Dados do Trabalho
Título
SEROMA MAMARIO APOS TRAUMA TORACICO EM PACIENTE HIV-POSITIVO
Resumo
A cirurgia de aumento mamário com uso de implantes de silicone é um dos procedimentos mais realizados na área da cirurgia plástica. Com a crescente realização deste procedimento, tem-se também a ocorrência de diversos tipos de complicações relacionadas a ele. A ocorrência do seroma tardio é uma delas e, na sua presença, deve-se investigar a causa e dar seguimento ao tratamento de acordo com o diagnóstico estabelecido, como descrito no relato de caso a seguir.
Introdução
A cirurgia mamária com uso de próteses, estatisticamente, é um dos procedimentos mais realizados na área da cirurgia plástica, seja ela com fins estéticos ou reconstrutores. A intervenção cirúrgica ajuda a melhorar o contorno e aspecto das mamas, e embora tenha se tornado cada vez mais popular com o passar dos anos, possui riscos e complicações a curto e longo prazo¹.
No Brasil, a estimativa é que esse número atinja a faixa de 100.000 procedimentos/ano².
Com a realização cada vez maior desse tipo de procedimento, diversos tipos de complicações tem sido relacionadas ao uso de próteses. Dentre as possíveis injúrias, temos: BIA-ALCL, formação de biofilme no implante, seroma, rotação, visibilidade da borda do implante, ruptura, contratura capsular, hematoma, etc³.
Objetivo
O objetivo do trabalho foi relatar caso de seroma em região mamária em paciente HIV-positivo em pós-operatório tardio de mamoplastia de aumento, sendo investigado suas possíveis causas, incluindo BIA-ALCL.
Método
Relato de caso:
Paciente feminina, 46 anos, buscou atendimento em clínica particular referindo dor mamária após trauma de tórax.
Paciente portadora do vírus HIV, em uso de TARV, carga viral negativa, sem antecedentes pessoais e familiares de neoplasia. Histórico cirúrgico de mamoplastia de aumento em plano subglândular realizada em 2021, marca Polytech, texturizada, 250ml bilateralmente. Procedimento realizado sem intercorrências.
Em 2023, procurou atendimento por aumento mamário a direita, seguida de dor e febre após episódio de trauma tórax decorrente de queda de ônibus há 12 dias. Traz exame de USG mamário com laudo indicando ruptura de implante a direita (BIRADS 4). Ao exame clínico, apresentava-se com aumento de volume mamário a direita em relação a mama contralateral, sem sinais flogísticos e presença de assimetria de CAP prévia, presente desde a primeira cirurgia (FIG 1 - A, B e C). Indicado tratamento cirúrgico de urgência. No momento da consulta, paciente expressou o desejo de aumentar o volume dos implantes mamários.
No intraoperatório, logo após incisão cirúrgica da mama direita, observou-se drenagem de grande quantidade de líquido amarelo citrino, de aspecto seroso, proveniente da loja do implante mamário (FIG 2 – A, B e C). Realizado explante (associada a capsulectomia a direita) com presença de prótese mamária integra bilateralmente (FIG 3). Efetuada limpeza da loja mamária e inserção de novos implantes, marca Eurosilicone, volume 325ml.
Realizado coleta de líquido no intraoperatório e enviado para estudo imuno-histoquímico, com pesquisa de ALK, levando-se em conta a possibilidade de BIA-ALCL.
Resultado
O acompanhamento pós procedimento foi realizado em consultório com consultas presenciais em D5, D9 e D21 – após esse período, consultas foram espaçadas de acordo com a necessidade da paciente.
O exame imuno-histoquímico apresentou resultado negativo para malignidade, descartando a hipótese de BIA-ALCL. Exame apresentando o seguinte laudo: “Exame imuno-histoquímico de cápsula mamária representada por células inflamatórias principalmente as custas de histiócitos e granulomas epitelióides em meio a linfócitos T pequenos, não observa-se células pleomórficas ou anaplásicas imunopositivas para CD30. Tais achados favorecem o diagnóstico de processo inflamatório crônico granulomatoso”.
Não houveram complicações, paciente evoluiu com melhora dos sintomas listados e apresentou-se satisfeita com resultado estético do procedimento (FIG 4 A e B e FIG 5 A, B e C).
Discussão
O caso evidencia a importância de diferenciar as possíveis reações patológicas do organismo frente a presença de implantes mamários de silicone. Entre as opções, podemos citar a presença de seroma, hematoma, ruptura da prótese e BIA-ALCL.
De acordo com as diretrizes de diagnóstico e tratamento de BIA-ALCL, devem sem investigados através de exames de imagem e teste imuno-histoquímico os derrames em loja de prótese mamária com tempo maior que 1 ano após o implante4. O diagnóstico desafiador e é realizado aspirando o derrame ao redor do implante e confirmando a positividade para ALK1 e CD30 das células na amostra5.
No caso da paciente em questão, foi descartada a hipótese de ruptura do implante de maneira imediata, ao verificar-se de forma direta a integridade das mesmas no ato operatório. Também foi descartada a possibilidade de BIA-ALCL frente ao resultado negativo da imuno-histoquímica. O diagnóstico final foi definido como seroma pós traumático.
O fato do laudo do exame de imagem (USG de mamas) apresentar-se indicando ruptura de prótese de maneira equivocada contribuiu como viés de confusão, expondo a paciente a um procedimento cirúrgico e a todas as possíveis complicações inerentes a ele, já que o caso poderia ser conduzido de maneira conservadora na ausência desse. Levantamos a discussão sobre a importância da realização de exames de imagem operador-dependente por profissionais experientes e o ônus a que o paciente é exposto em caso de equívoco.
Conclusão
Dado ao grande número de mulheres brasileiras que fazem uso de implantes mamários, todos os cirurgiões plásticos que se propõem a realizar esse tipo de procedimento irão enfrentar algum tipo de complicação inerente ao procedimento ao longo de sua carreira.
Na paciente do caso em questão, a integridade de ambos os implantes foi constata durante o ato cirúrgico, descartando a hipótese de ruptura afirmada em laudo de exame de imagem (USG). O exame de imuno-histoquímica realizado no pós-operatório com resultado negativo para malignidade, descartando a hipótese de BIA-ALCL.
Portanto, o diagnóstico final foi definido como seroma pós-traumático.
Referências
1- BUSSE, B.; ORBAY, H.; SAHAR, D. E. Sterile acellular dermal collagen as a treatment for rippling deformity of breast. Case Rep Surg. 2014.
2- Psillakis JM, et al. Review of 1,447 Breast Augmentation Patients Using Perthese Silicone Implants. Aesth Plast Surg. 2010
3- NELIGAN, PC, Cirurgia plástica mama. 3 ed vol. 5. Rio de Janeiro: Elsevier Saunders, 2013
4- Clemens MW, Jacobsen ED, Horwitz SM. 2019 NCCN consensus guidelines on the diagnosis and treatment of breast implant-associated anaplastic largecell lymphoma (BIA-ALCL). Aesthet Surg J.2019 Jan
5- De-Azambuja AP, Groth AK, Jung J, Gevert F, Nabhan SK. Breast implant – associated anaplastic large cell lymphoma: a diagnostic challenge. Ver. Bras. Cir. Plást.2020
Palavras Chave
seroma mamário; seroma traumático; complicação mamoplastia aumento
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital Federal de Bonsucesso - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
ELIS MARINA MARTINELLI GUELFI, JOÃO CARLOS ALVES CUNHA, CARLOS ALBERTO ROSADO SILVA FILHO, ICARO MELO NOGUEIRA, LUCIANO GOSSANI TEIXEIRA OLIVEIRA, JULIA COSTA PINTO AMANDO