60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

RELATO DE CASO: GALACTORREIA POS MAMOPLASTIA DE AUMENTO COM IMPLANTE DE SILICONE EM PLANO SUBMUSCULAR

Resumo

A mamoplastia de aumento é uma das cirurgias mais realizadas no Brasil e no mundo. As complicações mais comuns do procedimento são infecção, seroma, hematoma, contratura capsular, assimetria, cicatrizes hipertróficas, ruptura do implante e deformidades. Galactorreia é uma rara complicação possível, apresentando mecanismos de diagnóstico através da clínica, exames laboratoriais e de imagem. O tratamento preconizado envolve o uso de bromocriptina ou cabergolina. A postergação do tratamento pode levar a diversas outras complicações como infecção, mastite e deformidade, prejudicando o resultado pós-operatório da paciente. Neste trabalho apresentamos o relato de caso de uma paciente que evoluiu com galactorreia pós mamoplastia de aumento e discutimos o manejo desta complicação.

Introdução

O Brasil apresenta a maior taxa de realização de cirurgias plásticas no mundo. Seguindo o padrão mundial, a mamoplastia de aumento é uma das cirurgias estéticas mais realizadas no Brasil, sendo considerado um procedimento seguro.1 Porém, como em todo procedimento cirúrgico, complicações podem ocorrer.2
As complicações mais importantes da mamoplastia de aumento são infecção, seroma, hematoma, contratura capsular, assimetria, cicatrizes hipertróficas, ruptura do implante e deformidades.3 A galactorreia e a galactocele são consideradas complicações raras e podem acontecer em até 0,96% das pacientes submetidas a mamoplastia de aumento4.
Galactorreia é a secreção espontânea de leite pela mama sem associação com período de amamentação.3 Galactocele é um cisto de retenção contendo leite ou substância leitosa que usualmente é encontrado nas glândulas mamárias.3
Embora existam muitas causas para galactorreia, não existe ainda consenso sobre a etiologia em pacientes submetidos a mamoplastia de aumento. 2 A pressão tecidual causada pela prótese, estresse cirúrgico e vários fatores psicossociais podem influenciar sua ocorrência.3Além disso a estimulação das terminações nervosas torácicas durante a cirurgia pode mimetizar o efeito da sucção, levando a respostas do hipotálamo e glândula pituitária que pode resultar no aumento da secreção de prolactina.3,5

Objetivo

Apresentar o relato de caso de galactorreia em uma paciente submetida a mamoplastia de aumento com implante de prótese de silicone em plano submuscular e discutir sobre o diagnóstico, tratamento e consequências desta complicação.

Método

Apresentamos relato de caso de uma paciente do sexo feminino, 43 anos, casada, 02 gestações prévias (última há 15 anos), laqueada, sem comorbidades e sem utilizar medicações de uso contínuo com queixa de mama pequena, ptose e flacidez (Figura I) com piora após as gestações e com o avanço da idade. Foi internada no serviço de cirurgia plástica do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia e submetida a mastopexia com implante de prótese de silicone (305 ml perfil alto) alocada em plano subpeitoral via incisão inframamária com cicatriz final após mastopexia em “T” invertido. Apresentou boa evolução no pós operatório (PO) imediato. No 20º PO manifestou saída de secreção esbranquiçada, leitosa, sem odor, pela ferida operatória de mama direita (Figura III), associada a mastalgia leve e flogose local, sem hiperemia, mantendo bom estado geral com ausência de febre, prostração ou outros sinais sistêmicos.
Após avaliação recebeu diagnóstico clínico de galactorreia, tendo como diagnóstico diferencial processo infeccioso. Na ocasião coletado material para cultura de secreção, solicitado ultrassonografia de mama e iniciado cabergolina 0,5 mg 2x/semana até cessação da secreção, além de amoxicilina + clavulanato. Resultado da ultrassonografia mostrou ectasia ductal simples de conteúdo homogêneo às 06 horas da mama direita medindo 1,9 x 0,4 cm e prótese mamária retromuscular bilateral. Exame de cultura da secreção com resultado negativo para bactérias e fungos.
Paciente após a 2ª dose da cabergolina (no 3º dia de tratamento) evoluiu com parada de saída de secreção e melhora completa do quadro. Não apresentou reincidência do sintoma.
Paciente atualmente em 3º mês pós operatório, satisfeita com o resultado estético da cirurgia, ao exame físico: mamas simétricas, sem sinais de contratura capsular ou qualquer outra alteração decorrente da complicação tratada (Figura II).


FIGURA I: FOTO PRÉ-OPERATÓRIA (ANTERIOR A MASTOPEXIA COM PRÓTESE)


FIGURA II: FOTO PÓS-OPERATÓRIA (POSTERIOR A MASTOEPXIA COM PRÓTESE)


FIGURA III: GALACTORRÉIA POR FERIDA OPERATÓRIA EM MAMA DIREITA

Resultado

No relato de caso apresentado o diagnóstico de galactorreia foi eminentemente clínico, com início de tratamento imediato com cabergolina. Na ocasião não foi realizada triagem endocrinológica, sendo realizado diagnóstico diferencial com processo infeccioso através da coleta de cultura de secreção. Além disso, foi solicitado ultrassonografia de mama para avaliação da prótese e para descartar formação de galactocele ou abscesso. A opção de prescrever antibioticoterapia de imediato foi devido ao fato de que a própria secreção lactífera pode servir de cultura para proliferação bacteriana. Paciente respondeu positivamente ao tratamento com 02 doses de cabergolina 0,5mg, com interrupção da saída de secreção completamente ao 3º dia de tratamento e não necessitou de novas intervenções. Atualmente encontra-se no 3º mês pós operatório sem apresentar complicações decorrentes da galactocele e satisfeita com o resultado estético da cirurgia.

Discussão

Galactorréia é uma rara complicação da mamoplastia de aumento. Entretanto, quando ocorre representa um diagnóstico desafiador visto que o quadro clínico se assemelha ao de infecção pós-operatória.2 Além disso eleva a morbidade, podendo resultar em galactocele, mastite, infecção e a longo prazo contratura capsular.3
Dentre as causas de galactorreia pós-operatória de mamoplastia de aumento, tem sido sugerido o aumento da prolactina em resposta às células lactotróficas da pituitária anterior, o que leva à produção de leite. A prolactina pode se elevar em até 5 vezes decorrente do estímulo cirúrgico. 4 Outra teoria indica que a irritação dos nervos costais pela cirurgia leva a uma supressão do eixo hipotalâmico, com diminuição da liberação da dopamina.6 Porém, foi constatado que nem todas as pacientes apresentam níveis elevados de prolactina no período pós-operatório.
Alguns fatores de risco podem ser observados, como número de gravidez prévia, história de lactação recente e uso de anticoncepcional oral.3 Rothkopf e Rosen consideram pacientes com mamilos grandes também como um fator de risco.3,7 Além disso, alguns fatores relacionados à cirurgia também são descritos por Yang e Lee, como realização de incisão periareolar e inserção de prótese em plano subglandular.5
Os sintomas de galactorreia geralmente se iniciam em média de 15 dias, podendo se manifestar após 90 dias de pós-operatório e usualmente cessa espontaneamente sem necessidade de uso de medicação. 3,4
Ascenço e Graf8 sugere que pacientes, em pós-operatório recente de mamoplastia de aumento, que apresentam saída de secreção de coloração esbranquiçada, com aspecto leitoso, exteriorizada pela ferida operatória ou por drenagem através de punção e que não apresentam sinais flogísticos nas mamas ou sinais sistêmicos de infecção, como febre, mal-estar geral e prostração, deve-se verificar a presença de secreção pela papila para avaliar se há galactorreia pelos ductos lactíferos. Se a expressão papilar for positiva, provavelmente a secreção pela ferida operatória também será galactorreia. Para investigação é recomendada avaliação endocrinológica para descartar alterações hipofisárias e realização de dosagem de gonadotrofina coriônica humana (B-HCG), para descartar gravidez. Se B-HCG for negativo, realiza-se ultrassonografia e drenagem guiada nos casos de coleções (galactocele), associadas ao uso sistêmico de inibidores da lactação. Nos casos em que a expressão papilar é negativa, a conduta é realizar ultrassonografia para descartar coleções, colher culturas da secreção para germes comuns, micobactérias e fungos e iniciar antibioticoterapia de forma empírica até a obtenção do resultado da cultura. Se a cultura for negativa, recomenda-se a dosagem de lactose da secreção para confirmação de galactorreia e seu tratamento com inibidores da lactação (cabergolina/bromocriptina) e drenagem, se necessário.3,8
A dose terapêutica da cabergolina na maioria dos casos é atingida com 1mg por semana, mas pode variar de 0,25mg a 2mg por semana. A dose inicial recomendada é de 0,5mg por semana, administrada em uma ou duas doses. A dose semanal deve ser aumentada gradualmente, adicionando 0,5mg por semana em intervalos mensais, até que a resposta terapêutica seja atingida.9

Conclusão

Galactorreia e galactocele são raras complicações das mamoplastias de aumento e são consideradas relativamente simples e tratáveis desde que diagnosticadas no período inicial. Atualmente há diversos trabalhos que propõem diretivas para o manejo, incluindo formas de diagnóstico e tratamento, com desfechos favoráveis. A postergação do tratamento pode levar a diversas outras complicações como infecção, mastite e deformidade, prejudicando o resultado pós-operatório da paciente. Portanto, cabe ao cirurgião ter o conhecimento necessário para a resolução do problema de maneira eficiente e precoce.

Referências

1. FAGUNDES, A.M. et al. Técnicas e complicações da mamoplastia de aumento: uma revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 12, n. 2, p. e19512240027-e19512240027, 3 fev. 2023.
2. GUERRA, M. et al. Galactocele After Aesthetic Breast Augmentation with Silicone Implants: An Uncommon Presentation. Aesthetic Plastic Surgery, v. 43, n. 2, p. 366–369, 19 nov. 2018.
3. ORS, S. Galactorrhea and galactocele formation after augmentation mammoplasty and augmentation mastopexy. Turk J Plast Surg, 29:28-32, 1 jan. 2021.
4. AMARAL, R. S. D. et al. Galactorreia após mamoplastia de aumento: relato de caso e revisão da literatura. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 38, p. e0736, 19 maio
5. YANG, E.-J. et al. Treatment Algorithm of Galactorrhea After Augmentation Mammoplasty. Annals of plastic surgery, v. 69, n. 3, p. 247–249, 1 set. 2012.
6. MACEDO JLS. Et al. Galactorrhea after augmentation mastoplasty. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 32(1):155-6. 2017
7. ROTHKOPF, D. M.; ROSEN, H. S. Lactation as a complication of aesthetic breast surgery successfully treated with bromocriptine. v. 43, n. 3, p. 373–375, 1 maio 1990.
8. ASCENÇO, A. S. K. et al. Galactorreia: como abordar essa complicação incomum após mamoplastia de aumento. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 31, p. 143–147, 29 maio 2023.
9. ARAÚJO, L. S. et al. Galactorreia pós-mastopexia com prótese: relato de caso. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 37, p. 374–377, 28 out. 2022.

Palavras Chave

GALACTORREIA; Implantes de silicone; complicação mamoplastia aumento

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia - Goiás - Brasil

Autores

LUIS PEDRO CARVALHO VILELA VALVERDE, THIAGO DE ALMEIDA VALLE, DANILO HIDEKI SUGITA, CELIO C. N. LEÃO, KARINNE NAARA MATOS DE BARROS, PEDRO INÁCIO DE OLIVEIRA LOPES