Dados do Trabalho
Título
USO DO BREAST V COMO FERRAMENTA NA PROGRAMAÇAO DO TRATAMENTO CIRURGICO DAS ASSIMETRIAS MAMARIAS: UMA SERIE DE CASOS
Resumo
Introdução: A assimetria mamária ocorre quando as mamas apresentam entre si irregularidade na forma, volume ou posicionamento. A falta de uma definição que utilize parâmetros objetivos é até hoje um desafio. Neste contexto, o volume mamário é um parâmetro chave na cirurgia da mama e seu conhecimento ajuda o cirurgião a selecionar protocolos, escolher tamanhos apropriados de implantes e alcançar a simetria mamária. Sendo assim, o BREAST V, aplicativo que estima o volume mamário, pode ser bastante útil. Objetivo: Avaliar a simetria mamária pré e pós-operatória pelo cálculo do volume das mamas através do aplicativo “BREAST-V” em pacientes com assimetria mamária. Métodos: Foram operadas 31 pacientes com assimetria mamária primária e foram submetidas ao cálculo do volume mamário (cc/gr) por meio do aplicativo “BREAST-V” no pré e no pós-operatório com seis meses. Resultados: No pré operatório, a média da diferença no BREAST V entre as mamas foi de 181,2 cc, enquanto no pós operatório o valor obtido foi de 28,7 cc. Conclusão: O uso do BREAST V é uma alternativa rápida, disponível e reprodutível tanto no pré quanto no pós-operatório e auxilia no planejamento do tratamento cirúrgico das assimetrias mamárias através da medida objetiva do volume mamário.
Introdução
A assimetria mamária ocorre quando as mamas apresentam entre si irregularidade na forma, volume ou posicionamento.(1) Inúmeros fatores podem influenciar nessa avaliação como peso, idade, paridade, aleitamento e biótipo, o que torna a definição da mama normal uma tarefa difícil.(2,3,4,5) Em 1986 SMITH classificou morfologicamente a assimetria mamária em seis tipos morfológicos (tabela 1).(3,6,7)
Diversas ferramentas podem ser utilizadas para o calculo do volume mamário como, dispositivos baseados em medidas geométricas, técnicas de deslocamento de água, modelos de mama e o uso de fórmulas criadas à partir de medidas lineares.(3,8,9,10) Neste contexto, se destaca o “BREAST-V”, uma fórmula preditiva matemática, que utiliza três medidas lineares para calcular o volume da mama.(9)
O cálculo do volume mamário por meio do “BREAST-V” é baseado nas medidas da fúrcula esternal até a papila mamária, do sulco inframamário até a papila mamária e do sulco inframamário até a projeção anterior do mesmo na mama. O “BREAST-V” pode fornecer dados confiáveis, previsíveis e reprodutíveis sobre o volume da mama em mamas pequenas, médias e grandes. Este novo dispositivo é disponível como aplicativo para celulares e ajuda os cirurgiões a fornecer dados importantes para melhorar o desempenho clínico e cirúrgico dos procedimentos mamários estéticos e reconstrutivos.(9)
Diferentes métodos de imagem também têm sido utilizados, como mamografia, ultrassonografia, técnicas estereofotográficas, tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética (RM). Em comparação com outras técnicas de imagem, a RNM é o método de aferição mais preciso do volume mamário.(8,10,11,12,13)
A correção cirúrgica das assimetrias mamárias é um desafio para os cirurgiões plásticos. A ausência de uma definição clara para a assimetria mamária, a heterogeneidade de formas de apresentação e a ausência de uma técnica universal para a sua correção, faz com que as condutas até hoje sejam baseadas na experiência clínica de cada profissional. A avaliação das diferenças de volume entre as mamas no pré-operatório é essencial para o planejamento da cirurgia. Já a avaliação pós-operatória do volume mamário é um parâmetro clínico objetivo fundamental para definir o sucesso cirúrgico. Como método de avaliação de volume acreditamos que o ‘BREAST-V” pode ser uma ferramenta extremamente útil e comparável a ressonância magnética, mas muito mais acessível, rápida e que não adiciona custos ao procedimento.
Objetivo
Avaliar a simetria mamária pré e pós-operatória pelo cálculo do volume das mamas através do aplicativo “BREAST-V” em pacientes com assimetria mamária.
Método
Trata-se de um estudo clínico primário, não controlado, não randômico, intervencional, prospectivo e analítico. O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, Projeto CEP/UNIFESP n: 1139/2019 (Número do Parecer: 3.817.374) e está sendo realizado no Setor de Reconstrução Mamária da Disciplina de Cirurgia Plástica do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram selecionadas 31 pacientes com idade entre 16 e 49 anos e com queixa clínica de assimetria mamária e diferença no volume estimado das mamas pelo BREAST-V.
Não foram incluídas: paciente com obesidade (IMC ≥ 30 Kg/m2), baixo peso (IMC ≤ 18,5 Kg/m2), doenças crônicas descompensadas; assimetria mamária de etiologia secundária a manipulação cirúrgica prévia das mamas; assimetria mamária de origem oncológica ou em decorrência de seu tratamento; gestantes ou lactantes.
A avaliação contará com a classificação morfológica da assimetria mamária (SMITH, 1986); avaliação clínica e documentação fotográfica.
A avaliação do volume das mamas foi realizada pelo aplicativo “BREAST-V” (que leva em consideração as medidas das distâncias entre a incisura jugular do manúbrio esternal até a papila mamária, a distância entre o sulco inframamário e a papila mamária e a distância entre o sulco inframamário e a projeção do sulco na mama em cm). Todas as medidas foram realizadas com a paciente em posição ortostática, com fita métrica milimetrada por dois examinadores distintos e realizada a média das medições para cálculo do BREAST V.
As pacientes foram orientadas sobre a melhor opção de tratamento cirúrgico, conforme o tipo morfológico de sua assimetria: podendo ser sugerido a inclusão de implante de silicone (uni ou bilateral) nas hipomastias (com volumes e projeção adaptados segundo a necessidade e preferência de cada paciente), mastoplastia redutora nas hipertrofias e/ou mastopexia nas mamas com algum grau de ptose mamária.
O tecido mamário ressecado foi enviado para o exame anatomopatológico e o seu peso mensurado no intraoperatório para anotação na ficha cadastral de cada paciente.
As pacientes foram submetidas no sexto mês de pós-operatório a nova medida dos volumes mamários pelo aplicativo “BREAST-V”.
Resultado
O procedimento cirúrgico de correção de assimetria mamária foi realizado em 31 pacientes, entre o período abril 2019 e dezembro de 2023.
A idade média foi de 26,2 anos e a média do Índice de massa corpórea (IMC) foi de 25,1 (sobrepeso).
Na avaliação pré-operatória, as pacientes foram classificadas quanto a morfologia da mama – Classificação de Smith (tabela 1). Os dados foram corroborados com a mensuração através da ferramenta BREAST V tanto no pré-operatório quando no pós-operatório tardio (tabela 2).
A média da diferença no BREAST V entre as mamas no pré-operatório foi de 181,2 cc (mínimo 18,48 cc / máximo de 452,1 cc). Enquanto no pós-operatório foi de 28,7 cc (mínimo 0 cc / máximo 131,01 cc). (tabela 3, figura 1).
Discussão
O padrão de beleza das mamas sofre influência da cultura contemporânea e dos ideais do belo, mas segue sendo particular para cada indivíduo. A simetria mamária é caracterizada pela equivalência em tamanho, forma e posição. Desta forma, mamas assimétricas são capazes de gerar influência negativa na qualidade de vida das mulheres.
A correção da assimetria mamária é um desafio para os cirurgiões pois conta com características relacionadas ao tipo morfológico da assimetria, as inúmeras técnicas disponíveis, habilidade do cirurgião bem como expectativa e desejos da paciente.
O planejamento pré-operatório é fundamental, mas carece em maneiras objetivas para tal. A quantificação e volumização através de tomografia computadorizada, ressonância magnética e fotografia 3D são alternativas, entretanto nem sempre são viáveis quanto ao custo (2) e disponibilidade. (4,5). Neste contexto, através do BREAST V é possível estimar o volume mamário de forma rápida, acessível e confiável para auxílio no planejamento cirúrgico pré-operatório e avaliação dos resultados pós operatórios.
Os resultados demonstram pacientes jovens com idade média 26,2 anos e IMC sobrepeso (IMC 25,1) o que pode influenciar na proporção glândula e gordura.
Foi observado maior prevalência de casos Smith IV que caracteriza hipertrofia bilateral assimétrica (10 casos – 32,25%), seguido de casos Smith II e V que caracterizam hipomastia bilateral assimétrica e hipertrofia unilateral com hipomastia contralateral, respectivamente, ambos com 6 casos cada – 19,35%.
Conclusão
O uso do BREAST V é uma alternativa rápida, disponível e reprodutível tanto no pré quanto no pós-operatório e auxilia no planejamento do tratamento cirúrgico das assimetrias mamárias através da medida objetiva do volume mamário.
Referências
1. Gliosci A, Presutti F. Asymmetry of the breast: Some uncommon cases. Aesthetic Plast Surg. 1994;18(4):399–403.
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3. Zawadzki T, Antoszewski B, Kasielska-Trojan A. Is Preoperative Asymmetry a Predictor of Postoperative Asymmetry in Patients Undergoing Breast Reduction? Int J Environ Res Public Health. 2023 Feb 21;20(5):3780. doi: 10.3390/ijerph20053780. PMID: 36900795; PMCID: PMC10001215.
4. Westreich M. Anthropomorphic breast measurement: protocol and results in 50 women with aesthetically perfect breasts and clinical application. Plast Reconstr Surg. 1997;100:468–79.
5. Garcia E, Neto MS, Lemos ALA, Freire M, Ferreira LM. Quality of Life and Self-Esteem after Breast Asymmetry Surgery. Aesthetic Surg J. 2007;(Supplement):616–21.
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9. Longo B, Farcomeni A, Ferri G, Campanale A, Sorotos M, Santanelli F. The BREAST-V: A unifying predictive formula for volume assessment in small, medium, and large breasts. Plast Reconstr Surg. 2013;132(1):1–7.
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Palavras Chave
BREAST-V; Assimetria mamária.
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo - Brasil
Autores
MATHEUS CARVALHO SILVA, JOSE RENATO NAHLOUS FERREIRA LEITE, ANDRÉ LUIS FERNANDES, BRUNA MARTINS PIMENTEL CAPISTRANO ALTOÉ, PAULO SERGIO DE SOUZA RODRIGUES FILHO, MIGUEL SABINO NETO