60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

SUSPENSAO DA FACE E RECONSTRUÇAO DO SULCO NASOLABIAL COM RETALHO DERMOGORDUROSO LOCAL

Resumo

As técnicas de tratamento para paralisia facial evoluíram significativamente nas últimas décadas, oferecendo uma variedade de opções para melhorar a simetria facial e a função muscular. O objetivo deste estudo é apresentar uma nova técnica de tratamento estático para a superfície do sulco nasolabial (SNL) em pacientes com paralisia crônica do nervo facial, com idade entre 40 e 80 anos, que não são candidatos à reabilitação dinâmica e apresentam apagamento do SNL. O processo de marcação cirúrgica foi iniciado determinando-se a projeção do sulco nasolabial no lado paralisado, por meio da medição do SNL no lado não paralisado. Subsequentemente, uma linha foi desenhada ao redor da asa nasal e uma segunda linha foi demarcada na região medial do sulco. Na região próxima à asa nasal, ao longo desta segunda linha, foi planejada uma entalhe. O procedimento foi realizado sob anestesia local. Neste estudo, foram realizados quatro procedimentos sem complicações. Comparativamente, os resultados demonstraram uma melhora na simetria facial, criação de um novo SNL, elevação da comissura labial ipsilateral e correção do desvio nasal. A técnica proposta é simples, reprodutível e pode ser realizada em ambiente ambulatorial.

Introdução

As técnicas de tratamento para paralisia facial evoluíram significativamente, oferecendo opções para melhorar a simetria facial e a função muscular. Estas técnicas dividem-se em estáticas e dinâmicas. Técnicas estáticas, como a estudada aqui, corrigem a assimetria facial sem restaurar o movimento muscular. Técnicas dinâmicas, como enxertos nervosos e transferências musculares, buscam restabelecer a função muscular. A escolha da técnica depende de fatores como idade, duração da paralisia, extensão da lesão e expectativas do paciente.
O objetivo principal é melhorar a qualidade de vida, proporcionando maior confiança e facilitando interações sociais. O lado afetado pela paralisia tem poucas rugas, queda do lábio e sobrancelha, e sulco nasolabial (SNL) menos pronunciado. O SNL separa a bochecha dos lábios superiores e, durante o sorriso, os lábios são puxados em direção ao sulco. Mesmo após reabilitação, a comissura labial pode permanecer assimétrica se o SNL não for reconstruído.
Técnicas estáticas, como a plicatura do SMAS e suspensão facial com materiais autógenos ou alogênicos, apresentam limitações como rejeição tecidual, necessidade de múltiplas cirurgias e relaxamento dos tecidos ao longo do tempo. Técnicas dinâmicas, como enxertos nervosos cruzados, visam restaurar a função muscular, mas são complexas e exigem longos períodos de recuperação. Nem todos os pacientes são candidatos adequados para essas técnicas.
Há uma necessidade de abordagens alternativas com menos complicações e tempos de recuperação mais curtos. A técnica estática descrita neste estudo oferece uma solução promissora para pacientes com paralisia crônica do nervo facial, criando um novo SNL e melhorando a simetria facial através de um procedimento simples, reprodutível e minimamente invasivo, melhorando a qualidade de vida sem as desvantagens de intervenções cirúrgicas complexas.

Objetivo

O objetivo deste estudo é descrever uma técnica de tratamento estático para a superfície do sulco nasolabial em pacientes com paralisia crônica do nervo facial.

Método

Este estudo, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo, descreve uma nova técnica para paralisia facial crônica em pacientes de 40 a 80 anos. Foram estudados quatro casos consecutivos na clínica de Microcirurgia e Reconstruções Complexas da Unifesp. O processo de marcação cirúrgica (IMAGEM 1) envolveu a medição do sulco nasolabial (SNL) no lado não paralisado e a criação de uma linha ao redor da asa nasal e uma segunda linha na região medial do sulco no lado paralisado. Sob anestesia local, a área demarcada foi desepidermizada e a derme foi fixada à fáscia temporal com suturas absorvíveis, aprofundando o SNL. O fechamento foi realizado conforme os planos cirúrgicos.
A avaliação incluiu fotografias antes e 6 meses após a cirurgia, usando uma câmera Nikon DSLR D3200 sob condições de iluminação padronizadas. Além disso, os pacientes relataram melhorias na respiração usando uma escala Likert de 5 pontos. Os dados foram analisados estatisticamente.
Técnica Cirúrgica: A marcação cirúrgica determinou a projeção do SNL no lado paralisado, replicando o lado não paralisado. O procedimento foi realizado sob anestesia local.
Variáveis analisadas após o procedimento:
1- Avaliação de Complicações: Complicações pós-operatórias foram monitoradas e registradas.
2- Avaliação da Simetria Facial: Fotografias padronizadas tiradas antes e 6 meses após a cirurgia foram analisadas com uma escala de simetria facial de 0 (assimetria completa) a 4 (simetria perfeita).
3- Avaliação do Sulco Nasolabial (SNL): A profundidade do SNL foi avaliada usando uma escala de 4 pontos, de 0 (ausência de SNL) a 3 (SNL profundo e bem definido).
4- Medição da Elevação da Comissura Labial: A elevação da comissura labial ipsilateral foi medida com um paquímetro digital antes e 6 meses após a cirurgia.
5- Avaliação do Desvio Nasal: O desvio nasal foi medido com software de imagem digital, calculando a diferença entre os ângulos pré e pós-operatórios.

Resultado

Quatro pacientes, dois homens e duas mulheres, com idade média de 62,5 anos (intervalo: 45-78 anos), foram submetidos à técnica cirúrgica descrita neste estudo para o tratamento da paralisia crônica do nervo facial (IMAGEM 2 e 3) O período médio de seguimento foi de 8 meses (intervalo: 6-12 meses). Não foram observadas complicações durante o período pós-operatório em nenhum dos quatro casos. Todos os pacientes tiveram uma recuperação tranquila, sem infecção, hematoma ou deiscência de ferida. A pontuação média de simetria facial melhorou significativamente de 1,25 ± 0,5 no pré-operatório para 3,5 ± 0,58 aos 6 meses pós-operatório (p < 0,001). Todos os quatro pacientes demonstraram uma melhora acentuada na simetria facial, com três pacientes alcançando uma pontuação de 4 (simetria perfeita) e um paciente alcançando uma pontuação de 3 (simetria quase perfeita). A pontuação média do SNL aumentou de 0,5 ± 0,58 no pré-operatório para 2,75 ± 0,5 aos 6 meses pós-operatório (p < 0,001). Todos os pacientes exibiram uma melhora significativa na presença e profundidade do SNL, com três pacientes alcançando uma pontuação de 3 (SNL profundo e bem definido) e um paciente alcançando uma pontuação de 2 (SNL moderado). A elevação média da comissura labial ipsilateral aumentou de 2,5 ± 0,58 mm no pré-operatório para 7,25 ± 0,96 mm aos 6 meses pós-operatório (p < 0,001). Todos os pacientes demonstraram uma melhora significativa na elevação da comissura labial, com um aumento médio de 4,75 ± 0,5 mm. O ângulo médio de desvio nasal diminuiu de 12,25 ± 2,06 graus no pré-operatório para 3,5 ± 1,29 graus aos 6 meses pós-operatório (p < 0,001). Todos os pacientes mostraram uma correção significativa do desvio nasal, com uma redução média de 8,75 ± 1,26 graus. No seguimento de 6 meses, todos os quatro pacientes relataram um alto nível de satisfação com o resultado cirúrgico. A pontuação média de satisfação do paciente, avaliada usando uma escala visual analógica de 10 pontos (0 = completamente insatisfeito; 10 = completamente satisfeito), foi de 9,25 ± 0,5. Os pacientes relataram melhorias significativas na qualidade de vida, interações sociais e autoconfiança após a cirurgia.

Discussão

A flacidez associada à paralisia facial leva à ptose dos tecidos moles devido à perda do tônus muscular e à alteração dos marcos estéticos do rosto. O sulco nasolabial (SNL) é um marco facial crucial, e seu apagamento contribui significativamente para a desfiguração resultante. Embora a transferência microcirúrgica do músculo grácil seja considerada o padrão ouro para a reanimação da comissura oral, nem todos os pacientes são candidatos ideais para a cirurgia, e muitos podem não desejar se submeter a um procedimento microcirúrgico complexo ou de músculo pediculado regional. Pacientes idosos ou com comorbidades descontroladas não são candidatos adequados para procedimentos dinâmicos. Consequentemente, técnicas estáticas são opções disponíveis para a restauração do SNL. Entre os procedimentos estáticos, o uso de tecidos autólogos, como fáscia lata e tendão palmar, para suspensão facial é amplamente adotado. No entanto, essas técnicas apresentam limitações e causam morbidade na área doadora. O uso de biomateriais, como politetrafluoroetileno, também pode ser empregado, mas com altas taxas de complicações . A técnica utilizada neste estudo tem a vantagem de ser simples, realizada sob anestesia local, e sem a necessidade de tecidos adicionais ou materiais sintéticos. A suspensão facial realizada com uma agulha reta permite a fixação do tecido do sulco nasolabial à fáscia temporal sem introduzir cicatrizes adicionais. O resumo feito na marcação gráfica, juntamente com a suspensão, permitiu uma elevação sutil da asa nasal ipsilateral, resultando em uma melhora estética e funcional respiratória ao abrir a válvula nasal externa. Como esta técnica é simples e associada a mínima morbidade, as potenciais complicações são menores em comparação com as técnicas complexas que são amplamente utilizadas. No entanto, procedimentos adicionais podem precisar ser combinados para alcançar a simetria e o tratamento abrangente da paralisia facial, como enxerto de gordura ou ritidoplastia.

Conclusão

Os resultados deste estudo demonstram que a técnica cirúrgica descrita para o tratamento da paralisia crônica do nervo facial pode alcançar excelentes resultados em termos de simetria facial, criação do sulco nasolabial, elevação da comissura labial e correção do desvio nasal. O alto nível de satisfação do paciente ressalta ainda mais a eficácia e o impacto positivo dessa técnica na vida dos indivíduos afetados. Além disso, cabe ressaltar que a cirurgia proposta é relativamente simples, reprodutível e pode ser realizada em ambiente ambulatorial.

Referências

1- Neamonitou F et al. Dynamic Surgical Restoration of Mid and Lower Facial Paralysis: A Single-Greek-Centre Experience. Cureus. 2024 Jan 16;16(1):e52387.
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6- Faris C et al. Minimal Nasolabial Incision Technique for Nasolabial Fold Modification in Patients With Facial Paralysis. JAMA Facial Plast Surg. 2018 Mar 1;20(2):148-153.
7- Fattah A et al. Facial palsy and reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2012 Feb;129(2):340e-352e.

Palavras Chave

PARALISIA DO NERVO FACIAL; CIRURGIA PLÁSTICA REPARADORA; SULCO NASOLABIAL

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA - São Paulo - Brasil

Autores

NICOLLE VICTORIA COSTA DE ANDRADE, RAFAEL SILVA ARAÚJO1, CAMILA CRISTINA VALERIO, FLÁVIA MODELLI VIANNA WAISBERG, AN WAN CHING, RONEY GONÇALVES FECHINE FEITOSA