Dados do Trabalho
Título
USO DO RETALHO MIOCUTANEO SUPRACLAVICULAR EM RECONSTRUÇAO DE CABEÇA E PESCOÇO APOS RESSECÇAO ONCOLOGICA
Resumo
Os tumores da orelha e do conduto auditivo externo são condições raras, representando menos de 0,2% dos tumores de cabeça e pescoço, mas podem apresentar desafios diagnósticos e terapêuticos significativos. o carcinoma espinocelular é o câncer mais comum dessa região, fazendo diagnóstico diferencial com o carcinoma adenoide cistico e adenocarcinoma. A reconstrução de orelha em pacientes com lesões malignas é um desafio complexo na prática da oncologia. Este artigo científico tem como objetivo relatar um caso de um paciente de 21 anos, sexo masculino, que apresentou lesão em pavilhao auricular direito. O estudo histopatológico revelou sarcoma fusoepitelioide em pavilão auricular. o paciente foi submetido a tratamento cirurgico após recidiva local com uso de retalho miocutâneo , pediculo com vasos temporais mais retalho pediculado de ombro (supraclavicular direito) para sua cirurgia reconstrutora. A reconstrução de orelha em pacientes oncológicos é uma parte essencial do tratamento global desses indivíduos. Um entendimento aprofundado das opções de reconstrução, técnicas cirúrgicas e considerações estéticas é fundamental para obter resultados satisfatórios. Com os avanços contínuos na área, espera-se que a reconstrução de orelha em oncologia continue a evoluir, melhorando a qualidade de vida e a autoestima dos pacientes afetados.
Introdução
Os tumores da orelha e do conduto auditivo podem originar-se de diferentes estruturas, incluindo a orelha externa, média e interna, bem como o conduto auditivo. Embora sejam raros, essas neoplasias podem afetar significativamente a audição, a função vestibular e a qualidade de vida dos pacientes. Uma compreensão aprofundada desses tumores é crucial para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado¹ .
A incidência exata dos tumores da orelha e do conduto auditivo varia de acordo com a localização anatômica e o tipo histológico. Dentre os tumores mais comuns estão o carcinoma espinocelular, adenoma pleomórfico e schwannoma vestibular². A idade média de diagnóstico varia amplamente, mas muitos casos são diagnosticados em adultos na faixa dos 40 a 60 anos.
Os tumores da orelha e do conduto auditivo podem ser classificados com base na sua origem tecidual e características histopatológicas. As categorias principais incluem tumores benignos (como o schwannoma vestibular e o adenoma pleomórfico) e tumores malignos (como o carcinoma espinocelular e o carcinoma de células basais). Os sintomas dos tumores da orelha e do conduto auditivo podem variar dependendo do local e tamanho do tumor. Os pacientes podem apresentar perda auditiva unilateral, zumbido, vertigem, otalgia, otorreia e até mesmo paralisia facial³ . É importante reconhecer essas manifestações clínicas para um diagnóstico precoce e um tratamento adequado.
O diagnóstico dos tumores da orelha e do conduto auditivo baseia-se em uma combinação de achados clínicos, exames de imagem e, em alguns casos, biópsia. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são as modalidades de imagem mais utilizadas para avaliar a extensão do tumor e sua relação com as estruturas adjacentes⁴ .
O tratamento dos tumores da orelha e do conduto auditivo pode envolver uma abordagem multidisciplinar, com a participação de otorrinolaringologistas, neurocirurgiões e radioterapeutas. As opções de tratamento incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia-alvo, dependendo do tipo, tamanho e estágio do tumor. A preservação da audição e da função facial é uma consideração importante na escolha da abordagem terapêutica⁵ .
Objetivo
Este artigo tem como objetivo relatar um caso clínico de um paciente do sexo masculino, com 21 anos de idade, que apresentou uma lesão no pavilhão auricular direito. O relato detalhado deste caso pretende fornecer insights sobre a apresentação clínica, diagnóstico, tratamento e desfecho de uma lesão auricular, além de destacar considerações relevantes para o manejo eficaz de casos semelhantes na prática clínica. Ao compartilhar essa experiência, buscamos contribuir para a literatura médica existente e fornecer informações valiosas que possam orientar o cuidado e o tratamento de pacientes com lesões auriculares.
Método
Este estudo adotou um desenho de relato de caso para documentar a experiência clínica de um paciente do sexo masculino, com 21 anos de idade, que apresentou sarcoma fusoepitelioide recidivado no pavilhão auricular direito. O paciente foi admitido na nossa clínica e submetido a uma avaliação clínica completa, incluindo anamnese detalhada e exame físico minucioso.
O diagnóstico inicial foi estabelecido com base na história clínica, exames físicos e resultados de exames de imagem, como ressonância magnética craniana. A confirmação histopatológica foi obtida por meio de análise de biópsia e análise imunohistoquímica.
O tratamento inicial consistiu em cirurgia para ressecção do tumor e radioterapia adjuvante. O desfecho inicial e a recorrência do sarcoma foram documentados ao longo do acompanhamento clínico. Após a detecção da recidiva tumoral, uma nova intervenção cirúrgica foi indicada, desta vez com ressecção do pavilhão auricular direito e reconstrução utilizando retalho miocutâneo em oncologia.
A escolha dessa abordagem cirúrgica foi baseada em considerações clínicas e cirúrgicas, visando maximizar a cobertura tecidual e preservar a vascularização da região reconstruída. O procedimento cirúrgico foi realizado por uma equipe multidisciplinar, incluindo oncologistas, cirurgiões plásticos e radiologistas, para garantir uma abordagem integrada e abrangente.
O acompanhamento pós-operatório foi conduzido de forma rigorosa, com avaliações clínicas regulares e exames de imagem para monitorar a evolução da reconstrução e detectar possíveis complicações ou recorrências. Os resultados do tratamento e desfechos clínicos foram documentados ao longo do período de acompanhamento.
A análise dos dados incluiu uma revisão crítica dos achados clínicos, resultados de exames e desfechos do tratamento, destacando aspectos relevantes para o manejo eficaz de pacientes com sarcomas fusoepiteliais recidivados. A colaboração multidisciplinar e a seleção criteriosa de técnicas de reconstrução foram enfatizadas como componentes essenciais para o sucesso do tratamento.
Resultado
RELATO DE CASO
O paciente I.D.P.S., um jovem de 21 anos de idade, apresentou-se à nossa clínica com uma história de sarcoma fusoepitelioide recidivado no pavilhão auricular direito (figura 1). O sarcoma fusoepitelioide é uma neoplasia rara e agressiva, caracterizada por células fusiformes com diferenciação epitelial, e sua recorrência após cirurgia e radioterapia é um desafio clínico significativo.
Após a primeira abordagem cirúrgicas e tratamento com radioterapia, houve recorrência da lesão no pavilhão auricular direito. Diante dessa recidiva, foi indicada a ressecção do pavilhão auricular em contexto oncológico para controle local da doença.
A reconstrução da área afetada foi realizada utilizando-se um retalho miocutâneo em oncologia, com a finalidade de restaurar a função e a estética da região auricular. O retalho miocutâneo foi projetado com pedículo vascular proveniente do músculo temporal direito, garantindo um suprimento sanguíneo adequado para a região reconstruída. Além disso, um retalho pediculado de ombro (figura 2) (supraclavicular direito) foi utilizado para complementar a reconstrução e garantir a cobertura adequada da área afetada.
No acompanhamento pós-operatório, uma ressonância magnética craniana realizada em 13 de abril de 2023 revelou o surgimento de uma formação tecidual em topografia da orelha externa direita, sobre o retalho miocutâneo reconstruído, medindo 2,4 x 2,8 x 2,9 cm, sugestiva de recidiva tumoral.
Uma análise imunohistoquímica realizada em 21 de março de 2023 confirmou a natureza da neoplasia como sarcoma fusoepitelioide, reforçando a agressividade e a recorrência do tumor.
Diante desse cenário desafiador, uma nova reconstrução com retalho miocutâneo foi realizada, mantendo-se o pedículo vascular proveniente do músculo temporal direito e complementando com o retalho pediculado de ombro. Essa abordagem cirúrgica foi escolhida visando a maximização da cobertura tecidual e a preservação da vascularização para promover a cicatrização adequada e minimizar o risco de complicações pós-operatórias.
O acompanhamento clínico rigoroso e a colaboração multidisciplinar entre oncologistas, cirurgiões plásticos e radiologistas são fundamentais para o manejo eficaz de pacientes com sarcomas fusoepiteliais recidivados, visando melhorar os resultados e a qualidade de vida desses pacientes.
Discussão
A reconstrução de orelha após cirurgia oncológica pode ser realizada utilizando diferentes técnicas cirúrgicas, e uma opção eficaz é o retalho miocutâneo de ombro.
Antes da cirurgia, é essencial realizar uma avaliação cuidadosa do paciente e do defeito auricular resultante da cirurgia oncológica. O retalho miocutâneo de ombro é particularmente útil quando há uma perda de tecido significativa na região auricular, incluindo o pavilhão auricular e o meato acústico externo. O planejamento pré-operatório também envolve a seleção cuidadosa do local de doação do retalho no ombro⁶ .
O retalho miocutâneo de ombro é baseado em uma área de pele e tecido subcutâneo do ombro que é transferida para reconstruir a orelha.
Antes da cirurgia, o cirurgião mar local doador no ombro, delimitando a áre pele e o padrão vascular do retalho. Também são feitas marcações no local receptor da orelha, delineando a área onde o retalho será posicionado⁷ .
Após a anestesia geral, são feitas incisões cirúrgicas tanto no local doador do ombro quanto no local receptor da orelha. No ombro, a incisão segue o padrão marcado, permitindo a dissecção cuidadosa do retalho miocutâneo. A dissecção é realizada profundamente, levantando o retalho até que a conexão vascular seja identificada⁸ .
Uma vez que o retalho miocutâneo de ombro foi completamente dissecado, ele é transferido para o local receptor da orelha. O retalho é posicionado e fixado com suturas, garantindo uma reconstrução precisa da forma auricular. O cirurgião deve ter cuidado para preservar a orientação adequada do retalho, incluindo a correta rotação e angulação⁹ .
Conclusão
Os tumores da orelha e do conduto auditivo são condições complexas que requerem uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico e tratamento adequados. A compreensão dos aspectos epidemiológicos, clínicos, de diagnóstico e terapêuticos dessas neoplasias é essencial para fornecer a melhor assistência aos pacientes afetados¹º.
Com o contínuo avanço na pesquisa e nas técnicas médicas, espera-se que a gestão desses tumores melhore, resultando em melhores resultados para os pacientes .
A reconstrução de orelha em pacientes oncológicos é uma parte essencial do tratamento global desses indivíduos. Um entendimento aprofundado das opções de reconstrução, técnicas cirúrgicas e considerações estéticas é fundamental para obter resultados satisfatórios. Com os avanços contínuos na área, espera-se que a reconstrução de orelha em oncologia continue a evoluir, melhorando a qualidade de vida e a autoestima dos pacientes afetados.
Referências
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Palavras Chave
Retalho supraclavicular; Retalho Miocutâneo; Reconstrução em oncologia
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
FUNDAÇÃO DE SAÚDE DILSON DE QUADROS GODINHO - Minas Gerais - Brasil, HOSPITAL UNIVERSITARIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - Minas Gerais - Brasil
Autores
CRISTIANO ALVES DE SOUZA, OSÍRIS JOSÉ DUTRA MARTUSCELLI, CLÁUDIO MARCELO CARDOSO