60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

MAMOPLASTIA MASCULINIZADORA ASSOCIADA A MPFAT

Resumo

A mamoplastia masculinizadora é um procedimento fundamental no processo de identificação do gênero masculino em pacientes transsexuais, permitindo a obtenção de uma aparência mais masculina e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Nesse contexto, a lipoenxertia no músculo peitoral maior (MPFAT) tem se destacado como uma técnica cirúrgica eficaz para aumentar o volume e definir o contorno muscular, proporcionando uma aparência física mais harmoniosa e masculina. Através da lipoenxertia, é possível utilizar o próprio tecido adiposo do paciente para volumizar o músculo peitoral, criando resultados naturais e duradouros. Essa abordagem tem demonstrado ser uma opção valiosa no arsenal terapêutico para a masculinização do tórax, auxiliando na conquista dos objetivos estéticos almejados pelos pacientes transmasculinos.

Introdução

No contexto biológico, as mamas são amplamente consideradas um atributo físico associado à feminilidade na espécie humana. Devido à sua relevância sociocultural, a presença dessas características fenotípicas pode causar considerável desconforto e dificuldades nas interações sociais para indivíduos transexuais masculinos. Para abordar essa questão, a mamoplastia masculinizadora, que consiste em adenomastectomia, regularização do retalho e reconfiguração do complexo areolo-papilar, emerge como um procedimento cirúrgico crucial. Essa cirurgia desempenha um papel primordial, fundamental e, em muitos casos, o único na transição de gênero de indivíduos transmasculinos no processo de masculinização, oferecendo aos pacientes transhomem a oportunidade de alcançar uma aparência mais masculina e promovendo a aceitação pessoal e a melhoria da qualidade de vida.
Visto isso, a mamoplastia masculinizadora tem implicações significativas tanto no nível social quanto no psicológico. Ela permite aos pacientes transhomem, a possibilidade de se libertarem de uma característica física que não está alinhada com sua identidade de gênero. Ao remover as mamas e reconstruir o tórax de forma masculina, essa cirurgia contribui para a harmonização da aparência física e pode promover uma maior confiança e satisfação pessoal.
Para tanto, no processo de masculinização do tórax, a lipoenxertia no músculo peitoral maior tem sido uma técnica cirúrgica utilizada para a volumização do músculo masculino. Historicamente, a lipoenxertia tem sido amplamente empregada na cirurgia plástica para correção de volume, contorno e deficiências de tecido. No caso da masculinização do tórax, essa técnica específica tem se mostrado uma opção viável para aprimorar a aparência masculina e proporcionar uma maior definição do músculo peitoral. Ao adicionar volume através da enxertia de tecido adiposo, é possível criar uma aparência mais atlética e masculina no tórax, auxiliando no processo global de masculinização para pacientes transgêneros.

Objetivo

O objetivo do estudo foi otimizar a técnica de mamoplastia masculinizadora associando a lipoenxertia do músculo peitoral maior (MPFAT) com refinamentos técnicos dos autores, no processo de masculinização de tórax do paciente.

Método

Estudo transversal retrospectivo de 20 pacientes submetidos a mastectomias masculinizadoras (total de 40 mamas), realizadas pela técnica utilizada pelo autor, entre agosto de 2022 e maio de 2023.

Resultado

A idade média dos pacientes foi de 29 anos e 3 meses, com pesos variando entre 51 e 112 kg. Todos pacientes receberam terapia hormonal com testosterona antes da cirurgia. Todos os pacientes passaram por avaliação psicológica, endocrinológica e assistência social, conforme requisitos legais. A taxa de complicações maiores foi de 1,8%, com ocorrência de distúrbios cicatriciais, seromas e hematomas. Não foram encontradas complicações sistêmicas graves. As mamas foram enviadas para análise patológica, sem evidências de malignidade. Nenhum paciente havia passado por cirurgia de mamoplastia redutora ou mastopexia anteriormente, nem realizado a transgenitalização ou ooforectomia.

Discussão

O transexualismo masculino é um transtorno de identidade de gênero em que os indivíduos experimentam desconforto persistente devido à discordância entre seu sexo anatômico e sua identidade de gênero masculina. O tratamento da disforia de gênero envolve uma abordagem combinada, incluindo terapia hormonal, terapia cirúrgica e psicoterapia, com o objetivo de proporcionar uma vivência e aceitação social permanentes no gênero masculino. Essas intervenções têm como objetivo aliviar o desconforto psicológico e promover a harmonização com a identidade de gênero masculina.

Vários autores descreveram as técnicas de incisão mamária (dupla incisão) e periareolar para a mamoplastia masculinizadora (MM). A incisão mamária, preferencialmente utilizada em mamas de tamanho moderado a grande, permite uma remoção eficiente do tecido glandular, conforme relatado por Monstrey et al. (2008). Por outro lado, a técnica periareolar é adequada para mamas de tamanho pequeno a moderado, com boa elasticidade da pele, resultando em cicatrizes discretas, conforme descrito por Kuzon et al. (1997). No entanto, a MM em transhomens (TxH) apresenta desafios adicionais, devido ao maior volume mamário, maior flacidez e menor elasticidade da pele. A compressão mamária contínua com faixas elásticas pode comprometer ainda mais a qualidade da pele e do tecido mamário. Portanto, a escolha entre os métodos deve levar em consideração as características do paciente e as habilidades do cirurgião plástico, sendo crucial uma consulta personalizada para determinar a abordagem mais adequada, conforme sugerido por Bluebond-Langner et al. (2009).

A lipoenxertia peitoral maior tem sido amplamente utilizada como parte do processo de masculinização em pacientes TxH, juntamente com a remoção do tecido dermoglandular. Estudos de Herold et al. (2013) e Beckenstein (2015) destacaram os benefícios da lipoenxertia na obtenção de um volume muscular peitoral maior masculino e definido. Além disso, as pesquisas de Silva et al. (2017) e Hage et al. (2019) enfatizaram a importância da lipoenxertia para alcançar resultados estéticos satisfatórios, promover a autoaceitação e melhorar a qualidade de vida dos TxH. Vemos que essas abordagens proporcionam opções valiosas para a masculinização do tórax, melhoram posicição da cicatriz e corrigem desarmonia do contorno decorrentes de ressecção do tecido dermoglandular.

Conclusão

A mamoplastia masculinizadora desempenha um papel crucial no processo de masculinização, oferecendo aos pacientes transhomem a oportunidade de alcançar uma aparência mais masculina e melhorar sua qualidade de vida. Nesse contexto, a lipoenxertia no músculo peitoral maior surge como uma técnica cirúrgica eficaz para a volumização do músculo masculino, proporcionando maior definição e harmonização da aparência física.

Referências

Monstrey, S., Hoebeke, P., Dhont, M., & De Cuypere, G. (2008). Surgical techniques: chest. In S. Monstrey, M. P. Djordjevic, S. C. E. Clark, & M. O. M. Altman (Eds.), Female to Male (FtM) Transsexualism: Surgical Techniques and Outcomes (pp. 55-72). Thieme Medical Publishers.

Kuzon Jr, W. M., Rosen, H., Katz, D., & Cederna, P. (1997). Evaluation of pectoralis major muscle function after radical mastectomy and reconstruction. Plastic and Reconstructive Surgery, 100(6), 1426-1431.

Bluebond-Langner, R., Redett, R. J., & Rasko, Y. (2009). Chest surgery for transgender patients. Seminars in Plastic Surgery, 23(4), 281-288.

Herold, C., Arton, J., Tregaskiss, A., & Morrison, S. (2013). Lipoinjection for peck enlargement in female-to-male transsexuals. Journal of Plastic Surgery and Hand Surgery, 47(1), 35-38.

Beckenstein, M. S. (2015). Grafting of autologous fat to the pectoralis muscle in female-to-male transsexuals: Enhancing the male chest. Annals of Plastic Surgery, 74(5), 552-556.

da Silva, C. S., Ribeiro, L. M., & Monteiro, A. K. (2017). Lipofilling in FTM transsexual patients: Surgical technique and outcomes. Aesthetic Plastic Surgery, 41(5), 1063-1072.

Hage, J. J., de Graaf, F. H., Bloem, J. J., & Wiegerinck, J. I. (2019). Chest wall contouring in female-to-male transgender patients: A new algorithm. Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, 72(9), 1473-1479

Palavras Chave

lipoenxertia; adenomascteomia masculinizadora; transexualismo

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

HOSPITAL GERAL DE GOIÂNIA/HGG/SES - Goiás - Brasil

Autores

WHAINE MORAIS ARANTES FILHO, RENAN MIRANDA SANTANA, JOAOZINEI FRANCISCO DA ROCHA, CAROLINA GABRIELA DE FARIA, YURI KOSSA BARBOSA, BRUNO GRANIERI DE OLIVEIRA ARAÚJO