60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

REDUZINDO COMPLICAÇOES EM LIPOASPIRAÇOES

Resumo

A lipoaspiração está entre os procedimentos estéticos mais realizados na cirurgia plástica e está sendo cada vez mais combinada a outros procedimentos. Entre as principais complicações esta a perda sanguínea, mas não há em nossa especialidade esforços direcionados à recuperação deste sangue perdido. Este trabalho avaliou a utilização de sistema de recuperação de hemácias (AUTOLOG - MEDTRONIC) em pacientes submetidos a lipoaspirações. Dez pacientes consecutivos foram submetidos a lipoaspiração associadas ou não com abdominoplastia e procedido a recuperação de hemácias. Os resultados de Ht/Hb no pós operatório de 24 horas sofreram uma redução de 4,4% frente ao coletado durante a cirurgia. As evidências sugerem uma menor perda sanguínea ampliando a segurança e a amplitude das cirurgias

Introdução

A lipoaspiração está entre os procedimentos estéticos mais realizados na cirurgia plástica e está sendo cada vez mais combinada a outros procedimentos, tornando-se cirurgias mais longas e por conseguinte com maior possibilidade de complicações (1,2)
Apresentada por Illouz, no início dos anos 1980, a técnica de lipoaspiração vem passando por uma grande transformação decorrente da associação de equipamentos vibratórios (Power assisted Lipoaspiration - PAL) , de liberação e colheita da gordura (laser OneStep) e de retração cutâneas laser (OneStep), Argoplasma , plasma de hélio (RENUVION) e radiofrequência (Bodytite) para chegar ao seu atual momento.
No Brasil, segundo dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery 4 (ISAPS) , este é o procedimento cirúrgico estético mais realizado, totalizando 231.604 (15,5%) dentre os procedimentos em 2019. No que concerne às complicações, a incidência após a lipoaspiração varia de 0% a 5 10%. Em relação à mortalidade, um estudo de 25 anos de experiência com 26.259 pacientes observou uma taxa de 0,01%. Em consonância, a ISAPS publicou uma pesquisa na qual foi relatada uma mortalidade de 19,1 para cada 100.000 lipoaspirações .
A lipoaspiração como procedimento único ou coadjuvante a outros procedimentos cosméticos estimulou sua evolução técnica da simples aspiração de gordura para uma modelagem corporal mais elaborada. Maiores áreas e volumes aspirados provocam um maior trauma cirúrgico por conseguinte demandando melhorias nos processos de segurança envolvidos.
Dentre estas atitudes, a avaliação prévia criteriosa dos pacientes é apontada como um dos pilares do sucesso do procedimento, contraindicando a lipoaspiração em pacientes com doença cardiovascular e pulmonar grave, distúrbios de coagulação graves, incluindo trombofilias, além de pacientes com diabetes e tabagismo. Pacientes portadores de anemia crônica quase sempre são desestimulados a submeterem-se a lipoaspiração devido a depleção sanguínea .
As principais complicações são a perda sanguínea direta e indiretamente (perda para o terceiro espaço). Estudo prospectivo de 30 pacientes pós cirúrgicos de lipoaspiração, dirigido por Campos em 2018 , observou-se queda de hemoglobina (Hb) entre 2 e 6g/dl, sendo a média de 3,01g/dl, correspondendo a 22,16% do hematócrito pré-operatório, em que 15 pacientes queixaram-se de sintomas como tontura, dispnéia, taquicardia e hipotensão ortostática. Vendramin et al. observaram em 16 pacientes, Hb ao final da cirurgia e na alta hospitalar, com valores de 10,4g/ dl e 8,92g/dl, respectivamente. A redução percentual da Hb entre o início e o final da cirurgia foi em média de 19,7%. Abdelaal et al afirma em seu trabalho que a perda sanguínea chega a 100-200ml por litro aspirado de acordo com seu levantamento. A técnica tumescente, equipamentos vibratórios como o Vaser/Safer e o uso do ácido tranexâmico são algumas medidas implementadas buscando uma diminuição da perda sanguínea. Porém não há em nossa especialidade esforços direcionados à recuperação deste sangue perdido.
Este trabalho avaliou a utilização de sistema de recuperação de hemácias (AUTOLOG - MEDTRONIC) em pacientes submetidos a lipoaspirações , equipamento este de uso difundido em outras especialidades médicas, porém sem literatura abordando os riscos e benefícios dessa terapia em cirurgia plástica.

Objetivo

Objetivo principal: avaliar a utilização de sistema de recuperação de hemácias (AUTOLOG- MEDTRONIC) em pacientes submetidos a lipoaspirações .

Objetivos secundarios: Avaliar o hematócrito(Ht) e hemoglobina (Hb) de pacientes submetidos cirurgia no pré operatório e no momento da alta; Discutir seus riscos x benefícios .

Método

Local do estudo: O estudo foi realizado em Recife-PE , pelo serviço de cirurgia plástica do Hospital Agamenon Magalhães- HAM . A pesquisa seguiu todos os trâmites legais determinados pela Resolução 466/2012 e suas complementares do Conselho Nacional de Saúde, com aprovação em comitê de ética CAAE: 77318823.2.0000.5197 .
Desenho do estudo: Estudo de intervenção, prospectivo.
Procedimentos técnicos: Dez pacientes consecutivos foram submetidos a lipoaspiração associadas ou não com abdominoplastia e procedido a recuperação de hemácias .Foram coletadas informações pré operatórias (altura, peso, índice de massa corporal, Hemograma pré operatório ), trans operatórias (volume total aspirado,volume processado pelo equipamento recuperador, Ht e Hb pós lipoaspiração ) . A técnica cirúrgica foi lipoaspiração tumescente com paciente submetido a anestesia por bloqueio espinhal ( peridural e sedação) com infiltração das áreas a serem aspiradas com solução de soro fisiológico a 0,9% com adrenalina 1:500.000UI na proporção de 1:1. Uso de cânulas de 3,5mm , 4mm e 4,5mm com equipamento de sucção a vácuo de 60mmHg e fluxo de 120L/min.
O volume total aspirado foi decantado por 15 minutos em coletor específico (FAGA de 2800ml) quando então foi drenado a fase infranadante contendo os elementos figurados e processado pelo equipamento AUTOLOG (Medtronic) . O volume recuperado foi então reinfundido no paciente segundo técnica de hemotransfusão.
No pós operatório de 24 horas, novo hemograma foi realizado para controle em todos os pacientes.

As informações coletadas foram planilhadas e analisadas com os softwares SPSS 29.0 (Statistical Package for the Social Sciences) para Windows e o Excel 365. Todos os testes foram aplicados com 95% de confiança; as variáveis numéricas estão representadas pelas medidas de tendência central e medidas de dispersão. A ANOVA com medidas repetidas: utilizada para comparar os momentos como fatores de comparação, seguido do teste de esfericidade de Mauchly. Foi utilizado o post hoc de Sidak para identificação pontual das diferenças dos efeitos.
Os pacientes foram mulheres sem doenças crônicas com queixas de lipodistrofia em regiões diversas do corpo. Critérios de exclusão foram: diabetes mellitus, problemas cardíacos, doenças vasculares, história de cirurgia prévia na mesma área, terapia com anticoagulante ou droga antiplaquetária e reposição com hemoderivados nos últimos 90 dias . Termo de consentimento livre e esclarecido com os potenciais benefícios e riscos foram apresentados a todas as pacientes e colhidos os seus consentimentos.

Resultado

As pacientes operadas tinham em média 44,6 anos (44,60± 7,79) com um índice de massa corporal médio de 28,45(28,45 ± 2,32) sendo realizado uma lipoaspiração com volume médio de 2020ml (2020,00 ± 922,16). As pacientes tinham hematócrito pré operatório médio de 40,73% (40,73 ± 1,89) e hemoglobina de 13,66g/dl (13,66 ± 0,61), sendo no trans operatório após a realização de lipoaspiração de 11,81 g/dl (11,81 ± 0,76) , representando uma redução média de 13,54% (tabela 1).
Foram processados e reinfundidos em média 198,5 ml (198,50 ± 136,60) de hemácias recuperadas. Os resultados de Ht/Hb no pós operatório de 24 horas foram de 33,62% (33,62 ± 3,39) e 11,29 g/dl (11,29 ± 1,15), uma redução de 4,4% frente ao coletado durante a cirurgia , representando a queda causada pela perda para o terceiro espaço contraposta à reposição realizada através da reinfusão do sangue processado pelo Autolog.
A Tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação de Spearman entre o índice de massa corporal (IMC), o peso e diferentes volumes em várias fases do processo cirúrgico. Não houve correlação estatística entre os volumes aspirados, recuperados e reinfundidos com o IMC/Peso. No transoperatório, tanto o IMC quanto o peso mostraram correlações estatisticamente significativas e negativas com o hematócrito (HT), enquanto que na hemoglobina (Hb) só houve correlação significativa (p ≤ 0,05) com o IMC. Esses resultados ressaltam a importância do controle do IMC e do peso durante o preparo cirúrgico, pois quanto maior o IMC/Peso, maior a perda sanguínea pela lipoaspiração com relevância clínica no manejo perioperatório.

Discussão

Historicamente, Highmore em 1874 tentou reinfundir o sangue perdido por pacientes obstétricas, com múltiplas tentativas até que após a segunda grande guerra, o advento dos bancos de sangue desestimularam a busca pela recuperação do sangue do próprio paciente. Somente após a década de 90, com o aumento da ocorrências de doenças transmissíveis pela hemotransfusão, novo impulso foi dado quer seja na preservação, na auto-hemotransfusão e na recuperação de hemácias transoperatórias, notadamente em cirurgias com grandes perdas sanguíneas associadas. As contra-indicações formais para a recuperação de hemácias são infecção e doença neoplásica, que já são excludentes no preparo das pacientes de cirurgia plástica estética como um todo.
No ambiente da cirurgia plástica, temos assistido no passado recente (últimos 5 anos) uma explosão nos equipamentos e refinamentos técnicos envolvidos na lipoaspiração. As lipoaspirações de definição , os enxertos gordurosos bem como o uso de tecnologias de retração cutânea e de ultrassom aumentaram consideravelmente a duração cirúrgica bem como a amplitude do procedimento, por conseguinte com maior perda sanguínea e potencial instabilidade nos pacientes.
O desenvolvimento de equipamentos de recuperação de hemácias , com capacidade de separá-las dos contaminantes (leucócitos, heparina, gordura, debris cirúrgicos) com segurança, bem como a equiparação de seus custos com a hemotransfusão heteróloga trouxe um novo horizonte em sua aplicação na lipoaspiração ao permitir recuperar o infranadante que era puramente desprezado. Quando comparamos os números obtidos, a queda de 13,54% do hematócrito decorrente do procedimento cirúrgico em nosso estudo foi consideravelmente menor que os 22,16% de Campos e os 19,7% de Vendramin. Observamos que o volume reinfundido na paciente foi de 9,82% do volume aspirado. Observamos que o volume reinfundido na paciente foi de 9,82% do volume aspirado , o que comparando com os achados de Abdelaal numa lipoaspiração.
Clinicamente não foram observadas reações transfusionais ou instabilidades no momento da reinfusão , fato este que é feito no próprio ambiente cirúrgico , sob a supervisão do anestesista, sem demandar tempo ou atenção do cirurgião. As pacientes referem ausência de tonturas, fadiga e aumento da disposição, culminando com um retorno mais precoce às suas atividades habituais.
A associação com tecnologias e/ou medicações como o ácido tranexâmico não foi avaliada no presente estudo, mas por atuar no mecanismo de recuperar o sangue “já perdido” , deveremos ter uma associação positiva no sentido de evitar grandes perdas sanguíneas e hipovolemia.

Conclusão

Em adição a outros métodos de preservação sanguíneo no manejo operatório, a recuperação de hemácias em cirurgia plástica contribui em segurança e custo x benefício frente a necessidade de hemotransfusões. As evidências sugerem uma menor perda sanguínea ampliando a segurança e a amplitude das cirurgias, bem como permitindo a grupos até então privados ou restringidos de realizar tais cirurgias (pacientes pós bariátricos ou com anemias crônicas por exemplo) a serem operados .

Referências

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Palavras Chave

Lipoaspiração; perda sanguínea; complicações pós operatórias

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Agamenon Magalhães - Pernambuco - Brasil

Autores

JOAO PAULO SIQUEIRA, LEONARDO CAMPELLO DE ALMEIDA, ADRIANO DE SOUSA COSTA, CARLOS LACERDA DE ANDRADE ALMEIDA, LUIZ FELIPE DUARTE FERNANDES VIEIRA