60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ANALISE DO PERFIL EPIDEMIOLOGICO DAS DOAÇOES DE PELE NO BANCO DE TECIDOS DA SANTA CASA DE PORTO ALEGRE NOS ULTIMOS 8 ANOS

Resumo

Introdução: A pele alógena como curativo biológico possui diversas vantagens no tratamento de queimados. O Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, pioneiro no Brasil, realiza doação de pele alógena em todo território nacional.
Objetivo: Analisar os dados estatísticos do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre nos últimos 8 anos e avaliar o impacto da COVID-19 neste período.
Método: Análise retrospectiva estatística do Banco de Pele entre 2016 e 2023.
Resultados: De 2016 a 2023 o Banco realizou 255 captações, resultando em 231.196cm² de pele captada. Destes doadores, a maioria era do sexo feminino (54.11%), com faixa etária de 50 anos ou mais e o número de descarte devido contaminações permaneceu próximo aos 35%.
Discussão: Nos últimos oito anos, é notável a diminuição de doações após o período da pandemia do COVID-19. Nos quatro anos pré-pandemia (período de 2016 a 2019) ocorreram 169 captações, período responsável por 66.8% do número total de doadores e uma média de área de pele captada de 39.999,5cm². Nos anos de 2020 até 2023, foram realizadas 86 coletas (33.2% do número total), reduzindo a média de área de pele coletada para 17.799,5cm².
Conclusão: Com impacto da COVID-19 reduzindo o número de doadores, mostra-se fundamental ampliar o conhecimento da população sobre a doação de pele para melhor produtividade do banco e benefício de um maior número de pacientes.

Introdução

O uso de aloenxerto em grandes queimados foi descrito em 1870 e o armazenamento da pele em 1930, década em que surgiram os primeiros bancos de pele¹. A pele alógena como curativo biológico proporciona controle de perdas líquidas e de calor, proteção a infecção e estímulo à cicatrização².
O Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, pioneiro no Brasil, disponibiliza pele alógena para transplante desde 2005. As primeiras doações eram oriundas de pacientes após abdominoplastias e em 2008 iniciou-se as captações em doadores cadáveres³.
Atualmente, os doadores são pacientes que sofreram morte encefálica (doadores de múltiplos órgãos) ou parada cardiorrespiratória e, no Brasil, existem apenas quatro Bancos de Pele, estes estando localizados em Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo⁴.
Devido ao período da pandemia do COVID-19, foi evidente a mudança do número de captações, sendo de suma importância a manutenção da doação por parte das famílias e o conhecimento do perfil dos doadores.

Objetivo

Analisar os dados estatísticos do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre nos últimos 8 anos (período entre 2016 e 2023) e avaliar o perfil epidemiológico dos doadores, assim como comparar a mudança do padrão dos quatros anos antecedentes a COVID-19 com os quatro anos posteriores.

Método

Análise retrospectiva das estatísticas do Banco de Pele dos anos de 2016 até 2023, cujo relatório é preenchido mensalmente como rotina, contendo dados de todas as coletas, incluindo data, gênero, idade, área de pele captada e doada, assim como local de distribuição.

Resultado

De 2016 a 2023 o Banco realizou 255 captações, resultando em 231.196cm² de pele captada e 328 lotes doados. Destes doadores, a maioria era do sexo feminino (54.11%), exemplificado no gráfico 1 em anexo. Apenas nos anos de 2017, 2018, 2020 e 2022 houve maior percentual de doadores masculinos, com uma diferença pequena para o sexo feminino (média de 1.5 doador).
A faixa etária dominante em todos os anos analisados foi de mais de 50 anos (58.64%) e a menor taxa foi do grupo inferior a 18 anos (3%). Dentro do grupo menor de 18 anos, a maioria era do sexo masculino (62.5%). O número de doadores pela faixa etária encontra-se no gráfico 2 em anexo.
A média de descarte de pele devido à contaminação neste período foi de 35,68% (total de 182 lotes), diminuindo a porcentagem de contaminação ao longo dos anos. O maior ano de contaminação foi o de 2018 (44.44%) e a maior média de contaminação nestes 8 anos foi por fungos (42,85%), que teve seu percentual aumentado gradativamente. Os bacilos Gram-negativos eram os principais contaminantes nos primeiros anos (período de 2016 até 2018), ocupando o segundo lugar de taxa de contaminação total nos anos analisado (35%). Entre outros germes contaminantes temos o Staphylococcus coagulase negativo (17,67%) e outros microorganismos (12%) conforme gráfico 3 em anexo.
Durante a captação, a pele do dorso e dos membros inferiores (coxas e pernas nos homens e apenas coxas nas mulheres) é coletada, sendo que cada doador gera dois lotes de pele (anterior e posterior). No período analisado, dos 255 doadores e 510 lotes de pele produzidos nestes oito anos, 328 lotes foram doados dentro do Brasil e para o exterior. O Banco envia a maioria das doações para outros estados do Brasil (76,50%), sendo Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo os estados para onde mais foi destinada a pele alógena. O estado do Rio Grande do Sul recebe em média 30% das captações do estado, sendo o ano de 2016 o com maior transferências dentro do estado (49%). Também o banco realiza doações para o exterior, sendo que no ano de 2019 foram transferidos 13 lotes de pele para o Peru, conforme exemplificado no gráfico número 4.

Discussão

Nos últimos oito anos, é notável a diminuição de doações a partir de 2020, período que coincide com o início da pandemia de COVID-19 no Brasil. Isso pode ser em parte atribuído à alteração dos critérios para captação no caso de pacientes com suspeita desta doença, mas a manutenção de números reduzidos após a redução de casos de COVID demonstra não se tratar de uma situação unifatorial. Nos quatro anos pré-pandemia (período de 2016 a 2019) ocorreram 169 captações, período responsável por 66.8% do número total de doadores analisados neste estudo, com uma média de área de pele captada de 39.999,5cm²/ano. Nos anos de 2020 até 2023, foram realizadas 86 coletas (33.2% do número total), sendo o ano de 2022 o com menor número de doadores (total de 17 captações), reduzindo a média de área de pele coletada para 17.799,5cm²/ano. Dados absolutos com o número de doadores, comparando os dois períodos, encontram-se no gráfico número 5.
O sexo feminino manteve-se como gênero dominante entre os doadores, ainda que o grupo menor de 18 anos seja composto majoritariamente por doadores masculinos (62.5%), diferentemente da média feminina geral.
A média de tecido contaminado descartado permaneceu próxima aos 35%, sendo o ano de 2019 o com menor taxa de contaminação (26.6%). Houve crescente contaminação de fungos, em substituição aos bacilos gram negativos e staphilococcus coagulase negativo.
A demanda de doação de pele persiste alta, de modo que todos os lotes coletados nestes oitos anos já foram enviados para doação.

Conclusão

A redução de doadores quando comparamos o período pré pandemia (2016-2019) e pós pandemia (2020-2023) nos mostra o impacto que a COVID-19 teve nas doações de pele bem como a importância de discutirmos sobre a doação de pele e o preconceito associado a ela. Desta forma buscamos ampliar o conhecimento da população e seu esclarecimento sobre esse processo com o objetivo de aumentar o número de doadores e assim , também a produtividade do banco.

Referências

1. Spence RJ, Wong L. The enhancement of wound healing with human skin allograft. Surg Clin North Am. 1997;77(3):731-45. PMID: 9194889 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0039-6109(05)70577-6
2. Lima, J. C., Magalhães, M. M., de Almeida, S. G. F., & Batista, L. E. de C. (2024). Curativos biológicos como alternativa inovadora na cicatrização de feridas . Cuadernos De Educación Y Desarrollo, 16(2 Edição Especial). https://doi.org/10.55905/cuadv16n2-ed.esp.027
3. Rech DL, Chem E, Milani AR, Minuizzi Filho ACS, Falcão TC, Ely PB. Rotina do banco de pele Dr. Roberto Corrêa Chem no processamento de pele de doador cadáver. Arq Catarin Med. 2012;41(Supl.1):123-5.
4. Anvisa: Dados brutos de produção dos Bancos de Tecidos – 2023, disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/sangue-tecidos-celulas-e-orgaos/relatorio-de-avaliacao-dos-dados-de-producao-dos-bancos-de-tecidos/producao-tecidos-2023.xlsx/view

Palavras Chave

1. Transplante; 2. Banco de Pele; 3. Alógeno

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Santa Casa de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

MARIA LUIZA DOS SANTOS, EDUARDO MAINIERI CHEM, PEDRO BINS ELY, BETINA VESCOVI, FLAVIA CRISTINA MARAFON, FRANCINE RODRIGUES PHILIPPSEN