60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

EDEMA POS-OPERATORIO EM CIRURGIA PLASTICA: RELATO DE CASO SOBRE O PAPEL DA ENOXAPARINA

Resumo

O edema pós-operatório é uma complicação comum em pacientes submetidos a procedimentos de cirurgia plástica. A administração de enoxaparina para prevenção de complicações tromboembólicas é uma prática padrão nesses casos. No entanto, seu papel no desenvolvimento e manejo do edema ainda não é completamente compreendido. Apresentamos um caso de edema significativo em um paciente submetida abdominoplastia estética, discutindo a relação entre o uso de enoxaparina e o edema observado.

Introdução

A cirurgia plástica representa uma disciplina médica dedicada à melhoria da estética e funcionalidade de regiões específicas do corpo humano. Não obstante os progressos tecnológicos e as técnicas refinadas, complicações como o edema pós-operatório permanecem como uma preocupação relevante tanto para os pacientes quanto para os profissionais cirúrgicos.
O edema, condição frequentemente observada após intervenções cirúrgicas, é decorrente de diversos fatores, incluindo inflamação, trauma tecidual e alterações na circulação linfática e venosa. Destaca-se que a enoxaparina, um anticoagulante amplamente empregado na profilaxia de eventos tromboembólicos, pode influenciar no desenvolvimento do edema pós-operatório.
Este relato de caso tem como objetivo enfatizar a importância da avaliação e do manejo adequado do edema em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos plásticos, bem como identificar os momentos em que a enoxaparina se configura como fator determinante para a suspensão do medicamento.

Objetivo

O objetivo do presente trabalho é discutir a cerca das repercussões que podem ser geradas pela ENOXAPARINA e seus benefícios. Estabelecer uma discussão sobre o tratamento do edema pós-operatório e diagnósticos diferenciais.

Método

Paciente do sexo feminino, 38 anos, sem comorbidades significativas, submetida a uma abdominoplastia convencional, sem lipoaspiração, estética. Durante a internação, recebeu uma dose de enoxaparina 40 mg por via subcutânea, sendo a mesma mantida em casa por 7 dias, conforme protocolo padrão da instituição. No primeiro dia pós-operatório, o paciente apresentou um aumento do edema em parede abdominal, com mínimo desconforto associado e diminuição da mobilidade. Optado por manter a medicação e avaliações diárias. No terceiro dia de pós-operatório ocorreu uma piora significativa do edema. A avaliação clínica revelou ausência de sinais de infecção ou trombose venosa profunda. Foi realizada uma ultrassonografia abdominal que evidenciou apenas aumento do volume de tecido intersticial, sem demais alterações.
Considerando a correlação da introdução do medicamento e o concomitante aumento do edema de parede abdominal, a equipe médica decidiu interromper temporariamente a administração do medicamento.

Resultado

Medidas adicionais de manejo do edema, como elevação das pernas, manutenção do uso de compressão elástica e drenagem linfática, foram implementadas. Nos dias subsequentes, observou-se uma melhora progressiva do quadro, com redução do desconforto do paciente e recuperação da mobilidade.

Discussão

A enoxaparina é um anticoagulante de baixo peso molecular que atua inibindo a coagulação sanguínea por meio da inibição do fator Xa. Sua administração profilática visa prevenir a formação de coágulos sanguíneos, reduzindo, assim, o risco de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP) em pacientes submetidos a cirurgias.
Embora a enoxaparina seja eficaz na prevenção de complicações tromboembólicas, sua administração pode influenciar a gravidade e a duração do edema em pacientes submetidos à cirurgia plástica. O edema é uma resposta inflamatória complexa que envolve a vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e acúmulo de fluido intersticial.
Acredita-se que a enoxaparina possa contribuir para o desenvolvimento do edema por meio de diversos mecanismos. Primeiramente, ela pode influenciar a integridade da parede capilar, aumentando sua permeabilidade e facilitando o extravasamento de fluido para os tecidos circundantes. Além disso, a resposta inflamatória desencadeada pela cirurgia, combinada com a administração de enoxaparina, pode resultar em um aumento exacerbado do edema nos tecidos circundantes. Também é plausível que a enoxaparina interfira na função do sistema linfático, comprometendo a drenagem adequada do fluido intersticial e contribuindo para o acúmulo de líquido nos tecidos.
Apesar das preocupações em relação ao potencial aumento do edema associado ao uso de enoxaparina, é imprescindível ressaltar que a prevenção de complicações tromboembólicas permanece como uma prioridade em pacientes submetidos a cirurgias plásticas. Portanto, estratégias para o manejo do edema devem ser implementadas de modo a equilibrar os benefícios da profilaxia antitrombótica com a minimização do edema pós-cirúrgico.
Dentre as abordagens que podem ser consideradas, destaca-se o monitoramento regular da progressão do edema para identificar precocemente qualquer sinal de complicação. O uso de meias de compressão graduada pode contribuir para a melhora do retorno venoso e redução do edema nas extremidades inferiores, atenuando, assim, os efeitos do edema pós-cirúrgico. Incentivar os pacientes a elevar as extremidades afetadas pode facilitar o retorno do fluido intersticial e diminuir o inchaço. Além disso, a fisioterapia especializada, englobando a drenagem linfática manual e exercícios específicos, pode ser benéfica na redução do edema e promoção da recuperação pós-cirúrgica. Estas estratégias, quando adequadamente implementadas, podem contribuir significativamente para minimizar o impacto do edema pós-cirúrgico, permitindo uma recuperação mais rápida e confortável para os pacientes submetidos a cirurgias plásticas.
Neste relato de caso, enfatizamos uma possível associação entre o uso de enoxaparina e o desenvolvimento de edema pós-cirúrgico, pois a suspensão da medicação e a implementação de Estratégias de Manejo do Edema resultaram em uma melhora substancial de todos os sintomas.
É crucial que os cirurgiões plásticos estejam cientes dessa possível complicação e considerem estratégias de manejo adequadas, tais como a interrupção temporária da enoxaparina, o uso de terapias de compressão, orientação sobre movimentação ativa e drenagem linfática. Ademais, a individualização do tratamento e o acompanhamento próximo do paciente são fundamentais para garantir uma recuperação segura e eficaz.

Conclusão

O edema pós-cirúrgico continua a ser uma complicação prevalente em pacientes submetidos a procedimentos de cirurgia plástica, e o uso de enoxaparina como medida de profilaxia antitrombótica pode ter um impacto significativo em sua severidade e duração. Embora a administração de enoxaparina seja vital para prevenir complicações tromboembólicas, é crucial que os cirurgiões plásticos estejam cientes do possível efeito do medicamento no desenvolvimento do edema e adotem estratégias de manejo adequadas para atenuar seus efeitos adversos. Uma abordagem individualizada do tratamento, aliada a uma equipe multidisciplinar, é essencial para garantir uma recuperação segura e eficaz dos pacientes submetidos a cirurgias plásticas.

Este relato de caso enfatiza a importância da avaliação e tratamento do edema pós-cirúrgico em pacientes submetidos a cirurgias plásticas, especialmente quando a enoxaparina é administrada para prevenção de eventos tromboembólicos. Uma compreensão aprofundada dos potenciais efeitos da enoxaparina no edema pode orientar a prática clínica e contribuir para uma abordagem mais personalizada e eficaz no cuidado desses pacientes. Novos estudos são necessários para esclarecer completamente a relação entre o uso de enoxaparina e o desenvolvimento do edema pós-cirúrgico, visando otimizar os resultados clínicos e a segurança dos pacientes.

Referências

1. Título: O uso de enoxaparina na redução do edema pós-operatório em cirurgias de mama. Autor(es): Bertolucci, Alexandre; Metzker, Clarice Pilla; Helene Jr., Américo. Fonte: Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 25, n. 3, p. 574-578, 2010. ISSN: 1983-5175.

2. Título: An Overview of Postoperative Edema: Pathophysiology and Treatment. Autor(es): Iyengar, Vijay; Papay, Frank; Kunac, Andre. Fonte: Plastic and Reconstructive Surgery, v. 135, n. 2, p. 468e-474e, 2015.

3. Título: A Utilização da Enoxaparina no Tratamento do Edema Pós-Operatório em Cirurgia Plástica: Revisão de Literatura. Autor(es): Targa, Leonardo Vieira; Lopes, Anna Carolina Ratto Tempestini Horvath; Nogueira, Anderson de Oliveira. Fonte: Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research, v. 28, n. 2, p. 48-52, 2020.

4. Título: Utilização da enoxaparina em pacientes submetidos à abdominoplastia: ensaio clínico randomizado. Autor(es): Maciel, Gustavo Costa; Modolin, Miguel Luiz Antonio; Gemperli, Rolf. Fonte: Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 28, n. 3, p. 421-428, 2013. ISSN: 1983-5175

Palavras Chave

EDEMA; ENOXAPARINA; PÓS-OPERATÓRIO

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital das Clínicas UFMG - Minas Gerais - Brasil

Autores

ANA CÉLIA HOLLANDA CAVALCANTI GUIMARÃES, ISABELLA BRISA GONTIJO BUENO, ANDRÉ CARNEIRO ROCHA, PALOMA APARECIDA FREITAS DUARTE, GUSTAVO MOREIRA COSTA DE SOUZA, LUCAS FONSECA QUEIROZ