos e representa a desinibição ou perda de controle que ocorre devido a fatores externos intrínsecos aos alimentos ou à situação social em que são ingeridos.
Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP)
A ECAP é um instrumento auto-aplicável, desenvolvido por GORMALLY et al. (1982), traduzido e adaptado para o português por FREITAS et al. (2001), que se mostra adequado para discriminar indivíduos obesos de acordo com a gravidade do episódio de compulsão alimentar.
O instrumento foi construído em três etapas. Na primeira, foram definidas as características da compulsão alimentar, originando um grupo com 16 itens. Destes, oito eram manifestações comportamentais e oito descreviam sentimentos e cognições relacionados à compulsão alimentar.
Numa segunda etapa, foram construídas afirmativas que refletiam a gravidade de cada característica, às quais foram designados pontos de 0 a 3. Na terceira etapa, os entrevistadores utilizaram três dimensões para criar um critério externo de gravidade do episódio de compulsão alimentar, a freqüência, a quantidade de comida e o grau de emoção envolvido num episódio de compulsão alimentar.
Esse procedimento resultou numa escala Likert constituída por uma lista de 16 itens e 62 afirmativas, das quais deve ser selecionada, em cada item, aquela que melhor representa a resposta do indivíduo. A cada afirmativa corresponde um número de pontos de 0 a 3, abrangendo desde a ausência até a gravidade máxima da compulsão alimentar.
O escore final é o resultado da soma dos pontos de cada item, sendo que os indivíduos são classificados pelos investigadores, de acordo com os seguintes escores: indivíduos com pontuação menor ou igual a 17 são considerados sem compulsão alimentar, indivíduos com pontuação entre 18 e 26 são considerados com compulsão alimentar moderada e aqueles com pontuação maior ou igual a 27, com compulsão alimentar grave.
Avaliação do Estado Nutricional
O estado nutricional das pacientes foi avaliado por meio de entrevista individual e coleta de dados antropométricos. Os dados demográficos e clínicos referentes ao gênero, idade e etnia foram coletados por meio de entrevista e anamnese.
Os dados antropométricos foram coletados segundo os procedimentos descritos abaixo:
A massa corporal foi aferida em quilogramas (kg) por meio de uma balança mecânica da marca Filizola®, com escala de graduação de 100 gramas (g). As pesagens se deram previamente à abdominoplastia e no pós-operatório de seis meses.
Calculou-se o IMC baseado no peso da paciente após a remoção do excedente de pele e gordura retirado durante o processo cirúrgico. Portanto, o IMC considerado como baseline foi aquele calculado a partir da diferença entre o peso inicial, anterior à cirurgia, e o excedente de pele e gordura removido durante a cirurgia.
Resultado
O peso excedente de pele e gordura (EPG) das pacientes submetidas à abdominoplastia foi de 832,90±298,06 g, a porcentagem de EPG (Kg)/Peso pré (Kg) foi de 1,32±0,48%, e o Peso Pre
Após a retirada do EPG, a média de peso das pacientes no baseline (PB) foi considerada de 62,6±6 kg, e no pós operatório de 6 meses (PO6), 64,6 ± 6 kg Verificou-se uma diferença de peso de 2,0±2 kg entre o PB e o PO6, o que revelou uma diferença com siginificância estatística.
A variação relativa do peso das pacientes no pré e pós- operatório de seis meses de abdominoplastia foi de 3,2±3,7% no PO6.
A média do IMC das pacientes no momento pós operatório inicial (POI) foi de 24,4±1,7 kg/m², e de 25,2±2,1 kg/m² no PO6. Os resultados apresentados demonstraram siginificância estatística (p<0,05), com uma diferença entre estes momentos de 0,8±0,9 kg/m², com t= 6,22.
Foi observado uma mudança no nível de classificação do IMC entre os momentos PRE e POS6 (p=0,012) (Tabela 2). Observou-se no PO6 que 56,9% das pacientes apresentavam IMC relativo à pré-obesidade.
O QHCA apresentou diferença entre PRE e PO6 de 4,5±2,4, demonstrando que as pacientes apresentaram significantes alterações nas subescalas que correspondem ao comportamento alimentar (Tabela 3).
Para a característica de alimentção restrita (AREST), os resultados apresentados demonstraram siginificância estatística com uma diferença média de 0,8 entre os períodos avaliados (tabela 3).
Os resultados de alterações na alimentação emocional (AEM) demonstraram siginificância estatística, com uma diferença média de 2,2 entre os períodos (tabela 3).
As pacientes apresentaram alterações na alimentação externa (AEXT), com diferença media de 1,5 entre o PRE e PO6 (Tabela 3).
QHCA: Questionário Holandês de Comportamento Alimentar PO6: Pós-operatório de 6 meses; PRE: Pré-operatório; AREST: Alimentação Restrita; AEM: Alimentação Emocional; AEXT: Alimentação Externa. t de Student / p<0,001 / Nível de significância de 5%.
Foram observadas correlações significantes apenas entre a variação de QHCA e as subescalas: restrita, emocional e externa (Tabela 4).
A gravidade do episódio de compulsão alimentar, avaliada por meio do instrumento ECAP, apresentou aumento de nível com média de 23,5±7,0 no PRE e 29,1±3,0 no PO6, com um aumento 5,5±6,0 (t= 6,08 - p<0,001) entre os dois momentos avaliados.
Verificaram-se diferenças de médias para variação de peso (p=0,048) e para IMC (p=0,047). Foi verificado diferenças de médias de IMC nos momentos PRE e PO6 por grupos de evolução de ECAP. Nota-se que as mulheres com ECAP grave no PRE, apresentaram, em média, IMC maior no momento PRE do que as mulheres com ECAP moderado nos dois momentos de avaliação. Padrão similar foi observado no IMC do momento PO6 (Tabela 5).
Discussão
Em relação à idade, a faixa etária que apresentou compulsão alimentar de moderada a grave no período de pós-operatório foi entre 25 e 50 anos. Essa faixa etária, diverge de outros estudos relacionados a compulsão alimentar, em que mostrou-se maior prevalência compulsão alimentar em mulheres com faixa etária entre 20 e 29 anos (FRANÇA, GIGANTE, OLINTO, 2013).
Observou-se um aumento de nível significativo no comportamento alimentar em alimentação restrita, emocional e externa e, as pacientes apresentaram CA de moderada a grave após seis meses da cirurgia de abdominoplastia. É importante ressaltar que episódios de compulsão alimentar podem ocorrer em indivíduos classificados como eutróficos e com sobrepeso, porém são frequentemente no gênero feminino (TREASURE, CLAUDINO, ZUCKER, 2010).
De acordo com CARANO et al. (2012), a ingestão do alimento é controlada pelo eixo hipotalâmico e, também, pelo componente emocional, ou seja, sensações de fome, saciedade e prazer, seguidas por operações comportamentais e suas consequências como ingestão reduzida, equilibrada ou excessivo consumo de alimentos. De acordo com a “teoria lipostática” proposta por KENNEDY (1950), a diminuição imediata da gordura corporal causada pela cirurgia de lipoaspiração poderia desencadear mecanismos de feedback que favoreceriam a reposição de gordura corporal pela diminuição do gasto energético ou aumento do consumo alimentar.
De forma similar, NAHAS et al. (2011), em um estudo clínico com 12 pacientes do gênero feminino submetidas à abdominoplastia, relataram média de ganho ponderal de 6,5kg (76 a 84 meses de pós-operatório) e 4,5 kg no período de 32 a 48 meses de pós- operatório, respectivamente.
Conclusão
Atraves da realização deste trabalho, é possível concluir que mulheres submetidas à abdominoplastia apresentaram capacidade reduzida para controlar a compulsão alimentar e o ganho ponderal, seis meses após a abdominoplastia.
Referências
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Palavras Chave
Ganho de peso e abdominoplastia
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Unifesp - São Paulo - Brasil
Autores
JULIANNA STORACE DE CARVALHO AROUCA, VANESSA YURI SUZUKI, FABIO XERFAN NAHAS, LYDIA MASAKO FERREIRA, PAULO SERGIO DE SOUZA RODRIGUES