60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

TRATAMENTO CIRURGICO DA HIDRADENITE SUPURATIVA AXILAR: SERIE DE CASOS

Resumo

RESUMO: A hidradenite supurativa é uma condição caracterizada por lesões inflamatórias crônicas que podem evoluir para abscessos localizados ou difusos que ocasiona dor crônica e perda importante de qualidade de vida. O objetivo do estudo é relatar série de casos com variedade de retalhos possíveis para reconstrução de pacientes portadoras de hidradenite supurativa de grande extensão em região de axila. Foi realizado estudo retrospectivo dos prontuários de 3 pacientes operadas em 2022 no serviço de cirurgia plástica do IMIP/PE. Revisão de literatura realizada nos bancos de dados do PubMed e Cochrane. Foram relatados três casos com diferentes opções de retalho. Caso 1: hidradenite axilar com reconstrução retalho V-Y de avanço. Caso 2: hidradenite axilar e reconstrução com retalho fasciocutâneo torácico lateral em rotação. Caso 3: hidradenite axilar bilateral extensa com reconstrução com retalho grande dorsal bilateral. Após observada a boa evolução e em acordo com a literatura mais recente disponível sobre o tema, concluímos que a abordagem multidisciplinar e procedimentos cirúrgicos tem demonstrado eficácia no tratamento e prevenção de recorrência dessa doença.

Introdução

A hidradenite supurativa (HS) é uma infecção crônica multifatorial e frequentemente recorrente que afeta a pele e os tecidos subcutâneos, caracterizada por lesões inflamatórias e supurativas que acometem principalmente áreas intertriginosas como axila, virilha, região perineal e inframamária. A doença é de difícil tratamento clínico e pode levar a limitações funcionais significativas, principalmente quando acomete a região axilar. É classificada de acordo com o grau de acometimento, desde simples lesões inflamatórias sem comunicações até extensos abscessos com fístulas1. A cirurgia plástica tem papel fundamental que consiste em realizar procedimentos reparadores para pacientes que possuam estágios avançados da doença e que sejam refratários aos tratamentos clínicos com o objetivo de restaurar a qualidade de vida. A ressecção radical e a reconstrução com retalho são procedimentos cirúrgicos que têm demonstrado resultados promissores em pacientes com HS crônica axilar estágio III de Hurley, sendo considerados a melhor opção com menores taxas de recorrências e complicações 2,3,4,5,8. No entanto, a escolha da técnica cirúrgica adequada depende da intensidade, extensão e localização anatômica das lesões.

Objetivo

O objetivo do estudo é relatar série de casos com variedade de retalhos possíveis para reconstrução após ressecção de hidradenite supurativa de grande extensão em região de axila.

Método

Realizado estudo retrospectivo dos prontuários de 3 pacientes operadas no ano de 2022 no serviço de cirurgia plástica do IMIP/PE. Revisão de literatura realizada nos bancos de dados da PubMed e Cochrane com o uso de dos descritores: hidradenite supurativa; axila; cirurgia plástica.

Resultado

Caso 1:
V.C.S., sexo feminino, com diagnóstico de hidradenite axilar direita refratária a tratamento clínico. Queixa de mal odor, supuração frequente e dor na região. Em avaliação clínica, classificado em HS de grau III com extensão de aproximadamente 10 x 10 cm. Após discussão com paciente, optado por tratamento cirúrgico. Procedimento realizado com paciente em decúbito lateral esquerdo. Demarcada área de ressecção com margens englobando todos os orifícios fistulosos. Após ressecção de ferida, realizada marcação com avaliação de mobilidade de tecidos circunjacentes e optado por retalho em avanço do tipo V-Y fasciocutâneo torácico lateral posterior direito. Mantido antibioticoterapia com cefalexina 500mg na posologia de 1 comprimido por via oral de 6/6h por 7 dias no pós operatório. Evolução de ferida operatória com pequenas deiscências, mas sem comprometimento funcional. Mobilidade de membro superior ipsilateral preservada, mantido arco de movimento da região. Ausência de relato de dor no pós operatório. Sem evidência de recorrência após acompanhamento por 1 ano.

Caso 2:
T.H.M., sexo feminino, com diagnóstico de hidradenite axilar bilateral grau III refratária a tratamento clínico. Optado por tratamento cirúrgico em dois tempos devido a restrição do pós operatório inicial. Iniciado pelo tratamento de lesão de axila esquerda, sendo realizado ressecção de área de aproximadamente 9x7 cm em região de axila esquerda. Após ressecção de ferida, realizada marcação com avaliação de mobilidade de tecidos circunjacentes e optado por retalho de rotação fasciocutâneo torácico lateral posterior esquerda. Mantido antibioticoterapia com cefalexina 500mg na posologia de 1 comprimido via oral de 6/6h por 7 dias no pós operatório. Evolução de ferida operatória com pequenas deiscências, ocasionando discreto alargamento da cicatriz, porém paciente satisfeita com o resultado. Mobilidade de membro superior ipsilateral preservada, mantido arco de movimento da região. Ausência de relato de dor no pós operatório. Sem evidência de recorrência após acompanhamento por 1 ano.



Caso 3:
T.S.S., sexo feminino, com diagnóstico de hidradenite axilar bilateral grau III refratária a tratamento clínico. Apresentava grande extensão de área de fistulização local , com dor importante e prejuízo funcional severo. Realizado inicialmente reconstrução de axila direita com retalho grande dorsal e após recuperação de primeiro procedimento, retornou para tratamento em definitivo da axila esquerda. Devido a grande área de lesão e refratariedade, em pré-operatório foi definido como principal opção o retalho grande dorsal ipsilateral haja visto uma bom resultado prévio funcional na reconstrução da axila direita. A cirurgia foi realizada em decúbito lateral direito. Demarcada área de ressecção medindo 30,0 x 30,0 cm aproximadamente. Realizado liberação de retalho miocutâneo do músculo grande dorsal ipsilateral associado a retalho de avanço randômico torácico lateral posterior para cobertura do defeito. Mantido antibioticoterapia com cefalexina 500mg 01 comprimido por via oral de 6/6h por 7 dias no pós operatório. Evolução de ferida operatória com pequenas deiscências em ambas as cicatrizes, tanto da área doadora quando da região axilar, sem comprometimento funcional. Mobilidade de membro superior ipsilateral preservada, mantido arco de movimento da região. Ausência de relato de dor no pós operatório. Sem evidência de recorrência da doença após acompanhamento por 1 ano.

Discussão

A utilização de retalhos fasciocutâneos, como o retalho V-Y e o retalho de rotação descritos nos casos 1 e 2 respectivamente, é amplamente documentada como eficaz para a cobertura de defeitos em áreas intertriginosas, permitindo a preservação da mobilidade e função do membro afetado6. A utilização do retalho grande dorsal é variado na literatura médica, com bons exemplos na reconstrução de mama e de defeitos da parede torácica. Nos casos de hidradenite da parede torácica e região axilar, se apresenta como uma opção robusta para reconstruções extensas da região da axila, oferecendo uma solução duradoura com bons resultados estéticos e funcionais.7

A evolução pós-operatória foi favorável em todos os casos, sem evidências de recidivas após 1 ano de acompanhamento. Retalhos apresentaram bons resultados sem limitação funcional e sem dor. Quando comparado com outras técnicas cirúrgicas, a excisão extensas das lesões é a tática que obtém menores taxas de recorrência das lesões, com séries descrevendo 0-4% de recorrência8. Os relatos dos casos e a literatura são consoantes ao observar baixa taxa de recidiva da doença quando realizado excisão extensa além dos bordos das lesões ativas e essa abordagem deve ser considerada e discutida com o paciente que apresente doença de difícil controle e tratamento.

Conclusão

Os três casos apresentados destacam a eficácia do tratamento cirúrgico com a utilização de diferentes tipos de retalhos para a reconstrução de defeitos resultantes da ressecção de áreas afetadas pela HS grau III. A abordagem cirúrgica permitiu a resolução dos sintomas, preservação da função do membro superior e boa evolução da ferida operatória, contribuindo significativamente para a melhora na qualidade de vida das pacientes. Estes casos reforçam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e individualizada no manejo da HS, alinhada com as recomendações da literatura atual.

Referências

Hurley HJ. Axillary hyperhidrosis, apocrine bromhidrosis, hidradenitis suppurativa, and familial benign pemphigus: Surgical approach. In: Dermatologic Surgery, Roenigk RK, Roenigk HH (Eds), Dekker, 1989. p.729.


Taylor EM, Hamaguchi R, Kramer KM, et al. Plastic Surgical Management of Hidradenitis Suppurativa. Plast Reconstr Surg 2021; 147:479.

Alikhan A, Sayed C, Alavi A, et al. North American clinical management guidelines for hidradenitis suppurativa: A publication from the United States and Canadian Hidradenitis Suppurativa Foundations: Part I: Diagnosis, evaluation, and the use of complementary and procedural management. J Am Acad Dermatol 2019; 81:76.

Ellis LZ. Hidradenitis suppurativa: surgical and other management techniques. Dermatol Surg 2012; 38:517.

Deckers IE, Dahi Y, van der Zee HH, Prens EP. Hidradenitis suppurativa treated with wide excision and second intention healing: a meaningful local cure rate after 253 procedures. J Eur Acad Dermatol Venereol 2018; 32:459.

Silva Júnior VV, Oliveira NGS, Sousa FRS. Surgical treatment of hidradenitis suppurativa with anterior and posterior lateral thoracic fasciocutaneous flaps. Rev. Bras. Cir. Plást.2016;31(4):522-526

SURGICAL TREATMENT OF SUPURATIVE HYDRADENITIS WITH FLAP OF THE LARGE DORSAL MUSCLE: CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW Karin Silva Ferreira¹; Lucas Gouveia Ibeli1; Nathalia Cagnacci de Castro Alves¹; Diego Barão da Silva2; Matheus Bartolomei de Siqueira Corradi3; Érica Rossi Mocchetti3; Bruno Amantini Messias, TCBC-SP³.


Riddle A, Westerkam L, Feltner C, Sayed C. Current Surgical Management of Hidradenitis Suppurativa: A Systematic Review and Meta-Analysis. Dermatol Surg 2021; 47:349.

Palavras Chave

hidradenite supurativa; axila; reconstrução

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

IMIP - Pernambuco - Brasil

Autores

CAIO PORCI?NCULA TEIXEIRA BASTO, ARTHUR CESAR DE ALBUQUERQUE REGIS, PABLO ESTRELLA, DANIEL JOSE DIAS CUNHA, RUI PEREIRA