Aprender Criança 2024

Dados do Trabalho


Título

EFEITOS DE FONTE ADAPTADA EM TAREFA DE LEITURA E ATIVIDADE CORTICAL DE ADOLESCENTES COM TDAH: UM ESTUDO NEUROPSICOPEDAGOGICO PRELIMINAR

Objetivos

Avaliar o uso de fonte adaptada durante a realização de uma tarefa de leitura, mediando a relação entre o nível de habilidade de leitura e o padrão elétrico cortical no que diz respeito a TBR de sujeitos com TDAH.

Material e Método

Os protocolos deste estudo foram aprovados pelo comitê de ética da UFRJ (parecer no. 1.394.198). O tamanho da amostra foi determinado para garantir suficiência da pesquisa utilizando software de análise de poder (G ∗ Power 3.1). Definimos os seguintes parâmetros de entrada para usar uma regressão linear múltipla com alfa = 0,05, poder = 0,80, tamanho do efeito f 2 = 0,15 (médio) e 2 preditores. A especificação do tamanho da amostra resultante foi 68. Portanto, a amostra atual demonstrou ter uma probabilidade superior a 80% em detectar um efeito de tamanho médio. Os critérios de recrutamento foram: 1) idade entre 15 e 18 anos; 2) diagnosticado nos critérios do DSM-V-TR por equipe multidisciplinar; 3) sem comorbidades; 4) nenhum histórico de lesão cerebral ou condições neurológicas, como ataques epilépticos, lesões graves na cabeça ou períodos de inconsciência; 5) histórico de baixo rendimento escolar e 6) nos casos de uso de medicação não abandonar o tratamento. Participaram do presente estudo 29 adolescentes com TDAH com idade entre 15 e 18 anos (M = 16,08; DP = 1,03; 14 do sexo masculino, 15 do sexo feminino). Dos 29 adolescentes incluídos no presente estudo, 22 foram diagnosticados com uma apresentação combinada do TDAH e sete foram avaliados na apresentação desatenta, com base na avaliação multidisciplinar segundo critérios do DSM-V-TR. Para avaliação da capacidade de leitura, os participantes foram submetidos à leitura de 60 palavras (20 palavras regulares, 20 palavras irregulares e 20 pseudopalavras) em dois momentos: 1) leitura das palavras impressas em folha de papel A4, fonte arial nº 12 e após 24 horas de intervalo, 2) leitura das palavras impressas em folha de papel A4, fonte OpenDyslexic nº 12. Em ambos os momentos foi registrada a atividade eletroencefalográfica a partir de 19 eletrodos, usando um eletroencefalógrafo Neuromap® 40i (Neurotec). Os filtros de baixa e alta frequência foram ajustados em 0,5 e 30 Hz, respectivamente, e um filtro notch de 50/60 Hz foi utilizado. A frequência de amostragem foi de 240 Hz, com resolução de 16 bits. O sinal foi coletado através de 19 eletrodos colocados no sistema internacional 10/20 (FP1, FP2, F7, F8, F3, F4, T3, T4, C3, C4, T5, T6, P3, P4, O1, O2, FZ, CZ e PZ) usando uma touca Electro-Cap. Os dados contínuos de EEG foram segmentados em épocas de 1 segundo. Após uma correção de linha de base e inspeção visual de artefatos, os dados de EEG limpos foram transformados em Fast Fourier e subsequentemente transformados em ln. As estimativas do coeficiente de razão teta/beta foram calculadas usando bandas de frequência fixa (4-7,5 Hz para teta e 13,5-25 Hz para beta) nos eletrodos FZ, F7 e F8; T3, T4, T5, T6 e PZ.

Resultados

Nossos resultados mostram que no Momento 1 o tempo de leitura dos avaliados variou entre 36,72 e 76,23 segundos, com tempo médio igual a 53,24 (±11,26) segundos, já o número de palavras lidas de maneiras incorretas variou entre 1 e 6 pontos (M=3,56; DP=1,26).Quando avaliados no Momento 2, o tempo médio de leitura dos participantes sofreu redução de ±22% (M= 41,03; DP=6,87 p<0,01), com variação de tempo entre 31,35 e 60,02 segundos, em relação ao número de erros, que ficou entre 0 e 4 pontos (M=0,88; DP=1,01), nota-se portanto uma redução de ±75% (p<0,01) no número médio de palavras lidas de maneira incorreta. Quanto aos valores obtidos da TRB, obteve-se no Momento 2 as seguintes reduções: ±33% (p<0,01) para o eletrodo F7, ±31%(p<0,01) para o eletrodo F8, ±45%(p<0,01) para o eletrodo T3, ±38%(p<0,01) para o eletrodo T4, ±40%(p<0,01) em relação ao eletrodo T5 e, por fim, uma redução de ±44%(p<0,01) em relação ao eletrodo T6. Conforme apresentado, pode-se considerar que o tipo de fonte (variável independente) pode predizer significativamente o valor de TBR, o tempo e número de erros de estudantes com TDAH durante um momento de leitura. Os resultados do efeito indireto com base em 1000 amostras de bootstrap revelaram que uma relação positiva significativa do valor de TBR e o tempo e número de erros durante a leitura foram parcialmente mediados pelo tipo de fonte utilizado em cada momento. Ao parametrizarmos entre indivíduos, não houve significância estatística entre os que utilizam medicação e os que não utilizam, evidência que a variável não interferiu na amostragem.

Conclusões e implicações dos resultado

Concluímos que os resultados deste estudo mostraram melhorias significativas na velocidade e precisão da leitura do público em questão, com uma redução média de 22% no tempo de leitura e de 75% nos erros. Além disso, houve uma diminuição significativa nos valores de TBR nos eletrodos frontais e temporais, sugerindo uma menor subexcitação cortical durante a leitura com a fonte adaptada. Esses achados indicam que o uso da OpenDyslexic pode melhorar o controle inibitório e a atenção sustentada em adolescentes com TDAH. A ausência de diferenças significativas entre participantes que utilizavam medicação e aqueles que não utilizavam sugere que os benefícios da fonte adaptada são independentes do tratamento medicamentoso. Conclui-se que a adaptação de materiais de leitura pode ser uma estratégia para melhorar o desempenho acadêmico de estudantes com TDAH, e recomenda-se a implementação de fontes adaptadas no ambiente educacional, a fim de corroborar com outras fases que possam ampliar esse estudo.

Área

Neurodesenvolvimento e seus Transtornos

Categoria

Educador

Instituições

Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos Neuropsicopedagógicos - Lieenp/Censupeg - Santa Catarina - Brasil

Autores

VITOR DA SILVA LOUREIRO, FRANCIELE GIOVANELLA MOSER, SAMUEL PEREIRA DE SOUZA, ADELINA DE OLIVEIRA NOVAES, ALFRED SHOLL-FRANCO, FILIPE MENEGUELLI BONONE, FABRÍCIO BRUNO CARDOSO