Dados do Trabalho

Título

ALTA PREVALENCIA DE BACILOS GRAM-NEGATIVOS EM INFECÇOES DA AREA QUEIMADA EM UM CENTRO DE REFERENCIA, NA CIDADE DE SAO PAULO.

Resumo

O paciente queimado tem risco aumentado de infecções, principalmente o desenvolvimento de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), o que aumenta a morbi-moratlidade dessa população. Foram avaliadas 136 infecções de área queimada em 121 pacientes, com 153 microrganismos isolados. Os gram-negativos correspondem a 67,3% das infecções e o Acinetobacter spp foi o principal agente etiológico isolado.

Introdução

A queimadura leva a diversas alterações fisiopatológicas locais e sistêmicas, aumentando os riscos de infecções. As IRAS são as principais causas de morbi-mortalidade em pacientes queimados. A infecção da área queimada é definida quando ocorre mudança aguda das características do ferimento em relação ao aspecto ou coloração associada à identificação de microrganismos em exame de cultura da ferida ou hemocultura. Classicamente, as infecções de pele e partes moles são causadas em sua grande maioria por gram-positivos, principalmente por Staphylococcus. (1,2,3)

Objetivo

Analisar o perfil microbiológico e sensibilidade antimicrobiana das infecções de área queimada, em pacientes queimados internados em um centro de referência.

Método

Realizado estudo retrospectivo, com inclusão de pacientes, vítimas de queimaduras com IRAS de Área Queimada, conforme os critérios do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em um Hospital Universitário em São Paulo - Brasil, internados no período de janeiro de 2015 a maio de 2024.

Resultado

A média de idade dos pacientes com infecção de área queimada foi de 41 anos, o sexo masculino foi mais prevalente (73%). O tempo médio entre a internação e a IRAS foi de 16 dias. Foram avaliadas 136 infecções em 121 pacientes, com 153 microrganismos isolados. Desses, 103 (67,3)% são bactérias gram-negativas, 39 (25,5%) bactérias gram-positivas e 11 (7,2%) fungos. Nenhuma cultura apresentou mais de 2 agentes. Entre os gram-negativos, 60 (58%) são não fermentadores: 35 (58,5)% Acinetobacter spp, 21 (35%) Pseudomonas spp, 4 (6,5%) outros. O Acinetobacter spp (35) apresentou resistência à amicacina em 35 (100%); à ciprofloxacina e à carbapenêmico em 97% dos casos, com sensibilidade à colistina em 15 (43%) dos casos. Os isolados de Pseudomonas spp (21) foram resistentes às cefalosporinas em 12 (57%) e à e à ciprofloxacina em 12 (57%) dos casos; sensíveis à amicacina em 16 (76%), à carbapenêmico em 11 (52%) e à colistina em 47,5% dos casos. Já no grupo das Enterobacterales 43 (42%), a Klebsiella pneumoniae correspondeu a 18 (42%) das culturas, Enterobacter spp 12 (28%); Escherichia coli 5 (12%), Serratia marcescens 3 (7%), Providencia spp e Proteus spp a 4,5% cada. 28 (65%) amostras foram resistentes à cefalosporinas; 23 (53,5%) resistentes à ciprofloxacina; com sensibilidade à carbapenêmico em 34 (80%), à amicacina em 33 (77%) e à colistina em 8 (18,5%) dos casos. No grupo dos fungos (11), 6 (54,5%) foram Candida não albicans, com 5 (83,5%) de casos de Candida parapsilosis, 1 (16,5%) de Candida tropicalis; 4 infecções (36,5%) por Candida albicans e 1 caso (9%) de Fusarium.

Discussão

Classicamente na literatura as infecções de pele e partes moles são causadas principalmente por Staphylococcus. (4)
O principal agente etiológico descrito até o momento em IRAS nessa população é a Pseudomonas aeruginosa. Em nosso estudo, demonstramos a alta prevalência de gram-negativos como patógenos causadores de infecções de área queimada. (5,6)
O Acinetobacter spp foi o microrganismo mais encontrado nas infecções, seguido da Pseudomonas. O Acinetobacter spp teve altíssima taxa de resistência à amicacina, ciprofloxacina e carbapenêmicos, acompanhando os estudos mais recentes encontrados na literatura. (7)

Conclusão

Os bacilos gram-negativos corresponderam à maioria das infecções de área queimada, acompanhando o perfil microbiológico hospitalar local. As Infecções por Acinetobacter spp. apresentaram elevada taxa de resistência aos carbapenêmicos e à colistina. Os outros gram-negativos apresentam taxas menores de resistência aos carbapenêmicos, podendo ser uma opção terapêutica.

Referências

(1) Norbury W, Herndon DN, Tanksley J, Jeschke MG, Finnerty CC. Infection in Burns. Surg Infect (Larchmt). 2016 Apr;17(2):250-5. doi: 10.1089/sur.2013.134. PMID: 26978531; PMCID: PMC4790211.

(2) Kiley JL, Greenhalgh DG. Infections in Burn Patients. Surg Clin North Am. 2023 Jun;103(3):427-437. doi: 10.1016/j.suc.2023.02.005. Epub 2023 Apr 4. PMID: 37149379.

(3) Carsin H, Bargues L, Stéphanazzi J, Paris A, Aubert P, Le Béver H. Réaction inflammatoire et infection chez le brûlé grave [Inflammatory reaction and infection in severe burns]. Pathol Biol (Paris). 2002 Mar;50(2):93-101. French. doi: 10.1016/s0369-8114(01)00272-3. PMID: 11933839.

(4) Lachiewicz AM, Hauck CG, Weber DJ, Cairns BA, van Duin D. Bacterial Infections After Burn Injuries: Impact of Multidrug Resistance. Clin Infect Dis. 2017 Nov 29;65(12):2130-2136. doi: 10.1093/cid/cix682. PMID: 29194526; PMCID: PMC5850038.

(5) Güldoğan CE, Kendirci M, Tikici D, Gündoğdu E, Yastı AÇ. Clinical infection in burn patients and its consequences. Ulus Travma Acil Cerrahi Derg. 2017 Nov;23(6):466-471. doi: 10.5505/tjtes.2017.16064. PMID: 29115647.

(6) Tu Y, Lineaweaver WC, Breland A, Zhang F. Fungal Infection in Burn Patents: A Review of 36 Case Reports. Ann Plast Surg. 2021 Jun 1;86(4S Suppl 4):S463-S467. doi: 10.1097/SAP.0000000000002865. PMID: 34002720.

(7) Hasannejad-Bibalan M, Jafari A, Sabati H, Goswami R, Jafaryparvar Z, Sedaghat F, Sedigh Ebrahim-Saraie H. Risk of type III secretion systems in burn patients with Pseudomonas aeruginosa wound infection: A systematic review and meta-analysis. Burns. 2021 May;47(3):538-544. doi: 10.1016/j.burns.2020.04.024. Epub 2020 May 21. PMID: 32532479.

Palavras Chave

Infecção Relacionada à Assistência à Saúde; área queimada; queimaduras.